EQUIPA DA ADF
Os líderes da junta no poder no Mali reuniram-se recentemente com uma delegação de alto nível de líderes da África Ocidental que procuram a soltura de 46 soldados costa-marfinenses deditos no Mali, desde Julho, em resultado das cada vez mais tensas relações do Mali com os seus vizinhos do sul e com a comunidade internacional.
A reunião com o líder da junta, Coronel Assimi Goïta, mantida pelo presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, presidente da Gâmbia, Adama Barrow, e o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Togo, Robert Dussey, não produziu qualquer mudança no estado dos soldados de manutenção da paz, que o Mali acusa de tráfico de armas e conspiração para derrubar o governo da junta.
O analista Alec Smith, escrevendo para o site Grey Dynamics, acha que a relação entre o Mali e a Costa do Marfim continuará a degradar-se nos próximos meses. As actuais tensões entre os dois países começaram depois que a junta anunciou que iria adiar o seu regresso à democracia até 2024, de acordo com Smith.
Os soldados costa-marfinenses que agora são mantidos como reféns chegaram a Bamako para apoiar a MINUSMA, a Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali. As tropas costa-marfinenses servem na MINUSMA há muitos anos.
A história passou a ser uma preocupação nacional na Costa do Marfim onde, no ano passado, familiares dos soldados detidos e centenas de manifestantes saíram às ruas para exigir tomada de medidas.
“Eles devem libertar os nossos filhos. Estes são simples soldados, não são criminosos. Eles não têm nada a ver com a política do Mali,” Assetou Kone, mãe de um soldado detido, disse à africanews.
A junta demonstrou uma crescente hostilidade para com a MINUSMA mesmo numa altura em que trabalha em estreita cooperação com mercenários do Grupo Wagner, apoiado pela Rússia.
Uma delegação da CEDEAO, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, foi enviada depois da solicitação pela Costa do Marfim de uma reunião especial do bloco regional para ajudar a garantir a soltura dos soldados de manutenção da paz, que foram presos ao desembarcar no aeroporto de Bamako, no dia 10 de Julho.
Três soldados do sexo feminino foram libertas no início de Setembro depois de uma mediação feita pelo Togo.
A junta inicialmente disse que não iria reunir-se com os representantes da CEDEAO. Disse que a questão era estritamente entre o Mali e a Costa do Marfim.
A junta acusa as forças costa-marfinenses de serem mercenários e de planificarem depor o governo militar, que assumiu o poder depois dos golpes de Estado de 2020 e 2021.
O Ministro das Comunicações da Costa do Marfim, Amadou Coulibaly, disse que os líderes militares do Mali, alguns dos quais pertencentes às forças especiais, sabem muito bem como depor um governo.
“Não é feito por turistas que chegam num aeroporto, recolhem os seus passaportes para irem preencher documentos da polícia,” disse numa conferência de imprensa.
Entretanto, a junta do Mali está a trabalhar abertamente com mercenários do Grupo Wagner, que já participaram em vários ataques contra civis no norte do país. As mortes de civis duplicaram desde que o Grupo Wagner entrou no país, no início de 2022.
A suspeita dos soldados costa-marfinenses pela junta reflecte as suas crescentes hostilidades para com outras forças de manutenção da paz naquele país. Em pouco tempo, suspendeu a rotatividade dos soldados de manutenção da paz depois de prender os costa-marfinenses. Baniu todas as aeronaves, excepto caças russos, no seu espaço aéreo do norte, impedindo de forma efectiva que a MINUSMA tenha apoio aéreo na região.
Por causa desta hostilidade, vários países, incluindo Suécia, Egipto e Benin, retiraram-se da missão ou anunciaram os seus planos para fazê-lo num futuro muito breve.
O Mali fez a oferta de devolver os soldados de manutenção da paz em troca, em parte, da entrega pela Costa do Marfim de dissidentes políticos que se acredita que sejam Karim Keïta, filho do antigo presidente maliano, Ibrahim Boubacar Keïta, e Tiéman Hubert Coulibaly, antigo Ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros no mandato de Keïta, de acordo com a africanews.
A Costa do Marfim recusou-se de fazê-lo, descrevendo as exigências como uma chantagem. Afirma que está preparada para negociações prolongadas para libertar os soldados de manutenção da paz.
“Os nossos soldados não são mercenários, mas reféns,” disse Coulibaly.