EQUIPA DA ADF
A pandemia da COVID-19 afectou a população em formas que são claramente difíceis de definir. Entre os efeitos mais subtis estão o medo e a ansiedade sentidos pelas pessoas sobre como o vírus irá mudar e qual a melhor forma de protegerem a si próprios e os seus amados. Esse medo evoluiu transformando-se em problemas de saúde mental mais profundos que ainda devem ser abordados para algumas pessoas, de acordo com uma equipa liderada pelo investigador Keneilwe Molebatsi, da Universidade do Botswana.
“Estados extremos de ansiedade, estresse, estigma social e discriminação são associados à COVID-19, havendo assim uma necessidade de melhorar o bem-estar mental e psicológico das pessoas afectadas,” Molebatsi escreveu num artigo publicado pela revista Frontiers in Psychiatry. “A crise de saúde mental que resulta do impacto em múltiplos níveis da pandemia esteve, entretanto, sem acompanhamento.”
A pesquisa de Molebatsi encontra-se entre vários estudos que examinam o efeito que a pandemia da COVID-19 teve sobre a saúde mental de milhões de africanos nos passados dois anos. Os investigadores afirmam que o impacto deverá causar alterações importantes na prestação de cuidados de saúde em África depois de a pandemia passar.
“Haverá alguns efeitos duradouros sobre a psique e o estado mental da população, com base naquilo que aconteceu antes,” Dr. Kagisho Maarooganye, um membro da direcção da Sociedade Sul-Africana de Psiquiatras, disse à VOA News.
Os africanos não são inexperientes no que diz respeito a epidemias, quer tenham sido causadas pelo Ébola, febre amarela, chicungunha ou outros vírus. Esta familiaridade fez com que os países respondessem rapidamente com confinamentos obrigatórios e encerramento de fronteiras quando a pandemia chegou pela primeira vez no continente. Contudo, as tácticas seguidas para reduzir a propagação da COVID-19, incluindo os confinamentos obrigatórios nacionais, pioraram os problemas de saúde mental, porque isolaram as pessoas, fecharam as empresas e acrescentaram o medo da doença.
Os profissionais de saúde da linha da frente da pandemia, em especial, foram severamente afectados por problemas de saúde mental enquanto ficavam preocupados com a sua própria segurança ao tratar de pacientes de COVID-19, de acordo com Marianne Mureithi, uma investigadora sénior da Universidade de Nairobi, Quénia.
“No Quénia, houve muito pânico, histeria e muita desinformação sobre o que era o vírus,” Mureithi disse à CNBC Africa. “Isso causou alguns desafios de saúde mental, colapso mental e esgotamento. Ainda constitui um desafio.”
Para além da prestação de cuidados de saúde, o estresse ligado aos confinamentos obrigatórios causou um aumento de violência doméstica contra a mulher e sentimentos generalizados de ira e de falta de esperança, afirmaram os especialistas.
Um estudo amplo de inquéritos de saúde mental realizado em toda a África concluiu que 49% dos profissionais de saúde declararam ter experimentado problemas de saúde mental relacionados com a pandemia, em comparação com 38% da população em geral. Isso sugere que os governos precisam de focar mais recursos de saúde mental para ajudar os profissionais de saúde da linha da frente a lidarem com o estresse da pandemia, de acordo com uma equipa de investigadores internacionais.
Diferentemente de outras partes do mundo, os africanos registaram taxas mais elevadas de depressão do que qualquer outro problema de saúde mental relacionado com a pandemia. Em África, os problemas de saúde mental foram maiores nos países da África do Norte do que nos países da África Subsaariana, indicou a equipa.
Complicando mais ainda a situação, as respostas de emergência para a COVID-19 tinham a tendência de deixar a prestação de cuidados de saúde mental à margem, mesmo numa altura em que os níveis de ansiedade, depressão e insónia dos africanos aumentavam. A resposta de saúde pública foi um lembrete de que a saúde mental continua drasticamente sem fundos na maior parte dos países, disse Maarooganye.
“Agora estamos na pandemia e encontramo-nos em desvantagem, com um sistema já frágil e sem saber como resolver a situação,” disse Maarooganye. A África do Sul, que possui um dos melhores sistemas de prestação de cuidados de saúde do continente, dedicou apenas 5% dos seus fundos para a prestação de cuidados de saúde mental, acrescentou.
Um inquérito dos escritórios regionais de África, da Organização Mundial de Saúde (OMS), realizado em 2020, concluiu que, entre os 28 países que responderam, todos incluíram alguns aspectos de prestação de cuidados de saúde mental nos seus planos de resposta à COVID-19. Mesmo assim, os problemas de saúde mental são persistentes, numa altura em que a pandemia entra no seu terceiro ano, afirmam os especialistas.
“Em termos gerais, o padrão de problemas de saúde mental esteve a aumentar desde o surgimento da COVID-19,” Dr. Daniel Letsaolo, um psicólogo clínico sul-africano, disse à CNBC Africa.
A OMS recomenda que os países aloquem mais dos seus fundos da prestação de cuidados de saúde para a saúde mental para ajudar os seus cidadãos a recuperarem do estresse causado pela pandemia. A pandemia ainda não terminou e nem terminaram os problemas de saúde mental que com ela vieram, psicólogo clínico sul-africano, Sathasivian Cooper, disse à SABC News.
“Estudos demonstram que existe um sentimento pervasivo de quase falta de esperança… muita ira,” disse Cooper. “As pessoas estão muito indecisas. Precisamos de aprender melhores estratégias para lidar com esta situação.”