EQUIPA DA ADF
Nos últimos anos, o uso de veículos aéreos não tripulados (VANTs), também conhecidos como drones, multiplicaram-se por toda a África. Os drones têm sido utilizados para fertilizar as culturas, fazer a monitoria da vida selvagem e fazer a entrega de medicamentos em locais de difícil acesso.
A tecnologia dos drones cresceu de forma rápida em todo o mundo e projecta-se que venha a ser uma indústria global de 43 bilhões de dólares até 2024. De muitas formas, África tornou-se na pista de testes para a tecnologia de drones.
A África do Sul é o maior mercado de drones do continente, empregando-os na mineração, segurança, agricultura, entre outros sectores. Gana, Quénia e Ruanda são actores cada vez mais importantes da tecnologia de drones.
Até há bem pouco tempo, os VANTs eram quase que exclusivamente uma ferramenta dos governos e exércitos nacionais, que os utilizavam no campo de batalha e para apoiar missões de manutenção de paz. Contudo, o desenvolvimento de drones pequenos e comercialmente disponíveis mudou o campo de actuação, dando aos extremistas algo que raramente teriam: poder aéreo.
Os drones estão rapidamente a tornar-se uma parte fundamental do arsenal dos insurgentes em todo o continente, levantando o espectro de que os VANTs possam ser utilizados para atacar alvos civis e militares.
Os rebeldes da província de Cabo Delgado, em Moçambique, utilizaram drones para rastrear os movimentos das tropas e identificar potenciais alvos de ataques, de acordo com o Ministro do Interior, Amade Miquidade.
Os insurgentes da República Democrática do Congo e os combatentes do al-Shabaab, na Somália, também utilizaram drones para o reconhecimento e identificação de potenciais alvos.
Embora os insurgentes estejam a utilizar drones para o reconhecimento e para receberem suprimentos, especialistas afirmam que é uma questão de tempo até que eles sejam aplicados em usos mais violentos. Na região de Jammu, da Índia, por exemplo, um drone que transportava explosivos despenhou numa base da Força Aérea, em Julho. Os rebeldes Houthi do Yemen utilizaram drones para atacar alvos na Arábia Saudita.
“Enquanto os VANTs estiverem comercialmente disponíveis em todo o mundo, grupos com experiência de fabrico de bombas e com conhecimentos técnicos em geral podem desenvolver sozinhos variações locais e adaptações daquilo que os grupos jihadistas fizeram no Médio Oriente na década passada,” escreveu o pesquisador norueguês, HåvardHaugstvedt, no Journal of Strategic Security.
Especialistas em matérias de segurança estão particularmente preocupados com dois tipos de drones: drones de asa fixa, que são capazes de transportar cargas e viajar longas distâncias, e os drones do tipo quadricóptero, que têm a capacidade de sobrevoar um alvo e deixar uma carga de forma precisa.
Haugstvedt realizou uma pesquisa pioneira sobre o uso de drones pelos extremistas e concluiu que, apesar de os grupos extremistas africanos poderem ter ligações com os que se encontram no Médio Oriente, uma transferência de tecnologia na forma de explosivos transportados por drones está a levar mais tempo para acontecer.
“Não obstante, com base na … revisão de actores não estatais com experiência de VANTs, para além das conclusões de relatórios de uma cooperação entre grupos, os VANTs armados podem descer nas zonas de conflito africanas,” escreveu Haugstvedt.
Enquanto os drones comercialmente disponíveis tentam chegar às mãos dos extremistas, os governos estão à procura de formas para os rastrear e a preparar medidas de combate para potenciais alvos.
Escrevendo para o Instituto de Estudos de Segurança da África do Sul, a pesquisadora Karen Allen sugere que os países africanos deviam regular os drones nos termos de leis africanas que regulam as viaturas de entrega de explosivos, químicos e outros armamentos.
Os países também deviam aplicar os mesmos padrões de registo que utilizam para os telemóveis e identificar a origem de grandes quantidades de drones nas fronteiras quando estes forem trazidos, escreveu Allen.
Estes passos ajudariam a reduzir a habilidade dos insurgentes de adquirirem e utilizarem drones livremente, reduzindo assim a potencial ameaça para alvos civis e militares, acrescentou ela.
“Mesmo quando utilizados para a vigilância em vez de ataques, os drones podem fornecer aos insurgentes uma vantagem estratégica e operacional que poderia ameaçar a habilidade das forças de segurança para proteger os cidadãos e estabilizar as zonas de conflito,” escreveu Allen.