EQUIPA da ADF
De acordo com as histórias orais transmitidas pelos griots, ou contadores de histórias, o maior rei do Reino do Benin conquistou o seu trono, utilizando poderes mágicos que um leão lhe deu por ter retirado um espinho da sua pata.
A magia tem um papel importante em qualquer narrativa da história de Ewuare, o Grande, mas ele era um homem real com feitos reais que os historiadores documentaram.
Ewuare governou o reino, no que é actualmente parte do sul da Nigéria, de 1440 a 1473. Foi o primeiro oba, ou rei, poderoso, em virtude de ter retirado a autoridade aos uzama, um grupo de chefes que era responsável pela nomeação de cada oba. Ewuare estabeleceu uma monarquia hereditária, em que o filho mais velho era o primeiro na linha de sucessão.
Ao longo da história, acreditava-se que quando os homens se tornavam obas, tornavam-se seres divinos. Embora as suas mães fossem veneradas e tivessem poderes próprios, nunca mais lhes era permitido voltar a ver os seus filhos.
Ewuare nasceu como o Príncipe Ogun, o terceiro filho do Oba Ohen. Vinte e cinco anos depois de ter subido ao trono, o seu pai ficou paralítico de ambas as pernas e foi apedrejado até à morte, porque o seu estado significava, segundo uma história, que tinha perdido os seus poderes divinos. O uzama permitiu que o filho de Ohen, Uwaifiokun, assumisse o trono. Ogun viajou para a cidade de Benin, a capital, e derrubou o seu irmão num golpe de Estado — supostamente utilizando a magia do leão. Ogun matou o irmão e incendiou grande parte da cidade no processo. Ao reconstruir a cidade que tinha destruído, Ogun adoptou o nome de Ewuare, que significa “O problema acabou.”
Ewuare entrou para a história como um conquistador, apoderando-se de cidades e vilas da região para expandir o seu império, tornando-o num dos maiores da África Ocidental. Liderou pessoalmente o seu exército em muitas das campanhas. Nas cidades que conquistou, substituiu os governantes por chefes aliados, criados no seio da sua burocracia. Uma história oral diz que ele teve 201 vitórias.
Ao expandir o seu império, introduziu uma estrutura no sistema político, melhorou o comércio e promoveu a arte, especialmente a fundição em bronze, uma assinatura do reino. Protegeu a cidade com muralhas e fossos. Diz-se que a cidade tinha nove portas e grandes avenidas, com áreas específicas para diferentes tipos de artesanato, incluindo o marfim e a escultura em madeira. Convidou artesãos para irem viver para a sua cidade.
Os arqueólogos estimam agora que havia 15 quilómetros de muralhas à volta da cidade e um sistema de 16.000 quilómetros de valas espalhadas pelo reino, talvez marcando os territórios de aldeias e cidades individuais.
Ewuare estabeleceu um governo de Eghabho n’ore, ou chefes de cidade, e Eghabho n’ogbe, ou chefes de palácio. Os seus chefes dependiam directamente dele e eram responsáveis pela resolução de questões jurídicas e pela cobrança de tributos. Incentivou os membros de famílias nobres a trabalharem no seu palácio a troco de salários simbólicos, como forma de aprenderem a tornar-se administradores.
Ewuare enviou o seu filho mais velho, Kuoboyuwa, para governar uma parte do reino conhecida como Iken, e enviou o seu segundo filho, Ezuwarha, para governar uma outra região chamada Iyowa. Os irmãos tornaram-se rivais e acabaram por se envenenar um ao outro. Diz-se que Ewuare ficou perturbado com a perda dos seus filhos e promulgou uma lei que proibia o sexo no reino durante três anos. Isso levou muitos membros do seu reino a emigrarem para outras áreas. Acabou por anular a sua própria lei.
A história recorda-o agora como Ewuare, o Grande, e o seu maior legado é a tradição das fundições em bronze e outras artes. Talvez as suas obras de arte mais conhecidas sejam os bustos de bronze — na verdade, de latão — que cada oba encomendou ao seu antecessor antes de assumir o trono. Ewuare iniciou essa tradição e é também conhecido como Ewuare, o Rei do Bronze.
Pouco se sabe sobre a forma como Ewuare morreu. O seu primeiro filho foi assassinado e outro filho governou o reino durante um curto período antes de ser derrubado pelo uzama. O seu terceiro filho, Ozolua, tornou-se oba por volta de 1483 e governou até 1514.
O reino perdurou cerca de 400 anos, incluindo a primeira visita de exploradores europeus, em 1485. Teve períodos de negligência e de má governação, mas recuperou sempre até 1899, altura em que entrou em colapso sob o peso da agressão britânica. Nesse colapso, os saqueadores europeus roubaram grande parte das obras de arte do reino, incluindo os bustos de bronze dos seus obas. Essa obra de arte está actualmente exposta em museus de todo o mundo.
Actualmente, existe um movimento para devolver as obras de arte à Nigéria. Muitos, se não a maioria, dos museus dizem que vão cooperar para que as peças de valor inestimável possam ser expostas nos museus nigerianos.