EQUIPA DA ADF
Atecnologia de drone barata e amplamente disponível representa um potencial para revolucionar a entrega de medicamentos, o tratamento de culturas e a vigilância em toda a África. Mas onde os inovadores vêem uma oportunidade para melhorar as vidas, os grupos extremistas vêem uma possibilidade para tirar vidas.
No Médio Oriente, grupos terroristas começaram a armar os drones retirados das prateleiras para atacar civis e alvos militares. Agora, especialistas estão a alertar que a táctica mortal possa estar a vir para a África.
“Por 2.000 dólares é possível violar qualquer cerca do mundo,” disse Aaditya Devarakonda, PCA da Dedrone, descrevendo os drones para a revista Forbes. “É a ameaça mais assimétrica que existe.” A Dedrone garante a segurança do espaço aéreo para proteger as organizações de drones maliciosos.
Drones controlados por meio de sinal, também conhecidos como sistemas aéreos não pilotados, remontam de meados de 1930. Hoje, os drones variam de pequenos brinquedos controlados por rádio, de 30 dólares, até aqueles construídos com o tamanho de uma aeronave. No meio disso encontra-se uma variedade surpreendente de dispositivos capazes de transmitir vídeo, acompanhar movimentos de tropas e transportar carga.
A sofisticação de drones comprados sem recibo, para lazer, é espantosa. Um drone simples que custa menos de 1.000 dólares inclui quatro motores recarregáveis com 30 minutos de tempo de voo, uma câmara de três eixos que filma vídeos de alta resolução, um sensor capaz de filmar vídeos no período nocturno e uma transmissão de vídeo com alcance de mais de 11 quilómetros.
A maior parte dos drones menos dispendiosos não pode transportar muito — menos de 2 quilogramas — mas várias empresas desenvolveram drones capazes de transportar até 200 quilogramas. Tais drones são vendidos por cerca de 250.000 dólares. Isso demonstra o ritmo do desenvolvimento dos drones no Século XXI: um drone com uma capacidade semelhante seria inconcebível a este preço 20 anos atrás.
O escritor de ciências, Kashyap Vyas, disse que os últimos 10 anos foram considerados como uma “grande explosão” no desenvolvimento de drones.
“Espera-se que os drones sejam cada vez menores e mais leves, com maior tempo de duração da bateria e maior tempo de voo,” escreveu Vyas para a página da internet, Interesting Engineering. “No mercado civil, desenvolvimentos na melhoria do tempo de voo estão a permitir que eles sirvam como plataformas de entrega, para uso em serviços de emergência e recolha de dados em vários locais que são muito perigosos para os humanos, como em centrais eléctricas ou incêndios.”
Agora algumas pessoas descrevem a tecnologia de drones como uma caixa de Pandora dos dias modernos, no sentido de que aquilo que começou para coisas como fotografia aérea, desenvolveu-se e evoluiu de formas positivas e terríveis.
DRONES EM ÁFRICA
Até hoje, não houve relatos de uso de drones
como armas por grupos terroristas em África, mas especialistas alertam que isso pode mudar dentro
de pouco tempo.
Murtala Abdullahi, jornalista nigeriano que cobre questões de segurança para o site HumAngle, disse que o acesso a drones é rigorosamente regulado na Nigéria, por isso, os grupos extremistas recorreram à captura de drones do governo. Até agora, eles foram maioritariamente utilizados para vigilância ou para esforços de propaganda, mas ele disse que os grupos têm intenção de expandir o seu uso e desejam aprender dos grupos extremistas do Médio Oriente.
“Ainda não é tão sofisticado como no Oriente Médio onde os drones são equipados com explosivos para atacar tropas, mas isso não significa que não irá acontecer no futuro,” disse Abdullahi, durante um webinar do Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS). “A tecnologia de informação permitiu que estes grupos tivessem conhecimento de outras regiões, o que significa que existe um grande risco de que eles melhorem aquilo que já vêm aprendendo dos outros.”
Em Moçambique, extremistas da província de Cabo de Delgado utilizam drones para vigilância. O antigo Ministro do Interior de Moçambique, Amade Miquidade, comunicou em 2020 que os extremistas tinham utilizado drones numa região onde a força de estabilização da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral tinha sido autorizada.
Durante os ataques extremistas, em finais de Março e início de Abril de 2021, que tiveram como alvo, entre outras zonas, a estrategicamente importante cidade de Palma, Miquidade disse que os militantes utilizaram drones para melhorar a precisão do ataque.
“Se prestarmos atenção para a facilidade com a qual os insurgentes estão a obter armas e a acrescentar ataques contra o exército, nunca irei subestimar a possibilidade de eles começarem a fazer uso de capacidades de tecnologia mais avançada e com isso eu incluo os drones,” Jasmine Opperman, uma consultora sul-africana em matéria de segurança, disse num documento do ACSS. Opperman acrescentou que, “se podem trazer centenas de telemóveis, através de rotas de contrabando, o que é que os impede de trazer drones?”
Especialistas também estão a alertar que os drones têm o potencial de substituir os bombistas suicidas.
“Os grupos terroristas precisam de indivíduos para levarem a cabo os seus ataques,” escreveu o Major Thomas Pledger, um oficial de infantaria da Guarda Nacional do Exército dos EUA. “Muitos grupos tipicamente realizam ataques com a expectativa de que os seus membros irão sacrificar a si próprios durante os ataques, quer seja sendo apanhados ou mortos. O uso de drones, contudo, pode permitir que um indivíduo ou um pequeno grupo realize múltiplos ataques sem o auto-sacrifício.”
Uma grande preocupação, segundo os especialistas em drones, é que o desenvolvimento da tecnologia de drones coincide com os avanços na inteligência artificial (IA). Utilizar IA pode significar que os drones não precisem de um operador. Especialistas consideram a hipótese de os extremistas utilizarem “enxames” de pequenos drones de IA não dispendiosos, nos seus ataques direccionados.
O Coronel David Peddle (na reforma), antigo membro da Força Nacional de Defesa da África do Sul, confirmou que actores não estatais armados têm utilizado drones para vigilância e acredita que será apenas uma “questão de tempo” até que sejam destacados enxames ou grupos de drones ofensivos em África, dada a sua acessibilidade e custo relativamente baixo.
Outros especialistas concordam, afirmando que a tecnologia moderna e o seu fabrico fizeram com que os drones sejam cada vez mais acessíveis aos terroristas. No seu livro “Life 3.0,” o físico Max Tegmark escreveu que “pequenos drones assassinos, com capacidade de IA, tendem a custar pouco mais do que um smartphone.”
Para além disso, os drones irão minimizar o investimento humano necessário para os ataques terroristas, com os investigadores a observarem que o aumento de autonomia irá possibilitar que uma pessoa possa infligir mais danos. A IA pode fazer com que o terrorismo seja mais barato e baixar os custos humanos necessários para realizar ataques, criando novas gerações de terroristas “lobos solitários.”
A tecnologia para atacar indivíduos — softwares de reconhecimento facial, drones e comunicações de máquina para máquina — já existe. Tegmark considera a hipótese de drones assassinos não dispendiosos, equipados com IA, semelhantes ao filme James Bond: “Tudo o que precisam de fazer é carregar a foto do seu alvo e o endereço no drone assassino; ele pode seguir até ao destino, identificar e eliminar a pessoa e autodestruir-se para garantir que ninguém saiba quem foi o responsável.”
O investigador Jacob Ware, escrevendo para a página da internet sobre segurança, War on
the Rocks, disse que a combinação de IA simples
e drones representa uma ameaça genuína em todo o mundo.
“Grupos terroristas estão cada vez mais a utilizar tecnologias do Século XXI, incluindo drones e inteligência artificial elementar, em ataques,” comunicou Ware. “Enquanto continuar a ser utilizada como arma, a IA pode demonstrar ser uma ameaça formidável, permitindo que os adversários — incluindo actores não estatais — automatizem mortes em escala massiva. A combinação de conhecimento sobre drones e IA mais sofisticada pode permitir que os grupos terroristas adquiram ou desenvolvam armas autónomas letais, ou ‘robots assassinos,’ o que iria aumentar drasticamente a sua capacidade de criar incidentes de destruição maciça nas cidades ocidentais.”
O estudo de Pledger observou que os drones abrem a possibilidade para uma nova variedade de tácticas e alvos terroristas.
“Uma aplicação particularmente assustadora dos drones é a distribuição de agentes químicos e biológicos, especialmente doenças contagiosas,” escreveu Pledger. “As discussões sobre doenças contagiosas são tão prevalecentes e os receios são conhecidos.”
Pledger prevê que, por causa do seu “custo relativamente baixo” e distância “significativa” a partir da qual podem ser lançados, os drones serão utilizados como uma “táctica primária de futuros ataques terroristas.”
“Infra-estruturas de extrema importância também são vulneráveis e defender milhares de locais contra ataques seria financeiramente restritivo, no mínimo,” escreveu. “Prováveis alvos de infra-estruturas incluem instalações de armazenamentos de combustível ou de água, gasodutos, centrais de distribuição de energia e locais de fornecimento de produtos alimentares, muitos dos quais encontram-se com pouco pessoal de segurança ou completamente sem pessoal de segurança.”
Karen Allen, uma especialista em matéria de segurança do Instituto de Estudos de Segurança, na África do Sul, disse que os drones representam “uma nova iteração de tecnologia digital e África estará envolvida.”
“Apesar de a tecnologia de drone ser, em termos gerais, utilizada para efeitos positivos, a possibilidade de indivíduos construírem drones com smartphones e softwares de fontes abertas irá acelerar e os resultados podem ser desestabilizadores,” escreveu. “Resumindo, os drones tendem a ser uma parte integrante da futura guerra em África.”
UMA HISTÓRIA DE UTILIZAÇÃO DE DRONES COMO ARMAS
O uso de drones como armas por terroristas vem desde cerca de uma década. Eis alguns dos ataques com recurso a drones:
Al-Qaeda utilizou vários drones em 2013, num ataque não sucedido no Paquistão.
O grupo do Estado Islâmico utilizou pequenos drones em ataques no Iraque e na Síria, em 2014.
O grupo do Estado Islâmico utilizou drones para lançar explosivos ligeiros contra soldados iraquianos durante uma batalha pelo Mosul, em 2016 e 2017.
Um enxame de drones armados atacou bases russas na região ocidental da Síria, em Janeiro de 2018. Dez drones reforçados com explosivos atacaram uma base aérea russa enquanto outros três tiveram como alvo uma instalação naval russa.
Drones armados atingiram duas estações de bombeamento de petróleo na Arábia Saudita, em Maio de 2019. As autoridades culparam os rebeldes Houthi, do Iémen, pelos ataques. Meses depois, as forças Houthi lançaram ataques de drones contra três bases aéreas sauditas. Fontes Houthi afirmaram que os drones atingiram os seus alvos, mas as autoridades sauditas afirmaram que os drones foram interceptados e abatidos.
Drones Houthi atacaram duas principais instalações de petróleo na Arábia Saudita, em Setembro de 2019, causando incêndios.
No dia 14 de Setembro de 2019, os Houthi lançaram ataques com recurso a drones contra duas instalações principais de petróleo geridas pela saudita Aramco e causaram um incêndio.
Terroristas sediados no Paquistão utilizaram dois drones armados para
atacar uma base da Força Aérea Indiana, em Junho de 2021.