EQUIPA DA ADF
No início deste ano, durante um breve período, a população do leste da República Democrática do Congo (RDC), cansada da guerra, teve razões para estar optimista em relação a um processo de paz há muito prometido.
A partir de Dezembro de 2022, a Força Regional da Comunidade da África Oriental (EACRF) supervisionou o processo de entrega das bases dos rebeldes do M23 à força de manutenção da paz.
Mas o ténue cessar-fogo não se manteve, uma vez que os combates recomeçaram na província do Kivu do Norte em Setembro, de acordo com o porta-voz da sociedade civil, Telesphore Mithondeke.
“Na última semana, novas vagas de rebeldes do M23 invadiram o território de Masisi através da vizinha Rutshuru. Os homens do M23 estão a regressar do treino acelerado para preparar ataques às posições das FARDC,” disse num comunicado de imprensa de 20 de Setembro, segundo o jornal queniano, The East African.
O que se supunha ser uma retirada gradual dos militantes insurgentes não se verificou, de acordo com numerosos relatos em primeira mão.
“Não só não abandonaram as posições que conquistaram, como continuam a massacrar a população civil e recusam o pré-acantonamento e o acantonamento,” afirmou o Presidente do Congo, Felix Tshisekedi, no seu discurso de 20 de Setembro perante a Assembleia Geral das Nações Unidas.
“Estão a exigir um diálogo que nunca lhes será concedido.”
A rebelião regional do M23 continua a corroer todas as perspectivas de paz numa região que há décadas se encontra em guerra.
O grupo de etnia Tutsi reapareceu no final de 2021, após anos de dormência, e apoderou-se de vastas áreas do Kivu do Norte ao longo da fronteira entre a RDC e o Ruanda.
Tshisekedi tem acusado repetidamente o Ruanda de apoiar o M23 com armas e treino. Um painel independente de peritos das Nações Unidas fez afirmações semelhantes.
“Este grupo terrorista, que é um representante do Ruanda, não honrou nenhum dos compromissos assumidos pelos chefes de Estado da região no âmbito dos processos de Luanda e Nairobi,” afirmou Tshisekedi.
O porta-voz do M23, Lawrence Kanyuka, disse que o recrudescimento dos combates a 1 de Outubro foi uma resposta ao discurso de Tshisekedi.
“O M23 condenou a decisão do Presidente Tshisekedi de entrar em guerra, depois de muitos apelos em todo o mundo para uma resolução pacífica do conflito em curso,” disse ao jornal ruandês, The New Times.
O Presidente do Ruanda, Paul Kagame, refutou as conclusões da ONU.
“A maior parte das coisas relatadas por estes peritos não corresponde aos factos tal como os conhecemos,” disse numa entrevista de 12 de Setembro à revista Jeune Afrique. “Neste relatório, pouco ou nada se diz sobre a história dos problemas do Congo, sobre a responsabilidade das instituições congolesas, sobre os crimes cometidos pelas FARDC.”
Na reunião da Assembleia Geral da ONU, o Ruanda reiterou a sua acusação de que as FARDC armaram e colaboraram com milícias de autodefesa conhecidas como Wazalendo, que significa “patriotas” em Kiswahili.
Mithondeke disse que os rebeldes do M23 atacaram os Wazalendo a 19 de Setembro, quando eclodiram os combates entre as forças de autodefesa perto da aldeia de Buhumba, no Kivu do Norte.
“Durou todo o dia e causou uma série de danos colaterais à população, incluindo deslocações forçadas em massa e a pilhagem de bens privados,” afirmou.
Kagame disse que as acusações de Tshisekedi têm como objectivo desviar a atenção da culpabilidade do governo da RDC e das FARDC no conflito.
“Por que não culpar as pessoas certas pela situação?” disse. “Isso não é da minha responsabilidade.
“Os membros do M23 são cidadãos congoleses.”