EQUIPA da ADF
No século VII, o Islão começou a espalhar se da Península Arábica para oeste, para o que é hoje a Espanha, e para o leste, para o norte da Índia. A religião e o seu poder político espalharam-se por meio de comerciantes, peregrinos e missionários.
Também se espalhou através de conquistas militares, com os exércitos a dominarem vastos territórios e a estabelecerem postos avançados imperiais. A maior parte desta expansão ocorreu durante o reinado do Califado Rashidun, os primeiros quatro sucessores de Maomé, de 632 a 661.
As tribos conquistadoras também se voltaram para o Norte de África. Foi então que encontraram Dihya, a rainha berbere que vivia nas montanhas do que é actualmente a Argélia. Ela resistiu.
Durante algum tempo, os berberes, por vezes, referidos como “os nativos do Norte de África,” estiveram sob o controlo do Exarcado de Cartago, que fazia parte do Império Bizantino. Depois de os árabes terem conquistado o Egipto, o Exarcado tornou-se um dos seus próximos alvos. A capital bizantina de Cartago caiu posteriormente nas mãos dos exércitos de Hasan ibn al-Nu’man, da dinastia Omíada, pondo fim ao controlo bizantino na região.
Com o desaparecimento dos seus antigos líderes, o que restou dos berberes transformou-se em pequenas bolsas tribais de resistência — os únicos opositores ao domínio árabe em África naquela época. Os berberes dispersos uniram-se em torno de Dihya, que provou ser uma líder digna, acabando por construir um poderoso exército.
Era vulgarmente conhecida como a “Kahina,” que significa “vidente” na língua árabe. Dizia-se que ela tinha a capacidade de ver o futuro.
Quase tudo sobre ela é um mistério. Por razões políticas, os “factos” sobre ela foram inventados e reinventados após a sua morte, sobretudo no século IX. As datas exactas do seu nascimento, do seu reinado e da sua morte são desconhecidas. Pensa-se que terá chegado ao poder na década de 680. Os historiadores associaram-na a três tribos diferentes e até os seus pais são objecto de controvérsia.
Acredita-se que teve três filhos, um dos quais adoptado. Uma história afirma que, quando era jovem, libertou o seu povo, aceitando casar-se com um tirano e assassinando-o na noite de núpcias. Mas quase nada se sabe ao certo, nem mesmo o seu aspecto. Um relato diz que ela tinha 127 anos quando morreu.
Mas ela era uma rainha poderosa, e Hasan, o general do exército árabe, não tolerou a sua resistência. Foi atrás dela e, em 698, os seus exércitos enfrentaram-se na Batalha de Meskiana, ou “a batalha dos camelos,” onde a rainha berbere o derrotou facilmente. Hasan foi forçado a fugir e acabou por estabelecer-se no que é actualmente a Líbia durante cerca de cinco anos.
Dihya sabia que o seu poderoso inimigo acabaria por regressar. A maior parte dos historiadores acredita que ela iniciou uma campanha de terra queimada para destruir tudo no seu império que pudesse ser útil a um inimigo em avanço. A campanha teve pouco impacto nas tribos das montanhas e do deserto, mas devastou as tribos que viviam nos oásis vulneráveis.
Ao destruir algumas das aldeias e fortalezas do seu reino, ela virou o seu próprio povo contra ela. Hassan soube disso e regressou com o seu exército. Desta vez, saiu vitorioso na Batalha de Tabarka, no que é actualmente a Tunísia e a Argélia.
As lendas dizem que morreu em combate, enquanto outras afirmam que tomou veneno para evitar ser capturada. Independentemente da forma como morreu, o seu corpo foi decapitado, tendo a cabeça sido enviada para Damasco como prova da sua morte.
Actualmente, é vista como um exemplo brilhante de feminismo. Mas a sua memória foi, muitas vezes, manipulada ao longo dos séculos como um símbolo do heroísmo e da independência berbere.
Tudo o que sabemos com certeza é que ela foi, durante algum tempo, uma grande e poderosa rainha.