EQUIPA DA ADF
Quando a pandemia da COVID-19 encerrou, pela primeira, vez as escolas de Malawi, em Março de 2020, Patricia Siyati e seus amigos sentiram-se como se estivessem de férias.
Mas a pandemia mudou tudo.
A escola de Patricia ficou encerrada por sete meses. Em pouco tempo, ela percebeu que estudar a partir de casa era difícil e era necessário fazer trabalhos sem fim.
Quando as infecções pela COVID-19 aumentaram de novo em Janeiro de 2021, as escolas foram encerradas por mais cinco semanas.
Hoje, Patricia passa pelo caminho acidentado cheio de lama para a Escola Primária de Makande, na sua cidade do sul de Malawi, Chikwawa, muitas vezes, pensando na aprendizagem que perdeu nos últimos dois anos.
Ela é uma das 7,7 milhões de crianças do Malawi afectadas pelo encerramento de escolas devido à COVID-19.
“Quero ser professora, mas o meu sonho está ameaçado,” disse ao jornal malawiano, The Daily Times. “Estudo muito na sala de aulas, mas quando chego a casa, geralmente não tenho tempo para ler os meus livros.”
Investigadores do mundo inteiro continuam a lutar com o aumento da perda de aprendizagem como resultado dos confinamentos obrigatórios da COVID-19. O maior desafio é a falta de dados dos países em desenvolvimento, que inclui a maior parte de África.
Mas Malawi é uma excepção, graças ao Inquérito Longitudinal de Escolas do Malawi, uma parceria entre o governo e o Banco Mundial.
“[O inquérito] realiza avaliações regulares da aprendizagem com uma amostra representativa longitudinal dos alunos que estavam na 4ª classe entre 2016 e 2018,” disse o Banco Mundial na sua página da internet. “Estes ricos dados apresentam a lente mais apurada que existe em relação às trajectórias de aprendizagem para as amostras representativas a nível nacional de alunos da África Subsaariana.
“Empregando dados das três rondas de pesquisa com os mesmos alunos, duas vezes antes do encerramento das escolas e uma vez depois da abertura, produzimos a primeira imagem abrangente do perfil de aprendizagem dos alunos antes e depois dos encerramentos das escolas impostos pela Covid.”
O inquérito concluiu que, em média, a aprendizagem dos alunos nas disciplinas de inglês, matemática e Chichewa (a língua de instrução primária) foi de 97 pontos abaixo de onde teria sido projectada se a pandemia não tivesse ocorrido.
“Isso é o equivalente a cerca de dois anos de perda de aprendizagem no total nos níveis pré-pandemia,” comunicou o Banco Mundial.
Os dados do inquérito sugeriram duas outras questões preocupantes.
Uma foi que o nível de perda de aprendizagem foi maior do que aquilo que as estatísticas puderam correlacionar com sete meses de encerramento de escolas, algo que o Banco Mundial chamou de uma “redução extraordinária em conhecimento causada pelo choque da COVID.”
Mas quando os alunos regressaram à escola, a aprendizagem não retomou o seu ritmo pré-COVID.
Analistas malawianos encontraram as mesmas tendências de perda de aprendizagem nas suas medições.
“O número de alunos que realizaram os exames nacionais da oitava classe e da quarta classe em 2021 reduziu drasticamente,” especialista em educação, Steve Sharra, disse ao The Daily Times, em Dezembro de 2021.
“Reduziu em sete por cento nos exames do PSLCE [Certificado de Conclusão do Ensino Primário] e 16 por cento nos exames do MSCE [Certificado de Educação Escolar do Malawi].”
Mais informação veio a partir de uma revisão recente de 29 estudos de 17 países que mostrou uma perda significativa de aprendizagem correlacionada com o encerramento das escolas devido à pandemia.
No Malawi, a taxa de desistências aumentou de 1,2% antes da pandemia para 4,3%.
“Existem taxas muito mais elevadas de desistências no ensino secundário,” disseram os autores de um estudo realizado pelo Centro para o Desenvolvimento Global, divulgado no dia 24 de Novembro de 2021. “Mas não existe uma grande diferença entre rapazes e raparigas.
“Perguntamos aos agregados quais eram as razões das desistências das crianças. As principais respostas para os rapazes foram as propinas escolares (1 em cada 3 desistências) e para as raparigas, casamentos ou gravidez (1 em cada 3 desistências).”
O estudo concluiu que 92% dos directores de escolas implementaram aprendizagem de recuperação nas suas escolas, mas os dados demonstraram que os programas de aprendizagem de recuperação não dispunham de recursos e de pessoal, acrescidos à indisponibilidade dos alunos para passarem tempo fora das horas de aula.
Um outro problema que os dados do inquérito revelaram foi o decréscimo acentuado da taxa de aprendizagem dos alunos depois da retoma das aulas, demonstrando uma redução de 13,4 pontos de aprendizagem para cada 100 dias de aulas antes da pandemia para 6,9 pontos.
“Isso sugere que as escolas não ajustaram com sucesso o seu ensino para ajudar os alunos a recuperarem a matéria perdida,” afirmou o Banco Mundial. “Se esta tendência continuar, podemos ver uma crescente lacuna na aprendizagem com o andar do tempo, com os alunos afectados pela COVID a ficarem cada vez mais atrasados em relação às trajectórias de aprendizagem esperadas.”
As perdas de aprendizagem da pandemia são um problema global, directora-executiva do UNICEF, Catherine Russell, disse depois de a organização ter divulgado um relatório, no dia 30 de Março de 2022, com o título “Será que as crianças estão realmente a aprender?”
O relatório concluiu que 147 milhões de crianças em todo o mundo perderam mais de metade da sua formação presencial nos últimos dois anos, perfazendo 2 trilhões de horas de ensino presencial perdido.
“Quando as crianças não são capazes de interagir com os seus professores e seus colegas directamente, a sua aprendizagem sofre,” disse num comunicado. “Quando não são capazes de interagir com os seus professores e colegas em nenhuma circunstância, a sua perda de aprendizagem pode tornar-se permanente.
“Este aumento da desigualdade no acesso à aprendizagem significa que os riscos de educação se tornam o maior divisor e não o maior equalizador. Quando o mundo falha na educação das suas crianças, todos sofremos.”