EQUIPA DA ADF
Quando se trata de movimentar pessoas e materiais em África, a enorme dimensão do continente e o seu número limitado de estradas principais e vias férreas implicam que os exércitos, muitas vezes, têm de usar o transporte aéreo.
Mas os países africanos diferem muito nas suas capacidades de transporte aéreo, a idade e a origem do seu equipamento e as suas políticas para o uso desse equipamento, de acordo com um novo relatório da Rand Corp., “Strategic Airlift in Africa.” A falta de bases de operação avançadas e de um sistema hub-and-spoke (centro distribuidor de voos) faz com que este desafio seja ainda maior.
“Este é o cerne do problema,” Ben Caves, um pesquisador da Rand, disse à ADF. “Esta situação só vai piorar. Existe uma carência crónica de meios aéreos. O transporte aéreo é a opção principal, porque a planificação, muitas vezes, não é perfeita e a partilha de informação também não é perfeita.”
Com efeito, cada operação de transporte aéreo é uma missão única de ponto a ponto. Um sistema de hub-and-spoke permitiria que os transportes aéreos fossem para um único destino com voos de curta distância, camiões ou vias férreas que distribuem a nível regional a partir daquele ponto. Um sistema desta natureza permitiria que os países sem capacidades de meios aéreos trabalhassem com aqueles que os tenham para partilhar os recursos em toda uma região, disse Caves.
Quando empregues de forma adequada, os meios aéreos podem ser uma força multiplicadora durante os períodos de emergência. A África Subsaariana, contudo, “representa um vazio evidente onde esta capacidade ainda não é adequadamente confiável,” Major da Força Aérea Americana, Ryan McCaughan, escreveu na sua análise dos desafios em meios aéreos em África. O artigo foi publicado em 2019 no Journal of European, Middle Eastern, and African Affairs, da Força Aérea Americana.
“Enquanto em locais estratégicos costeiros, como Djibouti e Senegal, existem infra-estruturas adequadas, [as mesmas] são surpreendentemente insuficientes nos aproximadamente 45 países que compreendem a África Subsaariana,” escreveu McCaughan.
Caves considera uma solução: a partilha de recursos em linhas regionais. Unir países com preocupações e objectivos semelhantes ajudaria a criar maior cooperação em meios aéreos, entre outras preocupações, disse.
A longo prazo, isso pode também incluir a aquisição de aeronaves. Uma maior coordenação na aquisição implicaria equipamento utilizado em comum, melhor formação cruzada em vários equipamentos e melhor cooperação em missões regionais. Tudo isso faria com que as operações fossem mais eficientes, disse Caves.
Ao longo do continente, por exemplo, os países operam mais de 100 aeronaves de transporte de carga C-130, de fabrico americano, transporte aéreo capaz de fornecer o tipo de transporte necessário para operações de manutenção de paz, operações de combate à pirataria no Golfo da Guiné ou distribuição de vacinas contra a COVID-19 para longas distâncias. Cerca de metade destas encontram-se em países da África Subsaariana.
As aeronaves não estão nem sequer distribuídas de forma equitativa, variando de 26, no Egipto, para uma, no Gabão. Nem estão funcionais ao mesmo tempo, devido à diferença nos horários de manutenção.
Para coordenar as operações de transporte aéreo, a União Africana (UA) criou um Centro de Coordenação de Movimentação Continental. O centro supervisiona os meios aéreos cedidos como contribuição das comunidades económicas regionais do continente assim como contratos de curto prazo de meios aéreos, meios marítimos comerciais e meios de movimentação terrestre para operações de manutenção de paz.
A UA também compilou uma base de dados de equipamentos aéreos disponíveis através dos Estados-membros para ver onde existem lacunas e oportunidades.
“Trata-se de ser inteligente na utilização daquilo que se tem disponível,” disse Caves.
De acordo com McCaugham, expandir as instalações de reparação no continente ajudaria os países a partilharem os seus recursos aéreos e a garantirem a manutenção adequada.
Até 2019, o produtor dos C-130, Lockheed Martin Corp., tinha uma única instalação capaz de fazer a manutenção de C-130s — uma instalação localizada em Denel, África do Sul, especializada na versão C-130H da aeronave.
“Enquanto a aeronave esteve presente, não havia dinheiro para pagar pela manutenção,” escreveu McCaughan na sua análise.
Melhorar a capacidade de transportes aéreos de África exigirá grandes investimentos por parte de governos e do sector privado, afirmou Caves.
A UA possui o potencial para impulsionar tais investimentos, designando centros de manutenção espalhados pelo continente, em zonas estrategicamente importantes e ajudando os Estados-membros a adquirirem mais aeronaves, escreveu McCaughan.
“Os potenciais clientes das novas instalações seriam aeronaves recentemente recebidas e aquelas que não passaram por qualquer operação de manutenção, possibilitando, desta forma, que as instalações de manutenção existentes mantenham o seu actual ritmo de negócios,” escreveu McCaughan.
Por último, vale a pena olhar para outras opções de meios de transporte. Em muitos casos, os países dependem de transporte aéreo — quer em África ou fora dela — como um substituto para o tipo de planificação a longo prazo e a cooperação multinacional que os permitiria utilizar opções de transporte mais baratas, mas mais lentas, como o transporte marítimo, ferroviário e mesmo transportadores comerciais, de acordo com Caves.
“Eles devem também estar a fazer o maior uso de transportadores de carga para cargas de menor urgência e menor risco,” disse Caves. “O transporte aéreo é, muitas vezes, o principal problema devido à falta de planificação ou de partilha atempada de informação sobre missões nacionais.”