EQUIPA DA ADF
À medida que o acesso à internet se espalha rapidamente por todo o continente, a segurança cibernética continua a ser um desafio importante, numa altura em que África carece de profissionais de segurança online, de literacia digital entre a população e de legislação para fazer face ao crime virtual.
“O potencial digital de África não pode ser liberto se os principais desafios de segurança cibernética do continente não forem resolvidos,” Charmaine Houvet, directora sénior de estratégia e política governamental da Cisco Africa, escreveu recentemente para a Fast Company.
Prevê-se que o acesso à internet em África cresça mais de 57%, atingindo 1,1 bilhões de utilizadores até 2029, pelo que as ameaças à segurança continuarão a aumentar, exigindo que os países invistam mais em segurança cibernética, segundo os especialistas.
“Nenhuma economia africana, seja qual for o seu nível de desenvolvimento, pode dar-se ao luxo de ser alvo de criminosos cibernéticos como o ‘ponto fraco’ das redes comerciais globais,” escreveu Houvet.
Houvet recomendou várias formas de os países africanos investirem para melhorar a segurança cibernética nacional e continental:
- Aumentar a utilização de medidas de segurança testadas, como a inteligência artificial (IA), para detectar ameaças de malware e esquemas de phishing e responder-lhes imediatamente.
- Expandir os programas de formação para melhorar a literacia digital e as competências relacionadas com o ciberespaço, sobretudo entre as populações rurais e as mulheres.
- Investir mais em medidas de segurança que reduzam o preço da protecção dos dados online numa região (África Subsariana) que tem alguns dos custos de protecção de dados mais elevados do mundo.
Vários especialistas em segurança cibernética afirmam que os países africanos também têm de investir mais no desenvolvimento de especialistas nacionais em segurança cibernética. O continente precisa de mais de 100.000 peritos qualificados em segurança cibernética para satisfazer a procura de uma população em rápida digitalização, de acordo com a Liquid C2, uma empresa de segurança cibernética sediada no Egipto.
Na sua análise de 2024, a empresa de segurança cibernética KnowBe4 descreveu o ambiente de segurança cibernética em África como “moderado.”
A KnowBe4 observou que o panorama da segurança cibernética em África está a melhorar, mas ainda enfrenta recursos limitados, uma sensibilização inadequada para a segurança cibernética e restrições económicas. No entanto, três países — o Gana, o Quénia e a Nigéria — tornaram-se modelos de gestão da segurança cibernética.
O sector bancário do Quénia, em particular, recebeu elogios como “um desempenho de destaque” pelas suas operações de segurança robustas, de acordo com a KnowBe4.
A dedicação do Gana em melhorar a sua segurança cibernética fez com que passasse de um lugar próximo do fundo do Índice Global de Segurança Cibernética (GCI) da União Internacional de Telecomunicações, composto por 105 países, em 2017, para o primeiro lugar em 2024.
“A liderança do Gana no domínio da segurança cibernética não aconteceu de um dia para o outro. Pelo contrário, o sucesso do país é o resultado de decisões estratégicas e investimentos a longo prazo feitos ao longo da última década,” os investigadores do Banco Mundial escreveram num relatório de 2023 sobre o sucesso da segurança cibernética no Gana. O investimento da liderança nacional na segurança cibernética, incluindo a criação, em 2023, da Autoridade de Segurança Cibernética, foi fundamental para os progressos do Gana.
A Nigéria, onde se encontra o maior número de utilizadores de internet em África, está classificada a meio da métrica de segurança cibernética de cinco níveis da UIT. O país está a melhorar a sua segurança cibernética, mas ainda há muito a fazer, segundo a UIT.
Remi Afon, antigo presidente da Associação de Peritos em Segurança Cibernética da Nigéria, apelou recentemente ao governo federal para que resolva com maior urgência as deficiências da Nigéria em matéria de segurança cibernética.
“Apesar de ser a maior economia de África e um centro tecnológico em ascensão, o desempenho da Nigéria no GCI reflecte vários desafios profundamente enraizados que impedem a sua capacidade de proteger eficazmente a sua infra-estrutura digital,” afirmou Afon numa declaração pública.
Embora alguns países se tenham estabelecido como modelos de segurança cibernética, muitas nações africanas continuam a ter dificuldades em construir as suas bases de segurança cibernética. Para essas nações, a especialista em segurança cibernética, Yasmine Abdillahi, disse que é crucial concentrar-se no básico.
Mesmo medidas simples, como limitar o acesso aos sistemas informáticos, fazer cópias de segurança dos ficheiros e exigir uma autenticação de dois factores, podem reduzir o risco de ataques cibernéticos, escreveu.
“Em ambientes com recursos limitados, as práticas fundamentais e básicas, muitas vezes, são mais fáceis de realizar do que os quadros abrangentes,” Abdillahi escreveu recentemente para o Atlantic Council. “Apesar da utilização crescente de tecnologias avançadas e complexas, como a inteligência artificial, as medidas básicas de segurança continuam a ser surpreendentemente eficazes para diminuir a probabilidade de ameaças cibernéticas e atenuar o seu impacto.”