EQUIPA DA ADF
Os investigadores da Organização Mundial de Saúde (OMS) terminaram a sua viagem de três semanas à Wuhan, China, onde procuravam pelas raízes da pandemia da COVID-19 e partilharam algo sobre o que descobriram.
Depois de permanecerem num silêncio escrupuloso durante a sua visita, os investigadores determinaram que:
- O coronavírus que causa a COVID-19 provavelmente originou em morcegos da região sul da China ou de partes do sudeste asiático.
- O vírus passou para os seres humanos através de um animal intermediário, embora não esteja claro de que tipo de animal se trata. Animais selvagens, produto de criação, são a provável ponte para os seres humanos.
- Embora o mercado de Huanan tenha sido o ponto focal inicial do surto, 13 estirpes do vírus da COVID-19 estiveram a circular em Wuhan onde a COVID-19 surgiu em Dezembro de 2019, indicando que o vírus estava espalhado pela cidade.
“O possível caminho a partir de qualquer que tenha sido a espécie animal até chegar ao mercado de Huanan pode ter sido muito longo e complexo, envolvendo também movimentos de travessia de fronteiras,” líder da equipa, Peter Ben Embarek, disse durante uma conferência de imprensa que durou aproximadamente três horas de tempo, em Wuhan, no dia 9 de Fevereiro.
Os investigadores trabalharam com contrapartes chinesas para rever os dados recolhidos por volta da altura em que o vírus foi anunciado, em finais de 2019. Eles também se reuniram com o primeiro paciente de COVID-19 registado, um homem de 40 e poucos anos de idade, sem nenhum histórico de participação em viagens.
As autoridades chinesas forneceram uma variedade de dados, mas os investigadores defrontaram-se com obstáculos quando solicitaram dados de pacientes anónimos de 174 casos do estágio inicial do surto, em Wuhan. A equipa recebeu apenas um resumo dos dados, de acordo com Dominic Dwyer, um especialista australiano em matérias de doenças contagiosas, que fazia parte da equipa.
Dwyer disse à SBS News, da Austrália, que rever dados brutos é um procedimento normal na investigação de surtos de doenças. Dwyer afirmou que não está claro por que razão as autoridades chinesas retiveram aqueles dados.
O governo chinês trabalhou no sentido de acabar com os debates relacionados com o surto, pouco depois da eclosão do mesmo, incluindo o amordaçamento do denunciante, Li Wenliang, o médico de Wuhan que esteve entre as primeiras vítimas da pandemia.
Durante o ano transacto, a China ofereceu uma variedade de teorias não substanciais sobre a fonte do vírus, maior parte das quais desculpabilizando o governo, incluindo a mais recente afirmação de que o vírus tenha entrado no mercado de produtos frescos de Huanan através de alimentos congelados importados.
Mas Embarek explicou que não existe clareza se um vírus encontrado em alimentos congelados pode infectar pessoas.
De acordo com o zoólogo, Peter Daszak, o mercado de Huanan demonstrou provas claras de vendedores que comercializavam animais vivos, o que pode ter causado uma infecção em seres humanos. Daszak é o presidente da Eco Health Alliance, uma instituição sem fins lucrativos que se dedica à prevenção de pandemias.
“Existem animais que chegam a mercados susceptíveis,” disse Daszak ao The New York Times. “Alguns destes têm origem em lugares onde sabemos que se encontra o parente mais próximo do vírus. Então, existe um verdadeiro sinal de alerta. …O que temos agora são uma ligação clara e um potencial caminho.”
Apesar disso, os pesquisadores chineses informaram que não existiam comprovativos da existência de COVID-19 em 30.000 animais dos quais eles recolheram amostras no mercado, disse Marion Koopmans, uma virologista alemã que fazia parte da equipa de investigação.
“Estes podiam, assim de forma tão fácil, ter revelado a prova concreta,” disse ela na conferência de imprensa da OMS, no dia 12 de Fevereiro. “Isso realmente fornece algumas pistas para os próximos passos do estudo.”
Alguns dos animais do mercado, por exemplo, são provenientes de zonas que podem ter sido infectados por morcegos.
“Isto, na minha opinião, é uma descoberta de vital importância,” disse Daszak.
Embarek disse que a equipa da OMS espera regressar a Wuhan para realizar mais pesquisas.
“Temos uma compreensão muito melhor sobre o que aconteceu no mercado e o papel que o mercado desempenhou em Dezembro,” disse na conferência de imprensa da OMS. “Ainda estamos longe de poder compreender a origem e identificar a espécie do animal ou o caminho através do qual o vírus pode ter entrado nos seres humanos.”