EQUIPA DA ADF
Criado por uma mãe trabalhadora numa pequena quinta no Quénia, John Oroko enfrentou muitas dificuldades e desenvolveu uma paixão para a resolução de problemas.
Como adulto, ele criou uma plataforma digital que integra agricultores de pequena escala, pastores e comunidades de pescadores em cadeias de fornecimento globais. Ele e seu co-fundador baptizaram a sua empresa como Selina Wamucii, para honrar as suas mães.
No ano passado, Oroko testemunhou a devastação causada por gafanhotos do deserto. Foi um apelo para acção.
Selina Wamucii recentemente lançou um aplicativo para telemóveis chamado Kuzi que utiliza inteligência artificial (IA) para lutar contra as pragas que devoram as culturas enquanto a segunda vaga está a assolar a África Oriental.
“Não é uma catástrofe pequena,” disse Oroko à ADF. “Receio pensar o que significa para os meios de subsistência das comunidades já vulneráveis neste continente.”
A pior invasão de gafanhotos em 70 anos ameaçou o fornecimento de alimentos na África Oriental, onde milhares de pessoas já estavam a passar fome. Em meados de Abril de 2020, mais de 25 milhões de hectares de terras de cultivo estavam debaixo de ataques de gafanhotos em todo o Corno de África.
“Vimos em primeira mão a devastação causada por gafanhotos e o impacto que teve na vida de muitos dos nossos agricultores com quem interagimos frequentemente,” disse Oroko. “Alguns são nossos familiares, amigos e vizinhos.
“Como se explica que ninguém conseguiu prever isso?”
Isso despertou a ideia do Kuzi.
O aplicativo gratuito utiliza dados de satélite e de sensores do solo, observações meteorológicas a partir do solo e aprendizagem para prever procriação, rotas e ocorrência de migração dos gafanhotos do deserto. Gera um índice de procriação de gafanhotos em tempo real e um mapa de calor ao vivo de gafanhotos na região com potenciais rotas migratórias.
O nome do aplicativo é o nome em Swahili do estorninho-carunculado, uma ave famosa na África Oriental e Austral por ser comedora de gafanhotos.
A principal vantagem do Kuzi é a supervisão contínua e a detecção prévia, em particular na fase de procriação,” considerou Oroko. “Controlar os gafanhotos no seu estágio de procriação é eficaz, em parte, por causa da natureza não dispersa dos gafanhotos nesta altura e também porque a eliminação pode ser alcançada com intervenções não perigosas como pesticidas biológicos.”
O Kuzi utiliza aprendizagem aprofundada — um elemento da IA que faz a emulação do cérebro humano para processar dados em padrões para a tomada de decisões — de modo a identificar a formação de pragas de gafanhotos. Depois, o aplicativo envia alertas gratuitos em forma de mensagem para agricultores e pastores, dois a três meses antes da altura em que se espera que os gafanhotos ataquem as machambas e o gado, permitindo que haja uma intervenção antecipada.
Os alertas vêm em línguas regionais: Amárico, Somali e Swahili.
Oroko sente-se extremamente sortudo por esta empresa ter conseguido reunir todos os recursos.
“Recursos de aprendizagem automática e computacional acessíveis e baseados na nuvem ajudaram a processar esta vastidão de dados, construir modelos matemáticos e criar aplicativos com capacidade preditiva,” explicou Oroko. “É algo que seria extremamente difícil e dispendioso, para não dizer impossível, fazer apenas alguns anos atrás.”
Os gafanhotos emigraram para o norte do Quénia e o sul de Etiópia quando as águas das chuvas secaram, conforme os especialistas, como Keith Cressman, tinham previsto.
“Tínhamos previsto estes acontecimentos em Outubro. Disse o oficial sénior de previsão de gafanhotos na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, na página da internet da organização. “Tínhamos providenciado alertas antecipados para ambos países para esperarem isto pouco depois de meados de Dezembro, e isso foi o que realmente aconteceu.
“Desde essa altura, eles têm chegado quase todos os dias.”
Assim como uma sentinela, o Kuzi ajuda os seus usuários a defenderem a sua terra. Oroko prevê que o seu aplicativo se espalhe em toda a África e chegue ao Médio Oriente e à Ásia.
A segunda vaga é alarmante, disse, mas ao contrário da primeira, não foi uma surpresa. Lutar contra uma praga é exactamente o que ele acredita que foi chamado a fazer.
“Este é um tempo entusiasmante para ser um africano na vanguarda do crescimento tecnológico do continente,” disse. “É a oportunidade da nossa geração.”