EQUIPA DA ADF
A campanha de um grupo terrorista tem mais probabilidade de transformar-se numa guerra civil quando o Estado em que opera utiliza tácticas repressivas e quando o grupo diversifica as suas estratégias de ataque.
Embora cerca de 70% dos grupos terroristas terminem as suas campanhas dentro de um ano após o primeiro ataque, alguns continuam a lutar durante décadas. Um novo relatório elaborado por investigadores da Embry-Riddle Aeronautical University, da American University e da DeSales University descreveu a razão pela qual algumas insurreições desencadeiam conflitos mais amplos. O relatório foi publicado na revista “Dynamics of Asymmetrical Conflict.”
“A repressão violenta ajuda os grupos terroristas a convencerem os membros moderados a iniciarem uma rebelião,” escreveram os investigadores no The Conversation. “Também facilita o recrutamento ao aumentar as queixas contra o Estado.”
O relatório citou exemplos históricos de Angola e Moçambique para mostrar que a repressão violenta de grupos insurgentes pode levar à guerra civil.
O grupo Resistência Nacional Moçambicana, ou Renamo, teve origem em resposta à marginalização da população rural do país e levou a cabo uma rebelião de 17 anos que terminou em 1992. A União Nacional para a Independência Total de Angola, ou Unita, transformou a sua campanha pela independência de Angola de Portugal numa guerra civil de 1975 a 2002.
Ambos os grupos utilizaram um estilo de ataque diversificado, o que é um outro indicador de uma insurreição capaz de um alcance mais alargado.
Os pesquisadores — Ibrahim Kocaman, da Embry-Riddle, Isa Haskologlu, da American, e Mustafa Kirisci, da DeSales — recomendaram que os Estados devem visar as fontes de financiamento e de armamento de uma organização extremista para limitar a sua capacidade de diversificar os ataques.
“A coordenação e a cooperação entre as agências de segurança, tanto a nível nacional como internacional, podem ajudar a combater os esforços de um grupo terrorista de diversificar os seus ataques,” afirmaram os investigadores, acrescentando que os serviços de informação e vigilância devem concentrar-se em neutralizar a capacidade de um grupo extremista de adquirir novas tecnologias.
Eles recomendaram também que os Estados combatam a propaganda e o recrutamento de um grupo terrorista para limitar a sua capacidade de atrair novos membros.
As organizações extremistas na região do Sahel e na Bacia do Lago Chade utilizam a internet para fazer propaganda, recrutar e radicalizar pessoas, incitar ataques e financiar e planear as suas operações, de acordo com um relatório do Instituto de Estudos de Segurança. Em toda a África Ocidental, os grupos terroristas estão cada vez mais a sequestrar plataformas das redes sociais e aplicativos de mensagens.
Em resposta a estas tendências, o Conselho de Segurança das Nações Unidas adoptou, em Outubro de 2022, a Declaração de Deli, que visa desenvolver princípios orientadores para combater a utilização de tecnologias novas e emergentes para o terrorismo. As directrizes abordarão assuntos relacionados com o abuso de drones, plataformas de redes sociais e crowdfunding (ou financiamento colectivo).
O relatório “Dynamics of Asymmetrical Conflict” concluiu também que as hipóteses de um grupo conduzir uma campanha terrorista diminuem em 57% quando um Estado aumenta a despesa pública em 2% por pessoa. Os países com uma desigualdade significativa no investimento estatal entre regiões são mais propensos à insegurança.