EQUIPA DA ADF
Os generais em guerra no Sudão deslocaram o foco dos seus combates do centro da capital, Cartum, para Omdurman, do outro lado do Rio Nilo, numa altura em que o exército tenta quebrar as linhas de abastecimento dos seus rivais das Forças de Apoio Rápido (RSF).
As Forças Armadas do Sudão (SAF), dirigidas pelo General Abdel Fattah al-Burhan, líder de facto do Sudão, lançaram ataques aéreos e utilizaram a artilharia pesada do exército para atacar as posições das RSF na cidade. Os combatentes das RSF, liderados pelo general opositor conhecido como Hemedti, tomaram casas de civis desde o início dos combates, a 15 de Abril. Em Omdurman, os combatentes das RSF enfrentam as SAF em combates de rua e afirmaram ter abatido um jacto das SAF.
“Houve bombardeamentos muito intensos durante horas, ataques aéreos, artilharia e balas. Para nós, é a primeira vez que há ataques contínuos a este nível, vindos de todas as direcções,” Manahel Abbas, de 33 anos, residente no bairro de el-Thawra, Omdurman, disse à Al-Jazeera.
Os combates também se estenderam a Bahri, a terceira cidade de um complexo metropolitano mais vasto que inclui Cartum e Omdurman. Bahri, também conhecida como Cartum do Norte, situa-se do outro lado do Nilo, em Omdurman.
Omdurman, a cidade mais populosa do Sudão, é um importante centro de transportes. Tornou-se o foco dos combates, porque é onde as RSF estacionaram os reforços e o material proveniente das suas bases de Darfur.
“Estamos a entrar numa nova fase do conflito, que se está a transformar numa guerra pelas rotas de abastecimento,” Alan Boswell, director do projecto do Corno de África, no Grupo Internacional de Crise, disse ao The New York Times. “E Omdurman está no centro de tudo isso.”
Nos últimos meses, as RSF consolidaram o seu domínio na região de Darfur, destruindo a capital do Darfur Ocidental e matando o governador. As RSF conquistaram recentemente a capital do Darfur Central e obtiveram vitórias contra o exército em Nyala, a capital do Darfur do Sul. Recentemente, as milícias do Darfur do Sul juraram fidelidade às RSF.
Os combatentes que saíram de Darfur para se juntarem à luta na região da capital reunir-se-ão em Omdurman, o que os tornará um alvo potencial dos ataques das SAF.
“O bombardeamento teve como alvo as concentrações das RSF, que estão fortemente implantadas nesta zona, uma vez que ali existem churrascarias e lojas de chá. Estas (RSF) vêm passar o tempo a comer, por isso, o Exército tem-nos como alvo, com bombardeamentos indiscriminados,” Muhammad al-Mahi, residente do bairro Umbudda al-Hara, adjacente a Dar el-Salaam pelo lado oriental, disse à Ayin Network.
Um ataque aéreo das SAF a um mercado no bairro de Dar El Salaam, na parte ocidental de Omdurman, no início de Julho, matou 37 civis. As RSF condenaram o ataque por matar civis. Os oficiais do exército dizem que o ataque matou apenas membros das RSF.
Os residentes de Omdurman dizem que a natureza dos combates torna difícil saber qual é o lado responsável pela destruição. Ambos os lados dispõem do tipo de armas que podem destruir edifícios civis e infra-estruturas críticas, tais como linhas de abastecimento de água e electricidade.
A título de exemplo, no dia 11 de Julho, o exército enviou um drone para lançar granadas contra os membros das RSF no exterior da subestação eléctrica de Wad al-Bashir, em Omdurman. Poucos dias depois, no dia 15 de Julho, um ataque com drones das RSF contra o Hospital do Corpo Médico, um dos últimos hospitais em funcionamento em Omdurman, matou quatro pessoas e feriu mais de 20, de acordo com informações da Reuters e um comunicado do exército.
Segundo o comunicado do exército, as RSF atacaram com vários drones, violando o direito internacional que proíbe a violência contra hospitais.
De acordo com o Observatório de Conflitos do Sudão, as fotografias aéreas das estações de bombagem de El-Obeid, em Omdurman, mostram danos significativos que reduziram a capacidade das instalações para fornecer água potável aos residentes. Os combates destruíram mais de 425 edifícios na região que inclui Omdurman e Cartum.
“Os exércitos beligerantes do Sudão estão a mostrar um desrespeito imprudente pelas vidas dos civis, utilizando armas imprecisas em áreas urbanas povoadas,” Mohamed Osman, investigador da Human Rights Watch no Sudão, disse à Ayin Network.