EQUIPA DA ADF
Da Etiópia à Líbia e ao Mali, os drones armados tornaram-se uma parte cada vez mais importante do arsenal do campo de batalha. O rápido crescimento dos drones equipados com inteligência artificial (IA) está a suscitar preocupações entre os especialistas quanto à forma como poderão ser utilizados pelas forças de segurança e por grupos extremistas.
Ao contrário da tecnologia de drones mais utilizada, que depende de humanos para dirigir as máquinas, os drones alimentados por IA são capazes de identificar potenciais alvos sem supervisão humana. Actualmente, este tipo de tecnologia baseada em IA é raro em África, mas os especialistas receiam que a utilização de drones autónomos possa aumentar, permitindo que os grupos terroristas causem ainda mais danos a civis. Isso é especialmente verdade no Sahel, onde os golpes de Estado no Burquina Faso, no Mali e no Níger pouco fizeram para pôr fim à violência extremista e podem, na verdade, estar a agravar a insegurança.
“A infiltração de drones entre os grupos extremistas na região do Sahel acrescentou mais uma dimensão a um cenário já intrincado, aumentando as ameaças e exacerbando as vulnerabilidades existentes,” o analista Robert Bociaga escreveu recentemente no The Africa Report.
Nos últimos anos, os drones — também conhecidos como veículos aéreos não tripulados (VANT) — tornaram-se ferramentas amplamente utilizadas para fins civis e militares. Durante a pandemia da COVID-19, foram utilizados para difundir mensagens de saúde pública, distribuir medicamentos a comunidades isoladas e higienizar espaços públicos. Em regiões assoladas por extremistas, ambos os lados utilizam drones para recolher informações e monitorizar o campo de batalha.
No entanto, os drones tornaram-se plataformas de armas aéreas de baixo custo capazes de efectuar ataques pontuais com morteiros e outros explosivos. As Forças Armadas do Sudão utilizaram esta técnica para atacar os combatentes das forças paramilitares de apoio rápido.
Os drones mais sofisticados, como os VANT de nível militar que a Turquia e o Irão forneceram aos países africanos, podem desactivar tanques e eliminar posições inimigas — uma táctica que as forças armadas etíopes utilizaram repetidamente contra os rebeldes Tigrenhos em 2021.
Estes VANT de nível militar custam normalmente milhões de dólares cada um, o que os coloca fora do alcance da maioria dos grupos rebeldes. No entanto, os drones de passatempo do tipo quadricóptero disponíveis no mercado podem ser utilizados como armas por governos e grupos extremistas.
Até agora, os países africanos viram apenas um incidente em que um drone autodirigido matou uma pessoa: na Líbia, em 2020.
“Mas as implicações da instalação destes sistemas de armamento em África continuam a ser gritantes,” os analistas Ezenwa E. Olumba, Samuel Oyewole e Tony Onazi Oche escreveram recentemente no The Conversation.
A invasão da Ucrânia pela Rússia tornou evidente o potencial impacto que os drones autónomos podem ter nas comunidades civis e no campo de batalha. Os ucranianos utilizaram milhares de drones deste tipo para atacar as tropas russas ao longo da linha da frente e as infra-estruturas russas que se encontram atrás dessas linhas.
“Os rápidos avanços na inteligência artificial e a intensa utilização de drones em conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente tornaram a questão muito mais urgente,” escreveu recentemente a Modern Diplomacy.
James Patton Rogers, director-executivo do Cornell Brooks Tech Policy Institute, da Universidade de Cornell, vê os conflitos na Etiópia, na Líbia e no Sudão como o início de um “novo mundo proliferado de drones.”
“Basta olhar para os incidentes de danos civis registados na Nigéria, na RDC (República Democrática do Congo) e no Burquina Faso devido à utilização de drones pelo Estado para perceber como os drones podem ser mal utilizados,” disse Rogers ao Business Insider.
Segundo os especialistas, à medida que a ameaça terrorista no Sahel persiste, aumenta também o potencial dos drones alimentados pela IA para se tornarem parte dos arsenais dos terroristas.
“A perspectiva de armas autónomas caírem nas mãos de grupos terroristas e milícias no Sahel é alarmante,” escreveram Olumba, Oyewole e Oche. “Introduziriam uma nova dimensão mortal num conflito já de si brutal.”