EQUIPA DA ADF
Autoridades de saúde pública de África afirmam que a COVID-19 está longe de terminar e o rumo da pandemia continua incerto.
“Não devemos nos deixar enganar, pensando que o facto de estarmos numa época de fraca transmissão em África e no mundo, a pandemia não poderá voltar a assolar,” Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC), disse durante uma recente conferência de imprensa. “Já vimos este cenário várias vezes.”
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em meados de Abril, as infecções pela COVID-19 de África estiveram nos seus níveis mais baixos, desde que a pandemia começou no início de 2020. Agora é o tempo mais importante para que os países esforcem-se na testagem, vigilância e medidas como a lavagem das mãos e o uso de máscaras em lugares fechados, disse Nkengasong.
Este é também o tempo de os países começarem a reforçar as suas infra-estruturas de saúde pública, acrescentou, citando o Centro de Controlo de Doenças da Nigéria como um modelo que os outros países devem seguir.
“Cada país deve ter uma versão do Nigeria CDC,” disse Nkengasong, acrescentando que apenas 16 países africanos possuem um instituto nacional de saúde.
O vírus demonstrou ser capaz de realizar mutações de forma rápida — às vezes, transformando-se em estirpes mortais como a variante Delta e, outras vezes, em versões mais ligeiras como a linhagem B.A.2, da Ómicron, agora presente em pelo menos 16 países africanos.
A longo prazo, contudo, o aumento da imunidade — tanto natural como adquirida — pode reduzir o impacto global que a COVID-19 tem sobre a população mundial, de acordo com o Dr. Crystal Watson, investigador principal do Centro Johns Hopkins para a Segurança da Saúde.
Estudos sugerem que cerca de 60% de africanos estiveram expostos à COVID-19, o que lhes garante um certo nível de imunidade. Na África do Sul, a estimativa situa-se muito próxima de 80%.
Especialistas da OMS e do Africa CDC afirmam que os países precisam de continuar a apoiar a testagem e a vigilância para rastrear a propagação do vírus e alertar ao mundo sobre quaisquer potenciais variantes perigosas. A tendência dos testes é de reduzir na mesma proporção que o número de casos, de acordo com o Africa CDC.
“Ainda existem alguns focos de contaminação apesar do declínio na testagem,” disse a Dra. Maria Van Kerkhove, técnica-chefe da OMS para a COVID-19, durante uma recente conferência de imprensa.
Os líderes de saúde pública afirmam que a COVID-19 continua a ser uma emergência e não demonstra sinais de alcançar um ponto em que pode ser declarada endémica. Uma doença é considerada endémica quando persiste numa população ou região, mas em termos gerais já se tenha restringido a uma taxa constante de ocorrência. Mesmo depois de alcançar este ponto, o vírus continua a ser um risco potencialmente letal para idosos e para os mais novos bem como para aqueles que possuam um sistema imunológico comprometido, afirmam os especialistas.
“Endémica não significa que já acabou,” Dr. Mike Ryan, director-executivo do Programa de Emergências de Saúde na OMS, disse na conferência de imprensa. “Endémica não significa que é ligeira. Existem muitas doenças endémicas que estão a matar pessoas em todo o mundo.”
A OMS e o Africa CDC continuam a fazer esforços para mais autotestes com testes de antigénios, semelhantes ao processo utilizado para testar o HIV. Contudo, estes testes nem sempre são comunicados em totais nacionais, acrescentou Van Kerkhove.
Como parte da preparação para a próxima fase da pandemia, o Africa CDC reforçou a capacidade do continente para detectar variantes, mas ainda existe muito mais trabalho, de acordo com Nkengasong.
A União Africana anunciou recentemente a existência de uma equipa que tem a responsabilidade de aumentar os números de médicos, profissionais de saúde e investigadores em África para fazer face a esta e futuras pandemias. O representante permanente de Marrocos na UA, o embaixador Mohamed Arrouchi, apelou para que o Africa CDC comunique sobre a condição das infra-estruturas de saúde do continente para ajudar os ministérios de saúde a fazerem a monitoria da pandemia.
Para além de mais pessoal médico, o continente também precisa de desenvolver as suas próprias fontes de fornecimento de bens fundamentais, como equipamento de protecção e medicamentos contra a COVID-19, afirmam os especialistas.
“Não é possível lutar contra um vírus sem materiais nem profissionais de saúde,” disse Ryan. A pandemia revelou desigualdades de longa data nos sistemas de prestação de cuidados de saúde a nível global, disse.
Entre as desigualdades que a OMS e os líderes africanos pretendem colmatar encontra-se a falta de tecnologias e de fornecimentos médicos de origem local. África enfrentou a falta de ambos durante a pandemia, disse Ryan.
Já estão em curso mudanças, em termos gerais, motivadas pela pandemia. Desde que a COVID-19 começou, África registou um aumento em mais do que o dobro no seu fornecimento de camas para as unidades de cuidados intensivos, de oito por cada 1 milhão de pacientes para 20. As unidades de produção de oxigénio hospitalar expandiram em 60%, fazendo com que o preço reduzisse, embora o seu fornecimento continue a ser um problema crucial, de acordo com a OMS para a África.
“Enquanto entramos nesta nova fase da pandemia da COVID-19, devemos utilizar as lições aprendidas ao longo dos últimos dois anos para fortalecermos os sistemas de saúde do continente de modo a estarmos mais bem preparados para lidar com futuras vagas da doença,” Dra. Matshidiso Moeti, directora da OMS para a África, disse num comunicado, no dia 14 de Abril.