EQUIPA DA ADF
Quando a pandemia da COVID-19 eclodiu, o advogado David Ngwerume não ficou apenas sentado à espera que o tribunal voltasse a abrir.
Ele foi inspirado a criar arte com uma mensagem de esperança e unidade, enquanto ele e outros cidadãos zimbabweanos aderiam às restrições e directrizes destinadas a prevenir a propagação da doença.
Desde a primeira vez que o governo impôs um confinamento obrigatório de três semanas, no dia 30 de Março de 2020, Ngwerume esteve ocupado. As suas esculturas socialmente conscientes estão a chamar atenção internacional.
“Houve uma mudança mais para o meu lado da arte,” disse à ADF. “Os confinamentos obrigatórios deram-me mais tempo no meu estudo de arte e evocaram a minha veia criativa.”
O cidadão de 40 anos de idade diz que fez mais de 100 esculturas desde então. Elas ficam espalhadas na sua casa e no seu quintal.
“Esta criatividade não é de nenhum modo uma surpresa,” Josiah Kusena, director interino do Conselho Nacional de Artes do Zimbabwe, disse à voz da América. “É uma apreciação pelo artista de que a COVID-19 destruiu meios de subsistência, mas é também uma apreciação de que houve progresso em termos de como conter a COVID-19.”
Encontrar o equilíbrio para estas paixões é um desafio para Ngwerume, que gere a sua própria firma de advogados. Os seus dois mundos (direito e arte) não são tão diferentes.
“A arte é uma disciplina enquanto o direito é uma prática,” disse. “Mas ambos exigem concentração e eu sinto-me capacitado pelo ethos criativo em tudo o que faço.
“Também penso que fez com que eu fosse um dos melhores advogados do Zimbabwe!”
Enquanto ainda adolescente, Ngwerume aprendeu a esculpir do seu mentor, o renomado escultor zimbabweano, Cosmas Muchenje.
Como estudante de direito, Ngwerume descobriu uma paixão por ajudar as outras pessoas, mas nunca sentiu que tinha de escolher entre o direito e a arte.
“Já chegou a ser um dilema,” disse, “mas eu venci quando compreendi que fui criado para fazer ambos.”
Ngwerume alcançou fama a nível nacional quando a sua obra “Escalas da Justiça” foi exibida em frente do Tribunal Supremo, em Harare e Bulawayo, em 2019.
Ele disse recentemente que foi comissionado pela União Africana para criar uma obra com o tema COVID para ser apresentada na sede daquela organização, em Adis Abeba, Etiópia. O seu trabalho também foi exibido no Parlamento do Zimbabwe, no Tribunal de Trabalho, em Harare, e na Faculdade de Direito das Mulheres, da Universidade do Zimbabwe.
Para um artista que sempre reflectiu os problemas do dia-a-dia, a inspiração veio rápida e facilmente na era da COVID-19.
“Todos estavam a ser encorajados a usarem máscaras,” disse. “Penso que a COVID uniu o mundo e a humanidade chamando a atenção para um propósito comum. Usar uma máscara não é apenas proteger a si próprio, é proteger o mundo todo. É unificador.”
O Zimbabwe registou 132.724 casos de COVID-19, com 4.674 mortes, de acordo com dados do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, até ao dia 26 de Outubro.
Ngwerume foi pessoalmente impactado pela pandemia. Ele perdeu familiares, amigos próximos e colegas do direito.
Reuniu todas as suas emoções (ira, perda, medo, tristeza, alívio e esperança) para criar aquilo que ele chama de “Colecção de COVID-19.”
Ele foi manchete nos jornais com a obra que ele chama de “O Novo Normal,” que esculpiu a partir de um bloco de granito preto do Zimbabwe e poliu até que brilhasse com salpicos de minério de ferro. Apresenta uma mulher usando uma máscara facial e um doek (lenço) com um formato semelhante ao continente.
Ngwerume geralmente publica as suas obras para milhares de seguidores nos seus canais das redes sociais. O seu desejo é de partilhar a sua arte à distância para que ninguém precise de vir até ao seu estúdio e possivelmente propagar a COVID-19.
Ele sonha em construir um centro de arte de 200 hectares que se dedicará à escultura e à cultura zimbabweanas.
Também espera utilizar parte dos ganhos dos leilões de algumas das suas obras de arte para adquirir equipamento de protecção individual para os profissionais de saúde zimbabweanos.
Ngwerume ficou feliz pela reacção aos seus trabalhos.
“Estas obras foram uma vitória, e esta atenção motivou-me ainda mais,” disse. “Quando o mundo inteiro fica atento, o melhor é acreditar que você pode fazer mais, que pode mudar este mundo para ser um lugar melhor.
“Este trabalho está a captar um momento sem precedentes no tempo.”