EQUIPA DA ADF
Com as suas próprias águas numa situação de pesca excessiva, a China está a enviar os seus arrastões industriais e semi-industriais altamente subsidiados para locais de pesca próximos de África, Austrália, Indonésia, Península coreana, Filipinas e América do Sul.
Nesses locais, os navios chineses frequentemente navegam em zonas económicas exclusivas, pescando ilegalmente toneladas de peixe destinado ao consumo local e destruindo os ecossistemas que ajudam o peixe a sobreviver.
Na região Indo-Pacífica, por exemplo, a China é responsável por 95% de toda a pesca ilegal. Este ano, líderes da Austrália, Índia, Japão e Estados Unidos lançaram uma iniciativa que visa acabar com a pesca ilegal da China na região. O plano é utilizar a tecnologia de satélite para desenvolver um sistema de rastreamento de embarcações suspeitas de pesca ilegal.
“A China tornou-se o maior perpetrador do mundo da pesca ilegal,” Charles Edel, presidente do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, da Austrália, disse ao Financial Times. “Eles esgotam drasticamente as unidades populacionais de peixe a nível global e colocam em risco os meios de subsistência tradicionais de muitos países, por isso, qualquer passo dado para rastrear, identificar e acabar com este tipo de actividades traria benefícios ambientais e de segurança para a região.”
A China lidera a maior frota de pesca em águas longínquas do mundo e é o pior infractor da pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN) do mundo, de acordo com o Índice de Pesca INN. Entre as principais 10 empresas envolvidas na pesca ilegal, a nível global, oito são provenientes da China.
Próximo das Ilhas Galápagos, ao largo da costa do Equador, cerca de 300 arrastões chineses foram encontrados a pescar, representando 99% da pesca próximo das ilhas, comunicou o grupo de conservação, Oceana, em 2020.
“O nosso mar não pode suportar mais esta pressão,” Alberto Andrade, um pescador das Ilhas Galápagos, disse ao The New York Times. “As frotas industriais estão a acabar com as unidades populacionais de peixe e receamos que no futuro não possa haver pesca. Nem a pandemia os impediu.”
Os receios de Andrade são bem fundamentados, uma vez que aproximadamente 90% das unidades populacionais de peixe de água salgada do mundo encontram-se completamente exploradas, sobreexploradas ou esgotadas.
Atacar o continente africanoA pesca ilegal está a levar as unidades populacionais de peixe de certas partes de África à beira do colapso.
No Gana, por exemplo, pequenas unidades populacionais de peixe pelágico, como a sardinela, reduziram em 80% nas últimas duas décadas. Uma espécie, a sardinela aurita, encontra-se em colapso total, de acordo com a Fundação para a Justiça Ambiental.
Um relatório de 2022, da Financial Transparency Coalition, concluiu que aproximadamente metade dos arrastões industriais e semi-industriais do mundo, envolvidos na pesca ilegal, operam em África. A África Ocidental, o epicentro do mundo da pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN), atrai 40% dos arrastões ilegais do mundo. A pesca INN lesa o continente em cerca de 11,49 biliões de dólares anualmente.
A maioria das embarcações de pesca ilegal em África são chinesas, mas nem sempre é fácil identificar o beneficiário final de uma embarcação.
No Gana, 90% das embarcações de pesca registadas são ganesas no papel, mas, na verdade, são propriedade de empresas chinesas.
Este é um processo conhecido como “flagging in,” significando que empresas estrangeiras usam e abusam de regulamentos locais para atribuir bandeira a uma embarcação de pesca detida e operada por estrangeiros, colocando-a num registo africano para pescar em águas locais. Isso ajuda os proprietários das embarcações a evitarem encargos financeiros e outros regulamentos. Existe pouca supervisão dos registos abertos online.