EQUIPA DA ADF
Os EUA estão a caminho de retirar as suas forças do território do Níger mais de um mês antes do previsto. A partida, que começou com uma exigência televisiva da junta governativa do Níger em Março e a assinatura dos termos de retirada a 19 de Maio, está a terminar com uma estreita cooperação entre os dois países e algum optimismo em relação a futuras parcerias.
O Major-General Kenneth Ekman, Chefe do Elemento de Coordenação da África Ocidental, do Departamento de Defesa dos EUA, Comando dos EUA para África, afirmou que as duas partes se basearam numa relação de trabalho de quase duas décadas para garantir um processo harmonioso.
“Porque os conhecemos, pudemos basear-nos nisso. Isso incluiu sessões bilaterais diárias e semanais,” Ekman disse à ADF. “Concordámos desde o início que, se conduzíssemos uma retirada segura, ordenada e responsável, estaríamos a preservar opções estratégicas para ambas os países em termos de como a relação de segurança pode vir a ser no futuro.”
Em 2013, os dois países assinaram um acordo de estatuto de forças que permitiu aos EUA posicionarem aeronaves tripuladas e não tripuladas no país, principalmente para monitorizar extremistas. Nos últimos anos, os EUA tinham cerca de 1.000 soldados e civis no Níger, apoiando operações na Base Aérea 101 em Niamey e na Base Aérea 201 perto de Agadez.
Os EUA efectuaram mais de 150 voos de transporte aéreo C-17, com início a 8 de Junho, para retirar o seu pessoal do país. As últimas tropas partiram da BA 101 a 7 de Julho, num evento que incluiu a entrega do complexo dos EUA e do restante material da base aérea às Forças Armadas do Níger. Os restantes cerca de 350 efectivos saíram da BA 201 em Agadez a 5 de Agosto, e os activos dos EUA foram entregues.
As tarefas remanescentes incluem o transporte comercial terrestre do equipamento de Niamey e Agadez para fora do país e a entrega de uma pequena instalação em Diffa.
A maior parte das tropas americanas regressará às suas bases de origem em todo o mundo, enquanto algumas pequenas equipas de forças americanas serão posicionadas para apoiar as forças armadas da África Ocidental. Ekman disse que as equipas de operações especiais trabalharão com as forças parceiras na região e que outros especialistas em recuperação de pessoal, evacuação de feridos e informações, reconhecimento e vigilância serão posicionados conforme as necessidades.
Enfatizou que o compromisso dos EUA em apoiar os seus parceiros na luta contra grupos extremistas do Sahel continua a ser o mesmo. “Os nossos objectivos de segurança na África Ocidental não mudaram,” disse Ekman. “Apenas perdemos algum do nosso acesso e passámos de uma abordagem de dentro para fora relativamente ao extremismo violento no Sahel para uma abordagem de fora para dentro.”
A cooperação futura e o reposicionamento das forças basear-se-ão nos pedidos das nações parceiras e nas prioridades políticas dos EUA. “Estamos a ter uma conversa muito aprofundada com os parceiros sobre a melhor forma de satisfazer as suas necessidades de segurança a curto prazo, utilizando o que transferimos do Níger para os seus respectivos países,” disse Ekman.
A colaboração entre as duas nações foi muitas vezes bem-sucedida. O Níger registou uma queda de 80% nas mortes relacionadas com o terrorismo em 2022. Durante o mesmo ano, outros países do Sahel registaram um aumento acentuado de ataques. No entanto, após um golpe de Estado, em Julho de 2023, os EUA reduziram as operações no Níger e suspenderam a maior parte da assistência militar, tal como previsto na lei americana. Em Março de 2024, o Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP), no poder no Níger, anunciou a suspensão da parceria de segurança e solicitou que as forças americanas abandonassem o país.
Os observadores manifestaram a sua preocupação quanto ao que a retirada das forças americanas significará para o Sahel, onde grupos extremistas ligados à al-Qaeda e ao grupo do Estado Islâmico desencadeiam ataques sem tréguas e estão a tentar expandir o seu alcance para as nações costeiras, a fim de recrutar novos membros, realizar ataques e ocupar território. O Sahel é a região mais afectada pelo terrorismo no mundo, representando 43% das mortes por terrorismo a nível mundial, de acordo com o Índice Global de Terrorismo.
Ekman disse que, quando viaja pela região, ouve profundas preocupações sobre os desafios de segurança e uma vontade de estabelecer parcerias com os EUA de forma mutuamente benéfica.
“Trata-se, na verdade, de acertar nas parcerias, na pegada e nos programas para melhor se adaptarem ao contexto de cada parceiro regional,” disse Ekman.