EQUIPA DA ADF
Um grupo extremista violento quase duplicou o território que controla no Mali, depois de a junta no poder ter cortado os laços com as forças de manutenção da paz internacionais e ter dado poder a mercenários russos brutais.
As ramificações estão a agitar o norte do Mali, onde os problemas começaram há 11 anos com uma revolta islamista e continuam a proliferar no vizinho Burquina Faso, a sul. Nesse país, os militantes dominam o norte, o leste e o oeste desde que um golpe de Estado destituiu o governo civil, em 2022.
Dois grupos são responsáveis pela maior parte da violência: o Estado Islâmico no Grande Sara (ISGS) e a Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM). No norte do Mali, o ISGS conseguiu quase duplicar o território que controla em menos de um ano, de acordo com um relatório de 104 páginas elaborado por peritos da ONU e divulgado em Agosto.
Ao continuar a atacar civis na região, o ISGS fez com que aqueles que assinaram um acordo de paz em 2015, incluindo o governo do Mali, a Coordenação dos Movimentos de Azawad e a Plataforma do Movimento de 14 de Junho de 2014, parecessem fracos e incapazes de garantir a segurança.
A JNIM capitalizou este caos e “está agora a posicionar-se como o único actor capaz de proteger as populações contra o Estado Islâmico no Grande Sahara,” afirma o relatório da ONU. Assim, os grupos que assinaram o acordo dependem agora da JNIM para ganhar credibilidade nas suas comunidades.
O resultado é um número cada vez maior de ataques de ambos os grupos no Burquina Faso e no Mali. As estatísticas do Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS) mostram que os ataques têm aumentado constantemente desde 2014 e estão agora a alastrar-se para além das fronteiras dos dois países.
Os ataques dos dois grupos estão a atravessar as fronteiras da Mauritânia, no caso da JNIM e das filiais do al-Qaeda, e do Níger, no caso do ISGS e dos seus afiliados. Os dois principais grupos ameaçam actualmente as regiões setentrionais dos Estados costeiros do Benin, Costa do Marfim, Gana e Togo, segundo o ACSS.
Há duas condições que podem ser contadas entre as razões para o aumento da violência. Em primeiro lugar, dois golpes de Estado sucessivos levaram o Mali a cortar os laços com forças internacionais como o governo francês e uma missão de manutenção da paz das Nações Unidas, conhecida como MINUSMA. Em segundo lugar, pouco depois de a junta no poder ter solidificado o seu domínio no Mali, acolheu forças mercenárias do Grupo Wagner da Rússia.
Mais de 20.000 forças internacionais estavam no terreno no Mali em 2020, de acordo com o ACSS. Isso inclui a MINUSMA, as forças da União Europeia, o pessoal francês e as forças do G5 Sahel. No final de 2023, esses níveis serão ligeiramente superiores a 12.000 — uma diminuição de 43%. A MINUSMA deveria ter-se retirado completamente até 31 de Dezembro, a pedido da junta do Mali. A força tinha atingido 25% desse objectivo no final de Agosto, segundo a ONU.
À medida que essa presença de segurança foi diminuindo no Mali, a violência aumentou em proporção directa. Em Fevereiro de 2020, quando os associados do Grupo Wagner iniciaram uma campanha de desinformação contra as forças francesas e da MINUSMA, os acontecimentos violentos ligados a grupos militantes e os abusos do Grupo Wagner aproximavam-se dos 300, segundo o ACSS.
Os actos de violência aumentaram 97% em 2022 em relação a 2020. As mortes anuais relacionadas com a violência mais do que duplicaram em 2022, e os civis “suportam o peso desta violência,” afirmou o ACSS num relatório de Fevereiro de 2023. “Houve mais civis mortos no Mali em cada trimestre de 2022 do que em qualquer outro ano civil anterior. As mortes associadas à violência contra civis são sete vezes mais elevadas em 2022 do que em 2021.”
A presença do Grupo Wagner também não conseguiu melhorar o panorama de segurança no Mali. Na verdade, piorou a situação.
“A falta de capacidade militar e de capacidade para atingir os jihadistas a partir do ar levou o Grupo Wagner a recorrer ao tipo de tácticas de mão pesada que utilizou noutras zonas de conflito,” escreveu o Centro de Combate ao Terrorismo de West Point, num relatório de 2022. “O Grupo Wagner não só não tem qualquer consideração pelas vítimas civis, como parece ter repetida e deliberadamente atacado civis em redutos jihadistas para dissuadir os jihadistas de lançar ataques e coagir a população local a virar-se contra os jihadistas que vivem no seu seio.”
A contínua falta de segurança foi sublinhada a 7 de Setembro, quando extremistas da JNIM atacaram um barco de passageiros de três andares no Rio Níger, perto de Tombuctu, e uma instalação militar em Bamba, em Gao. No total, os ataques mataram 49 civis e 15 soldados governamentais, segundo a imprensa.