EQUIPA DA ADF
Cientistas que estudam os efeitos a longo prazo da pandemia da COVID-19 afirmam que concluíram que a doença triplica o risco de se contrair a doença de Alzheimer e duplica o risco de se desenvolver a doença de Parkinson — duas condições neurológicas que já estavam a aumentar em África antes do começo da pandemia.
Um novo estudo feito pela investigadora dinamarquesa, Dra. Pardis Zarifkar, analisou os registos de saúde de cerca de metade da população da Dinamarca e concluiu que os sobreviventes da COVID-19 comunicaram ter muitos sintomas geralmente associados ao eventual desenvolvimento de Alzheimer, Parkinson e outras doenças neurológicas.
“Estudos anteriores estabeleceram uma associação com síndromas neurológicos,” Zarifkar escreveu no seu estudo. “Mas até agora não se sabe se a COVID-19 também influencia a incidência de doenças neurológicas específicas ou se isso difere de outras infecções respiratórias.”
Os participantes do estudo que se recuperaram da COVID-19 eram 3,4 vezes mais susceptíveis de desenvolver a doença de Alzheimer e 2,2 vezes mais susceptíveis de desenvolver a doença de Parkinson em comparação com aqueles que nunca tiveram a COVID-19. Doentes com idades iguais ou superiores a 80 também eram 1,7 vezes mais susceptíveis de desenvolver acidente vascular cerebral isquémico.
“Eu esperaria um pequeno aumento, mas a magnitude do aumento foi bem surpreendente,” Zarifkar disse ao Medscape Medical News.
Um estudo de 2020 encontrou uma das primeiras associações entre a COVID-19 e início precoce da doença de Parkinson entre doentes com 35, 45 e 58 anos de idade. Todos os três tiveram casos graves de COVID-19 e demonstraram ter sinais clássicos de doença de Parkinson sem um histórico familiar ou genes que podem activar a doença.
“Se esta ligação for real, poderemos ter uma epidemia de doença de Parkinson no futuro,” Dr. Patrik Brundin, director do Centro de Ciências Neurodegenerativas do Instituto de Investigação Van Andel, em Grand Rapid, Michigan, disse ao Medscape Medical News naquela altura.
A doença de Parkinson apresenta-se de diferentes formas. Os sintomas mais comuns são tremores nos braços, nas pernas e rigidez em outros músculos. Os doentes podem eventualmente desenvolver a demência.
Brundin sugeriu que a doença de Parkinson e outras condições neurológicas podem ser o último resultado da COVID longa, o conjunto de sintomas como o nevoeiro cerebral e a fadiga registados depois que algumas pessoas recuperaram de infecções pela COVID-19.
O aumento do risco criado pela COVID-19 espelha os riscos associados a gripe ou pneumonia bacteriana, concluiu Zarifkar.
O estudo de Zarifkar foi divulgado por volta da mesma altura em que as autoridades sanitárias da África do Sul revelaram a sua estimativa de que 98% da população daquele país esteve exposta à COVID-19.
O Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças comunicou que aproximadamente 11,2 milhões de pessoas do continente recuperaram de infecções pela COVID-19.
Historicamente, existe uma falta de dados sobre a doença de Alzheimer, Parkinson e outras doenças semelhantes entre os africanos. África também possui uma grande falta de neurologistas — 0,03 neurologistas por cada 100.000 habitantes, em comparação com a recomendação da Organização Mundial de Saúde de 1 por cada 100.000.
“Este acesso limitado a neurologistas leva ao subdiagnóstico e o subtratamento de doentes com distúrbios neurológicos como a DP (Doença de Parkinson),” neurologista sul-africana, Dr. Marcelle Smith, escreveu num recente artigo publicado pela World Neurology, um boletim informativo da Federação Mundial de Neurologia.
Os investigadores afirmam que a população extremamente jovem do continente pode reduzir os números destas doenças que tipicamente são associadas à velhice.
Contudo, a pesquisa de Zarifkar pode ter implicações para a população de África, onde estudos recentes demonstraram que as taxas de doenças neurológicas, embora sejam mais baixas em relação à Europa e à América do Norte, estão a aumentar.
“Enquanto a esperança de vida das populações africanas aumenta, o aumento da população idosa pode traduzir-se num aumento do fardo de doenças degenerativas como a doença de Parkinson,” Smith escreveu numa recente avaliação de uma investigação sobre a doença de Parkinson no continente.
Isso pode representar um risco em particular para os negros africanos, que demonstram ter mais riscos de início precoce da doença de Parkinson em idades inferiores a 50 anos, em comparação com outros grupos raciais do continente, de acordo com Smith.
Zarifkar observou que os sistemas de saúde precisam de estar preparados para um aumento de casos de Alzheimer, Parkinson e outras doenças neurológicas entre aqueles que se recuperaram de infecções pela COVID-19.
“Devido a uma grande prevalência das recentes infecções, é provável que as taxas da linha de base destas doenças neurológicas venham a aumentar em todo mundo, nos próximos anos,” disse.