EQUIPA DA ADF
Há pelo menos 25 anos que os bandidos assolam o norte da Nigéria, aterrorizando e roubando os residentes, recrutando novos membros e provocando insegurança crónica na região.
Especialistas da Iniciativa Global contra o Crime Organizacional Transnacional (GI-TOC) e do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) afirmam que as autoridades nigerianas devem considerar uma abordagem não militar aos bandidos, visando as suas finanças. Os bandidos ganham dinheiro através de crimes como roubo de gado, raptos, extorsão a agricultores e apropriação de minas de ouro artesanais.
“É um assunto que é menos compreendido,” disse o analista Kingsley L. Madueke sobre o financiamento dos bandidos durante um debate online patrocinado pelo GI-TOC sobre o banditismo. “Isso reforça directamente a resiliência do banditismo armado e também serve de motivação para o recrutamento do banditismo armado.”
Segundo algumas estimativas, cerca de 120 grupos de bandidos operam nos Estados de Kaduna e Zamfara. Os especialistas acreditam que o número total de bandidos pode ascender a 30.000, um terço dos quais no Estado de Zamfara.
Os bandidos armados movem-se agilmente entre diferentes fluxos de receitas lícitas e ilícitas para gerar o dinheiro de que necessitam para operar. De 2011 a 2019, a sua principal táctica foi o roubo de gado. Quando os pastores começaram a deslocar o seu gado para outros locais, os bandidos recorreram aos raptos com pedido de resgate. O rapto tornou-se rapidamente inviável, uma vez que as potenciais vítimas ficavam sem dinheiro ou eram mortas por não pagarem.
Nos últimos anos, os bandidos desviaram a sua atenção para três outras fontes de rendimento: a indústria de extracção artesanal de ouro, em grande parte não regulamentada, a exigência de “impostos” às empresas de transporte rodoviário que transitam pela região e a exigência de pagamento aos agricultores para plantarem e colherem nos seus campos.
“A transição tem sido no sentido de uma cobrança de receitas que requer menos violência e mais coordenação com as comunidades,” disse o analista Olajumoke Ayandele durante o debate do GI-TOC.
Embora estas novas formas de financiamento do terrorismo sejam apoiadas por ameaças de violência, a violência física é, de facto, rara, disse Ayandele.
A fraca regulamentação da extracção de ouro e as transacções baseadas em dinheiro têm sido um íman para os bandidos, que passaram de assaltar mineiros a gerir algumas minas.
“A indústria (mineira) oferece aos bandidos armados um potencial de lucro significativo,” disse Madueke.
Por essa razão, a concentração na exploração mineira poderia desempenhar um papel fundamental na redução das receitas dos bandidos, acrescentou.
Os analistas exortaram o governo nigeriano a reforçar a supervisão da extracção artesanal de ouro. Em 2019, o governo encerrou a exploração mineira em Zamfara para tentar interromper o rendimento dos bandidos.
“Em vez de proibir o sector mineiro, é necessário promover e facilitar a formalização da extracção artesanal de ouro,” disse Madueke.
Ao registar os mineiros e reforçar a segurança nos locais de mineração, o governo poderia interromper o rendimento dos bandidos sem dificultar a vida das pessoas que vivem das minas, segundo os analistas.
Os bandidos também ganharam o controlo das linhas de abastecimento da região, assumindo o controlo das rotas de transporte rodoviário, depois de as empresas comerciais de transportes se terem recusado a entrar no território infestado de bandidos devido à falta de segurança, escreveu o analista Maurice Ogbonnaya para o ENACT, a organização anti-transnacional do crime organizado.
Embora a intervenção militar continue a ser uma parte importante da estratégia nigeriana de combate aos bandidos, um maior investimento nas economias das regiões Noroeste e Centro-Norte poderia contribuir muito para quebrar o domínio que os bandidos exercem sobre a área, de acordo com o estudo conjunto GI-TOC/ACLED.
Isso tornaria o banditismo menos atractivo para os jovens que procuram um objectivo e para outros que procuram ganhar dinheiro informando os bandidos sobre as operações antiterroristas do governo. O apoio financeiro à agricultura também poderia evitar que as pessoas recorressem ao banditismo.
“É crucial dar prioridade a estes grupos vulneráveis, oferecendo-lhes um meio de subsistência alternativo,” disse Madueke.