EQUIPA DA ADF
Existe uma crise de fome cada vez pior na Nigéria, e a pandemia da COVID-19 apenas veio piorá-la.
É por isso que a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) lançou um Desafio de Segurança Alimentar da COVID-19, no dia 12 de Abril.
A iniciativa irá conceder 3 milhões de dólares em financiamento e assistência técnica a duas categorias de empresas que já estão a trabalhar com produção, processamento ou distribuição de alimentos: empresas lideradas por jovens (com até 29 anos de idade) e empresas em estágio intermediário com pelo menos 1.000 clientes.
A ideia por detrás do desafio é apoiar os inovadores na luta contra a insegurança alimentar, disse a Directora da Missão da USAID, Anne Patterson, num comunicado.
“A assistência encoraja as soluções do sector privado para reforçar a produção e o processamento de alimentos e a criação de ligações ao longo da cadeia de valores agrícola de uma forma sustentável em toda a Nigéria,” disse.
O desafio, que recebe as candidaturas até ao dia 9 de Maio, irá conceder a cerca de 15 a 25 empresas lideradas por jovens um valor de 75.000 dólares cada e irá premiar 10 a 15 empresas em estágio intermediário com a soma de até 150.000 cada, para expandir de forma rápida as suas operações, ajudar a mitigar os efeitos da COVID-19 sobre a cadeia de distribuição de alimentos na Nigéria e reforçar a resiliência dos agregados familiares vulneráveis.
“A pandemia interrompeu de forma significativa a cadeia de valores já fragilizada do país, incluindo a capacidade das pessoas de produzirem, processarem e distribuírem alimentos,” disse a USAID. “A paralisação da produtividade agrícola e dos mercados tem um impacto negativo e devastador sobre os meios de subsistência, especialmente entre os agregados familiares mais vulneráveis.”
Sendo o país com o maior número de habitantes em África, a Nigéria também é o país com a maior economia do continente. Mas cerca de 40% dos mais de 206 milhões de nigerianos vivem na pobreza, condição que dá origem à existência de jovens desiludidos, possibilitando o seu recrutamento pelas organizações extremistas islâmicas.
“Agregados familiares da região do nordeste, que foi severamente afectada pelo conflito com o Boko Haram, continuam a envolver-se em actividades de subsistência limitadas, são na essência dependentes dos produtos alimentares oferecidos pela ajuda humanitária e possuem oportunidades limitadas de geração de renda,” de acordo com o relatório sobre o ponto de situação, do mês de Fevereiro, da Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome da USAID.
“Os agregados familiares, principalmente em certas partes do Estado de Borno, que continuam em zonas inacessíveis aos actores das instituições humanitárias e consomem alimentos silvestres com pouco ou quase nenhum armazenamento, estão a enfrentar uma grande escassez de produtos de consumo e estão num estado [de emergência de segurança alimentar].”
Em Outubro de 2020, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura e o seu Programa Mundial de Alimentação emitiram o seu maior alerta para a acção humanitária urgente no norte da Nigéria devido ao risco de fome. Os grupos alertaram que 13 milhões de pessoas podiam enfrentar a insegurança alimentar mais tarde, neste Verão, caso não se aumente a comida e o apoio.
Num estudo publicado no dia 10 de Março no African Development Review, dois professores de ciências sociais da Universidade Obafemi Awolowo, em Ile-Ife, na Nigéria, avaliaram a situação da segurança alimentar dos agregados familiares do seu país durante a pandemia.
“As estatísticas demonstraram que apenas 12% das famílias estavam numa situação de segurança alimentar, 5% estavam ligeiramente em insegurança alimentar, 24,5% estavam moderadamente em insegurança alimentar e mais de metade dos agregados familiares (58,5%) experimentavam insegurança alimentar grave,” escreveram Cleopatra Oluseye Ibukun e Abayomi Ayinla Adebayo.
“O governo nigeriano e as agências de desenvolvimento precisam de fornecer mais apoio ou concessões para os agregados familiares (em particular para aqueles que possuem um estatuto socioeconómico baixo) de modo a minimizar o choque e ajudar na recuperação da insegurança alimentar dos agregados familiares durante e apôs a COVID-19.”
O Desafio da Segurança Alimentar (Food Security Challenge), um programa da USAID, pretende fazer parte da solução.