EQUIPA DA ADF
Uma série de atentados suicidas no norte da Nigéria pode indicar que os extremistas estão a sentir a pressão das campanhas militares bem-sucedidas, segundo os observadores.
Os recentes atentados bombistas em Gwoza, no Estado de Borno, foram os primeiros ataques suicidas na Nigéria em quatro anos. Mais de 30 pessoas morreram e outras 100 ficaram feridas. Os ataques ocorreram depois de as forças governamentais terem recuperado territórios anteriormente ocupados pelos insurgentes, sobretudo no nordeste do país.
“O recente recrudescimento dos atentados suicidas em Gwoza, no Estado de Borno, trouxe mais uma vez para a ribalta a actual ameaça representada pelo terrorismo e pelo extremismo no Norte da Nigéria,” Alhaji Suleiman Abdul-Azeez, porta-voz do Fórum dos Anciãos do Norte, disse ao jornal nigeriano, Saturday Vanguard.
Segundo o analista Al Chukwuma Okoli, os quatro ataques de Gwoza são significativos em vários aspectos.
“Primeiro, podem ser um acto de desespero por parte dos insurgentes,” Okoli escreveu recentemente no The Conversation. “Em segundo lugar, podem assinalar uma mudança estratégica de tácticas. E, por último, podem ser uma forma de comunicação estratégica por parte dos insurgentes.”
Os ataques, que contaram com a participação de mulheres-bomba, ocorreram numa comunidade que acolhe militares e pessoal de segurança que combatem os terroristas. Também foram coordenados, o que sugere um planeamento detalhado.
No entanto, também podem ser um sinal de que os terroristas que sofreram derrotas pelos militares nos últimos meses perderam membros significativos da sua liderança e viram a sua capacidade de acção prejudicada, escreveu Okoli.
Assim, os atentados podem representar o regresso a uma velha táctica que permite aos terroristas mostrar que ainda podem criar o caos com menos recursos.
“Parte da mensagem estratégica parece ter como objectivo aumentar o medo e a ansiedade do público e perturbar a narrativa de que o governo está a ganhar a luta antiterrorista,” escreveu Okoli.
Os atentados de Gwoza são um eco de atentados anteriores ocorridos na Nigéria entre 2011 e 2016. O Boko Haram fez explodir bombas em mercados, mesquitas, escolas e igrejas. Milhares de pessoas morreram.
Os ataques bombistas diminuíram em 2016, depois de o governo federal da Nigéria ter declarado que tinha “tecnicamente derrotado” o Boko Haram. Para alguns, os recentes atentados de Gwoza levantam questões sobre se a Nigéria estaria a regressar a um novo período de terror e destruição.
“O terrorismo prospera com base no oportunismo táctico e os atentados suicidas são uma estratégia fundamental nesse sentido,” escreveu Okoli. “O ressurgimento do terrorismo suicida na Nigéria constituiria um grande revés na luta contra o terrorismo no país.”
Os líderes comunitários do nordeste da Nigéria estão a pedir ao governo que faça mais para combater as causas do extremismo na região.
“Um dos principais factores que impulsionam os atentados suicidas na região é a falta de oportunidades económicas e a pobreza generalizada,” Abdul-Azeez disse ao Saturday Vanguard.
A Dra. Sunny Ifedinma, especialista em combate ao terrorismo e director da Academia Africana de Combate ao Terrorismo e Segurança, na Inglaterra, apelou à criação de uma agência governamental para combater o terrorismo no norte da Nigéria. Ela vê nos atentados de Gwoza a impressão digital do patrono do Boko Haram, a al-Qaeda.
“É como se todo o capítulo estivesse a ser reaberto e parece ser um capítulo muito mortífero — múltiplos ataques num só dia. Vejo a caligrafia do terrorismo da al-Qaeda porque é a sua marca registada,” Ifedinma disse ao Vanguard. “Não é possível que um país que enfrenta este tipo de problema possa passar sem uma instituição antiterrorista adequada.”