EQUIPA DA ADF
Cinco dias é o tempo recomendado para que as pessoas infectadas com COVID-19 fiquem isoladas antes de retomar às suas rotinas normais. Mas novas pesquisas sugerem que esse período pode ser muito curto para evitar que as pessoas propaguem o vírus.
“Não existem dados para apoiar cinco dias ou qualquer período que seja inferior a 10 dias,” Amy Barczac, médica e pesquisadora do Hospital-Geral de Massachusetts, Boston, disse à revista Nature.
A pesquisa de Barczac em doentes do seu hospital demonstra que pelo menos um quarto das pessoas que possuem uma estirpe da variante Ómicron continuam contagiosas durante cerca de oito dias.
Muitas variáveis afectam o período que alguém pode continuar a transmitir partículas do vírus. As pessoas com uma imunidade estabelecida tendem a recuperar-se de infecções com maior rapidez. Mas enquanto as novas variantes evoluem, os especialistas em saúde estão a reconsiderar os protocolos de segurança que orientam o tratamento.
“Sempre olhamos para isso como se fosse o preto e o branco,” virologista Benjamim Meyer, da Universidade de Genebra, disse à Nature. “Mas, na verdade, trata-se de um jogo de números e uma probabilidade.”
O limiar de cinco dias foi estabelecido pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, em Dezembro de 2021, com a recomendação para usar máscara em público durante mais cinco dias.
“A mudança é motivada por ciência que demonstra que a maioria das transmissões do SARS-CoV-2 (COVID-19) ocorre mais cedo no curso da doença, geralmente nos dias 1 e 2 antes do início dos sintomas e nos dias 2 e 3 depois,” disse a agência naquela altura.
A nova pesquisa sobre a infecciosidade ficou conhecida numa altura em que as altamente transmissíveis estirpes BA.4 e BA.5 da variante Ómicron assolam o mundo — um lembrete de que a pandemia continua a ser uma ameaça.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as mortes por COVID-19 a nível mundial aumentaram 35% entre meados de Julho e meados de Agosto. Numa única semana, em meados de Agosto, 15.000 pessoas em todo mundo morreram da doença.
“Quinze mil mortes por semana é completamente inaceitável quando dispomos das ferramentas para prevenir a infecção e salvar vidas,” Director-Geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse durante a sua conferência de imprensa semanal.
A estirpe BA.5 da variante Ómicron é a estirpe dominante a nível mundial, representando mais de 90% de sequências examinadas, disse Tedros.
O número de sequências em análise baixou 90% desde o início do ano, um produto da queda no número de testagens, numa altura em que as pessoas ficam cada vez menos preocupadas com o vírus.
Tedros alertou que a transmissão pode aumentar drasticamente quando o inverno voltar ao Hemisfério Norte e as pessoas passarem mais tempo em locais fechados.
“Existe um grande debate em torno da questão de aprender a viver com o vírus,” disse Tedros. “Aprender a viver com a COVID-19 não significa fingirmos que ela não exista. Significa utilizarmos as ferramentas que temos para proteger a nós próprios e aos outros.”
Ao verificar uma infecção persistente, os investigadores disseram à revista Nature que os testes rápidos de antigénio, amplamente disponíveis, oferecem o melhor indicador para verificar se alguém ainda é capaz de propagar o vírus. Isso porque os testes rápidos detectam as proteínas que os vírus produzem quando eles se replicam.
Emily Bruce, uma geneticista molecular da Universidade de Vermont, disse à Nature que os testes rápidos podem tirar quaisquer dúvidas em relação ao risco que uma pessoa em recuperação da COVID-19 pode representar para os outros.
“Se eu tivesse de resumir numa mensagem muito concisa, seria que se uma pessoa testar positivo para o antigénio, não deve sair nem interagir de forma próxima com pessoas que ela não desja que fiquem infectadas,” disse.