Ataques em grupo e indiscriminados na região do Sahel. Carros-bomba suicidas na Somália. Aldeias incendiadas em Moçambique.
A violência islâmica matou mais de 19.100 pessoas em África, em 2022, um aumento de 48% em comparação com o ano anterior.
Isso é de acordo com um novo relatório do Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), que demonstrou que os grupos extremistas violentos cometeram 6.859 ataques em África, no ano passado, um aumento de 22% em comparação com 2021. O aumento em mortes ligadas a militantes islamitas foi marcado por um aumento de 68% em mortes envolvendo civis.
O número de mortes do ano passado supera o pico do ano anterior de 18.850 mortes ligadas a militantes islamitas em 2015, afirma o relatório.
A maior parte da violência ocorreu na região do Sahel — essencialmente em Burquina Faso, Mali e Níger — e na Somália. Estas áreas representam 77% de todos os incidentes violentos registados no continente em 2022.
Os grupos extremistas do Sahel e da Somália — incluindo o al-Shabaab, o Ansaroul Islam, a Província do Estados Islâmico do Sahel (IS Sahel), o Estado Islâmico na Somália e o Jama’at Nusrat al-Islam wal Muslimeen (JNIM) — são notoriamente violentos.
Um professor que testemunhou um ataque contra uma aldeia maliana, em Março de 2022, disse a Human Rights Watch que os homens armados “dispararam em tudo.”
“Eles apenas matam, não procuram interrogar, eles não dizem nada excepto ‘Deus é grande’ e é tudo,” disse o professor.
Um homem de 75 anos de idade, de uma aldeia maliana diferente, descreveu a chacina não provocada durante a qual ele foi alvejado.
“Eu estava no poço, a dar água aos meus animais, por volta das 9 horas da manhã,” o homem disse a Human Rights Watch. “Os atacantes primeiro capturaram cinco pessoas entre nós, colocaram-nos de joelhos e dispararam contra eles. Depois voltaram para nós e um deles começou a disparar contra mim a uma curta distância. Por sorte minha, a bala passou por cima da minha cabeça, mas ele alvejou-me no pé.”
O maior aumento em ataques violentos de militantes islamitas foi no Sahel, onde 2.737 eventos violentos foram registados, correspondendo a um aumento de 36%. As mortes no Sahel envolvendo grupos militantes islamitas aumentaram para 7.899, um aumento de 63% em comparação com 2021. Burquina Faso e Mali representaram 90% de todos os eventos violentos no Sahel.
A presença dos mercenários do Grupo Wagner da Rússia exacerbou a violência contra civis na região, visto que o grupo esteve ligado a 726 mortes de civis no ano passado, de acordo com o ACSS.
“O Sahel agora representa 40% de todas as actividades violentas causadas por grupos militantes islamitas em África, mais do que em qualquer outra região do continente africano,” afirmou o relatório.
A região registou 978 ataques de militantes islamitas contra civis no ano passado, um aumento de 49%. O Sahel agora representa 60% de todas as mortes que tinham como alvo civis, ligadas a extremistas violentos no continente, de acordo com o ACSS.
O JNIM foi responsável pela maioria dos ataques e mortes no Sahel, enquanto o IS Sahel, que recentemente ganhou ímpeto, foi responsável pelo resto.
Na Somália, o al-Shabaab foi responsável pelo gritante aumento de 133% em mortes ligadas à violência de grupos militantes islamitas. Houve 6.225 mortes registadas ligadas ao grupo em 2022, excedendo os totais de 2020 e 2021 combinados. O aumento no número de mortes coincidiu com o aumento de 34% em ataques envolvendo dispositivos explosivos improvisados.
Houve um aumento de 23% na violência ligada ao al-Shabaab na Somália, em 2022. Os 2.553 actos violentos do grupo na Somália representam 37% de todos os eventos extremistas em África.
As batalhas do al-Shabaab contra o Exército Nacional da Somália, as forças dos Estados-Membros Federais, milícias de clãs e da Missão de Transição da União Africana na Somália aumentaram em 2022, depois de o Presidente Hassan Sheikh Mohamud ter apelado para uma ofensiva total contra o grupo, em Maio. Desde então, o al-Shabaab atacou cada vez mais os civis.
Em Outubro de 2022, o al-Shabaab foi acusado de explosões de dois carros-bomba, em Mogadíscio, que mataram pelo menos 100 pessoas e feriram 300. Os ataques tinham como alvo o Ministério de Educação da Somália e uma escola.
“O nosso povo que foi massacrado … incluindo mães com os seus filhos nos braços, pais que tinham problemas de saúde, estudantes que tinham sido enviados para a escola, empresários que tinham dificuldades com a vida dos seus familiares,” disse Mohamud numa reportagem da Al Jazeera.
Enquanto a violência no Sahel e na Somália aumentava tragicamente no ano passado, as mortes ligadas a extremistas na Bacia do Lago Chade, Moçambique, África do Norte mantiveram-se ou registaram um declínio,