EQUIPA DA ADF
Musa Barkame antes fazia a vida transportando bens por meio de barco através do Lago Chade para os mercados da Nigéria. Tudo isso acabou quando o Boko Haram chegou na região.
“Fazer comércio entre aqui e Nigéria é o único emprego que eu conheço,” disse Barkame à al-Jazeera, sentado no seu barco encharcado, no lado chadiano do lago.
A última vez que utilizou o seu barco foi parar resgatar aldeões de ataques do Boko Haram. Agora, o barco permanece sem fazer nada, esperando pelo dia em que irá regressar aos trabalhos.
Assim como milhares de agricultores, pescadores e pastores de gado, Barkame encontra-se no meio de duas forças que operam na Bacia do Lago Chade (BLC): os extremistas, como o Boko Haram, e as forças governamentais, que procuram os expulsar.
O conflito devastou a economia que um dia foi vibrante naquela região, que viu o comércio fluir de forma rotineira entre as comunidades de Camarões, Chade, Nigéria e Níger. Aqueles que se encontram no meio têm poucas opções para manter os seus meios de subsistência. Alguns até recorreram aos extremistas para obtenção de rendimento.
A pilhagem praticada pelos extremistas deixa a população sem os seus bens e os seus meios de subsistência. Os governos complicaram as coisas, encerrando a maior parte das rotas de comércio e banindo o transporte de peixe e outros materiais que se suspeita que beneficiam os extremistas.
Um novo relatório do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) sugere que o aumento de investimentos do governo para reconstruir a economia da região do Lago Chade eventualmente possa derrotar os extremistas, melhorando a vida dos 22 milhões de habitantes da região.
O relatório faz eco a partes da Estratégia Regional para Estabilização, Recuperação e Resiliência de zonas afectadas pelo Boko Haram, adoptado em 2018 pela Comissão da Bacia do Lago Chade.
“A BLC era uma área de produção intensa e de actividade económica que estava a desenvolver antes do conflito,” escreveram os autores do relatório, os investigadores do ISS, Teniola Tayo e Remadji Hoinathy. “O Boko Haram tirou vantagem da presença contestada do Estado e da marginalização das comunidades para ganhar espaço e gerar rendimento, assumindo e controlando as oportunidades económicas.”
Desde que o Boko Haram e a sua ramificação, a Província da África Ocidental do Estado Islâmico, criaram operações na Bacia do Lago Chade, a região tem sido abalada por ataques violentos de extremistas e por restrições governamentais instituídas para tentar eliminá-los.
Desde que o conflito começou, o crescente comércio transfronteiriço entre os países da Bacia do Lago do Chade caiu abruptamente em 70%, de acordo com o ISS.
A Nigéria, que é o centro do comércio regional, encerrou várias estradas principais para o transporte de peixe, cereais e outros produtos alimentares. Obrigados a seguir rotas alternativas para os mercados, os pastores de gado agora precisam de 40 dias para uma viagem que antes durava 22 dias. O gado, muitas vezes, perde o peso quando chega ao seu destino, o que reduz o seu valor.
No lugar da tradicional economia, cresceu aquilo que Tayo e Hoinathy chamam de “economia de ONG.” Esta economia é impulsiona por agências de ajuda internacional que montaram os seus escritórios na região para ajudar as pessoas deslocadas por causa do actual conflito. A economia de ONG não é sustentável, de acordo com os autores.
“Para ajudar as comunidades a resistirem e recuperarem de conflitos do Boko Haram, as suas vidas e os seus meios de subsistência devem ser protegidos,” escreveram Tayo e Hoinathy.
As pessoas que vivem ao redor do Lago Chade querem que o governo proteja as suas terras de cultivo, os mercados e as rotas de transporte para recuperar a economia local. Eles também precisam de crédito de baixo custo ou livre de juros para ajudá-los a voltar a ganhar o que perderam, de acordo com os autores.
A região precisa de mais investimentos do governo, no sector da agrícola e no sector de segurança diária, escreveram Tayo e Hoinathy. Fazer isso pode colocar o Boko Haram e outros extremistas em desvantagem, acrescentaram.
“A ausência contínua de apoio do governo para a recuperação dos meios de subsistência obriga as comunidades a fazerem contratos sociais com extremistas violentos,” escreveram. “Por isso, é importante melhorar a segurança das comunidades e das rotas de comércio, desenvolvendo o envolvimento militar mais eficaz juntamente com uma adequada protecção civil.”