EQUIPA DA ADF
O terrorismo desenfreado desestabiliza o Sahel durante anos e desempenhou um papel nos golpes militares no Burquina Faso, no Mali e no Níger. Apesar das suas promessas de segurança, as juntas não conseguiram, em grande medida, impedir os ataques terroristas.
Centenas de mercenários russos estão na região e foram acusados de violações generalizadas de direitos humanos. Agora, um outro contingente de mercenários entrou na luta, facilitado por uma empresa militar privada turca chamada Sadat.
“Os três países dependem dos drones turcos e têm contactos pessoais próximos na indústria de defesa turca,” o analista Liam Karr, do Instituto para o Estudo da Guerra, escreveu no seu relatório de 11 de Julho.
“Os mercenários sírios financiados pela Turquia também começaram a operar pelo menos no Níger e potencialmente no Burquina Faso em 2024 para proteger locais económicos cruciais onde o governo turco tem uma participação partilhada, como as minas.”
Em Maio, o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma organização de vigilância que acompanha o conflito na Síria, afirmou que Sadat tinha enviado 1.100 mercenários sírios treinados pela Turquia para o Burquina Faso e o Níger desde Setembro de 2023.
Sadat também terá treinado membros da nova força de segurança privada que protege o líder da junta do Mali, o Coronel Assimi Goïta.
O destacamento para o Sahel não constitui a primeira vez que a Sadat envia mercenários para África.
No início de 2020, a Sadat terá enviado 5.000 mercenários sírios para impedir um ataque do Marechal Khalifa Haftar, que é apoiado por mercenários russos do Grupo Wagner.
De acordo com a BBC, a Turquia reconheceu anteriormente a presença de combatentes sírios na Líbia, mas não admitiu tê-los recrutado.
Com a sua entrada no Sahel, a Sadat parece estar novamente a competir com a Rússia pelos negócios, havendo mesmo quem se refira à Sadat como o “Grupo Wagner turco.”
Os peritos dizem que, tal como as anteriores ligações do Grupo Wagner à Rússia, a Sadat é essencialmente um instrumento do exército turco. Pode não empregar directamente os seus próprios mercenários, mas recruta, treina e apoia mercenários sírios.
“As comparações com os mercenários russos do Grupo Wagner realçam a crescente atenção e crítica dirigida a [Sadat],” o analista da Grey Dynamics, Jawhar Farhat, escreveu no dia 3 de Junho. “Além disso, as acusações de envio de combatentes para zonas de conflito como o Níger e a África Ocidental … sublinham a crescente atenção internacional às operações da Sadat.”
A Sadat negou ter recrutado ou enviado mercenários sírios para a Líbia ou para o Níger, dizendo à BBC que prestava “serviços de consultoria, formação e logística às forças armadas e às forças de segurança no domínio da defesa e da segurança, de acordo com o Código Comercial turco.”
No dia 15 de Julho, a BBC noticiou que alguns dos combatentes sírios da Sadat no Níger acabaram por ficar sob comando russo, combatendo organizações extremistas violentas ligadas à al-Qaeda e ao grupo do Estado Islâmico na região de Liptako-Gourma, a zona da tríplice fronteira entre o Burquina Faso, o Mali e o Níger.
Dois homens sírios, usando pseudónimos, que anteriormente lutaram como rebeldes apoiados pela Turquia contra as forças governamentais sírias, disseram à BBC que estavam em conflito com a perspectiva de trabalhar com o Ministério da Defesa russo, que tem apoiado o presidente autoritário da Síria.
“Odeio estas forças [russas],” disse um deles, “mas tenho de ir por razões económicas.”