EQUIPA DA ADF
Um recente ataque terrorista em Palma, um porto estratégico no norte de Moçambique, resultou na morte de dezenas de tropas moçambicanas e de civis. Também despertou o perfil do país em relação aos grupos do Estado Islâmico (EI) e outros terroristas do mundo.
O grupo que está por detrás dos ataques é Ansar al-Sunna, mas os residentes locais chamam-no de “al-Shabaab,” embora não tenha nenhuma ligação com o grupo terrorista com o mesmo nome, sediado na Somália. O EI perdeu território e poder na Síria e no Iraque nestes últimos anos, mas fez incursões firmes em África, especialmente em Moçambique. Isto pode inspirar apoiantes de todo o mundo a juntarem-se às suas fileiras em Moçambique e em todo o continente, afirmam especialistas em matérias de segurança.
Austin Doctor, professor assistente de ciências políticas, na Universidade de Nebrasca, em Omaha, e co-autor de um relatório sobre militantes estrangeiros em Moçambique para a página da internet War on Rocks, disse que as operações terroristas em Mocímboa da Praia e Palma “podem fazer com que um conflito seja um ponto de destino especialmente desejável.”
“Militantes estrangeiros são atraídos por vencedores — ou pelo menos por insurgências que possuem alguma possibilidade de sucesso razoável,” Doctor disse à ADF num e-mail. “Nenhum potencial recruta estrangeiro deseja juntar-se a uma luta onde o grupo local de insurgentes já esteja por um fio.”
Isso já aconteceu antes. Depois de fracassarem no Médio Oriente e na Líbia, muitos militantes estrangeiros espalharam-se para várias partes da região africana do Sahel, incluindo a região das três fronteiras de Burkina Faso, Mali e Níger.
O grupo extremista em Moçambique já está a atrair militantes provenientes da região africana dos Grandes Lagos, da África do Sul, da Tanzânia e do Uganda, de acordo com o artigo War on the Rocks.
Não existe nenhum esforço coordenado e conhecido para impedir que militantes estrangeiros entrem nas fileiras do Ansar al-Sunna em Moçambique, de acordo com Emília Columbo, uma associada sénior do Programa Africano do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, que é co-autora do relatório War on the Rocks com Doctor.
Pelo menos duas vezes no ano transacto, as autoridades tanzanianas interceptaram jovens que afirmavam estar a caminho da luta na província moçambicana de Cabo Delgado, onde se localizam Palma e Mocímboa da Praia, disse Columbo.
“Mas essa parece ter sido uma actividade interna e unilateral de segurança,” Columbo disse à ADF num e-mail. “As autoridades moçambicanas e tanzanianas mantiveram conversações sobre a necessidade de maior cooperação, mas não está claro se isso foi além das declarações públicas. Quando o assunto da intervenção internacional em Cabo Delgado é trazido à tona, as autoridades moçambicanas geralmente levantam a necessidade de melhorar a segurança das fronteiras, sugerindo que o que está a acontecer agora ainda está em falta.”
Numa reportagem do The Daily Mirror, um especialista em matérias de segurança disse que pode até não importar para alguns militantes estrangeiros se estão a juntar-se a um grupo ligado ao EI ou não. A pobreza, a guerra civil e a “insatisfação generalizada” são todas elas ferramentas de recrutamento utilizadas para atrair “jihadistas muito zangados,” mas simplesmente ser pago para lutar, muitas vezes, é uma recompensa suficiente, afirmam especialistas.
Columbo espera que a violência terrorista em Moçambique continue, num futuro previsível.
“Os insurgentes têm estado a aumentar cada vez mais as suas capacidades operacionais, fazendo o lançamento de ataques sangrentos e bem coordenados contra alvos mais difíceis, como é o caso de Palma,” disse Columbo. “Entretanto, as forças de segurança governamentais estão mal equipadas para lidar com este problema de segurança e o governo não deu prioridade aos programas socioeconómicos que ajudariam a lidar com as causas fundamentais do conflito.”