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Emboscadas grandes e indiscriminadas, feitas pela Província do Estado Islâmico no Sahel (IS Sahel) contra grupos terroristas rivais, forças governamentais e civis, no nordeste do Mali, contribuíram para o mais elevado número de mortes de civis desde que o conflito irrompeu naquele ponto há mais de uma década.
O IS Sahel foi alvo da campanha de combate ao terrorismo da França, conhecida como Operação Barkhane, que terminou em Novembro. Desde essa altura, o grupo lançou uma ofensiva numa “escala sem precedentes,” de acordo com o ACLED, um grupo de monitoria de conflitos.
“Desde o fim da operação Barkhane, conseguimos sentir o aumento do poder do Estado Islâmico,” Baba Dakono, um analista político e de segurança do Mali, disse ao The New Humanitarian, uma publicação das Nações Unidas.
O grupo continua a utilizar um conjunto de tácticas brutais.
Um membro de uma associação de mulheres, na região de Gao, do Mali, disse que o IS Sahel atacou a sua comunidade, em Junho de 2022, mas foi derrotado. Quando o grupo regressou, três meses depois, “destruiu tudo.”
“Eles mataram todos os homens, furaram o tanque de água e colocaram veneno no poço,” disse a mulher que falou para o The New Humanitarian, de forma anónima. “[Eles] queimaram todos os cereais que não foram capazes de levar com eles … e deixaram Talataye em cinzas.”
A mulher, uma das 410.000 pessoas deslocadas pela violência, no Mali, acrescentou que o grupo “pretende controlar a área e fazer com que as pessoas se submetem, enquanto prometem segurança e que qualquer oposição não seria aceite.”
A campanha do IS Sahel no Mali é, em termos gerais, motivada pela sua rivalidade com o grupo extremistas alinhado à al-Qaeda, o Jama’a Nusrat al-Islam wa al-Muslimin (JNIM).
Os dados do ACLED demonstraram que o IS Sahel é mais propenso a utilizar emboscadas e tácticas de ataque em grande número, incorporando motorizadas e viaturas. O JNIM prefere infringir “violência remota,” através do uso de explosivos, artilharia e tiros de morteiro.
O IS Sahel não está confinado apenas ao Mali.Através de emboscadas que contam com assaltos à mão armada em motorizadas e viaturas, o IS Sahel opera em toda a região da tríplice fronteira entre Burquina Faso, Mali e Nigéria.
De acordo com o ACLED, o IS Sahel tornou-se o “actor dominante” nas províncias de Oudalan e Seno, no Burquina Faso, nas regiões de Gao e Menaka, no Mali, e nas regiões de Tillaberi e Tahoua, no Níger. As suas actividades, financiadas essencialmente através de roubo de gado, extorsão e cobrança de esmolas ou impostos, também se alastraram para o Benin.
No Burquina Faso, o grupo perpetrou uma série de grandes massacres contra comunidades Mossi, Foulse, Songhai e Bellah, nas regiões do Sahel e do centro-norte, entre 2019 e 2021.
Durante uma ofensiva que durou seis meses, no Níger, entre Março e Agosto de 2022, confrontos entre o IS Sahel, forças pró-governamentais e JNIM resultaram em mais de 1.000 mortes, incluindo civis, comunicou o ACLED.
O IS Sahel está actualmente a tentar criar um pseudo-Estado, nas zonas rurais que se expandem desde Gao, no norte do Mali, até Dori, no sul do Burquina Faso, e a partir de N’Tillit, no oeste do Mali, até à área da fronteira de Tahoua, na região leste do Níger.
Visto que as Forças Armadas do Mali, o Grupo Wagner da Rússia, os combatentes do JNIM, as milícias e antigos grupos rebeldes não foram capazes de controlar o IS Sahel, o grupo irá continuar a exercer a sua influência através de violência em grande escala, previu o ACLED.