EQUIPA DA ADF
A Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) da China prometeu grandes investimentos em portos de todo o mundo. Contudo, os custos ambientais e humanos destes projectos só agora começam a ser compreendidos, segundo os relatórios.
Os portos construídos pela China em Angola, Camarões, Costa do Marfim, Djibouti, Mauritânia e Moçambique tornaram-se exemplos de como esses projectos podem perturbar os ecossistemas aquáticos e as comunidades locais de pescadores artesanais, de acordo com um relatório liderado pelo Centro de Política de Desenvolvimento Global da Universidade de Boston.
Os países da costa atlântica de África — particularmente Angola, Camarões e Costa do Marfim — enfrentam o maior risco para as suas comunidades piscatórias locais devido aos projectos portuários. As comunidades de pesca artesanal dos Camarões lideram a lista, segundo os investigadores.
A construção do porto de Kribi, nos Camarões, financiado pela China, destruiu uma zona de praia popular, juntamente com a comunidade de Lolabe, lançando a população local e o ambiente numa situação de desordem.
Os planeadores podem evitar criar conflitos com as comunidades de pescadores artesanais, assegurando que esses residentes sejam incluídos no desenvolvimento de projectos portuários. Isso pode garantir que, depois, essas comunidades fiquem melhor, ou pelo menos não pior, disse Rebecca Ray, uma investigadora sénior que trabalhou no relatório.
“Os portos são o sector de maior risco na construção costeira, devido às muitas vias possíveis para os impactos ambientais e sociais: para além do ruído, da luz e da perturbação do habitat provocada pela própria construção, também trazem o potencial para mudanças significativas nos ecossistemas locais, através da introdução de espécies invasoras que “apanham boleia” nos navios que chegam, e o esgotamento das unidades populacionais de peixe locais devido às novas frotas pesqueiras que podem vir a utilizar o porto,” disse Ray à Voz da América.
O Porto da Amizade de Nouakchott, da Mauritânia, da década de 1980, que foi modernizado como parte da BRI, em 2018, foi alvo de críticas das comunidades locais por trazer frotas de pesca chinesas que sobrecarregaram as equipas de pesca artesanal locais e prejudicaram o meio ambiente, de acordo com Ray.
Em Angola e Moçambique, mais de 2.000 quilómetros quadrados de habitats marinhos estão em risco elevado devido ao desenvolvimento portuário.
A renovação e a expansão do Porto de Pesca da Beira, em Moçambique, pôs em risco o ambiente marinho circundante num raio de 10 quilómetros, tornando-o um dos projectos mais prejudiciais no relatório do Centro de Políticas de Desenvolvimento Global.
A redução do impacto ambiental e social dos projectos portuários exige que os países imponham maiores salvaguardas e estabeleçam normas mais estritas.
“É importante que fique claro que todos os planeadores e financiadores, independentemente da sua nacionalidade, devem ter cuidado com os recursos naturais que sustentam as comunidades tradicionais e as economias costeiras como um todo,” disse Ray à ADF.