EQUIPA DA ADF
Uma série de investigações secretas da “Operação Chacal” desferiu um rude golpe nas famosas redes criminosas da Black Axe da Nigéria. Mas as autoridades alertam para o facto de o alcance global e a sofisticação tecnológica do grupo significarem que ainda há muito trabalho a fazer.
A Interpol participou em operações contra a Black Axe e outros grupos do crime organizado da África Ocidental nos cinco continentes. A polícia prendeu 300 pessoas, apreendeu 3 milhões de dólares e bloqueou 720 contas bancárias, informou a Interpol em Julho. Numa das investigações, as autoridades canadianas afirmaram ter desmantelado um esquema de branqueamento de capitais ligado à Black Axe no valor de mais de 5 bilhões de dólares.
“São muito organizados e muito estruturados,” Tomonobu Kaya, funcionário sénior do Centro de Crime Financeiro e Anticorrupção da Interpol, disse à BBC. Segundo um relatório da Interpol de 2022, a Black Axe e grupos semelhantes “são responsáveis pela maior parte das fraudes financeiras cibernéticas a nível mundial, bem como por muitos outros crimes graves.” Kaya disse à BBC que as inovações no software de transferência de dinheiro e nas criptomoedas têm jogado a favor dos grupos, que são conhecidos por fraudes multimilionárias online.
Em Abril, as autoridades alemãs prenderam 11 suspeitos de pertencerem à Black Axe em rusgas. Os suspeitos foram acusados de utilizar identidades falsas na internet para extorquir dinheiro às vítimas depois de ganharem a sua confiança e prometerem casamentos. Segundo a agência noticiosa DW, os arguidos eram nigerianos que viviam na Alemanha há muitos anos. As autoridades disseram que estavam a concentrar-se especialmente em “esquemas de encontros em grande escala e branqueamento de capitais.” A DW noticiou que, só na região alemã da Baviera, em 2023, houve 450 esquemas de encontros em que as vítimas perderam 5,7 milhões de dólares.
Estima-se que a rede mundial de crime cibernético da Black Axe gere milhares de milhões de dólares. Em 2017, as autoridades canadianas alegaram que uma operação de branqueamento de capitais envolvendo o grupo processou mais de 5 bilhões de dólares, informou a Mafia News. “Os membros da organização envolvidos nesta operação estavam alegadamente a comunicar entre a Nigéria, o Reino Unido, a Malásia, nações árabes da região do Golfo e vários outros países.”
Uma Longa História
Os estudantes formaram a rede Black Axe em 1977 no campus da Universidade do Benin, no Estado de Edo, na Nigéria. Começou com boas intenções como parte do Movimento Neo Negro, um esforço para promover o anticolonialismo e o espírito pan-africano. Com o tempo, o grupo adoptou a violência para tornar os seus membros “homens fortes,” segundo o Movimento Neo Negro. À medida que a rede Black Axe se expandia e a sua violência aumentava, separou-se da Universidade do Benin.
Existem várias destas “confrarias,” também conhecidas como cultos universitários devido ao mistério que envolve as suas actividades e rituais. A adesão a estas organizações é actualmente ilegal na Nigéria. A Black Axe está entre as maiores, mais notórias e mais difundidas redes criminosas. Alguns relatórios sugerem que o número de membros a nível mundial ascende a 30.000. Uma reportagem da BBC indicou que a Black Axe é tão prevalecente na cidade de Benin que alguns civis formaram milícias armadas para se protegerem.
O grupo é conhecido mundialmente por ser pioneiro em esquemas de pagamento antecipado de taxas, também conhecidos como “fraude 419” pela secção correspondente do Código Penal Nigeriano. Nestas fraudes, também vulgarmente conhecidas como “Nigerian Prince,” os burlões enviam cartas, mensagens de texto e e-mails, fazendo-se passar por alguém que procura ajuda para transferir dinheiro para uma conta no estrangeiro. O remetente promete dar à vítima uma comissão em troca do acesso aos números das contas bancárias.
A Black Axe utiliza mulas de dinheiro para abrir contas bancárias em todo o mundo e está agora a ser investigada em mais de 40 países por crimes de branqueamento de capitais, informou a The Associated Press.
As autoridades afirmaram que a expansão global da Black Axe foi metodicamente planeada e executada. A DW informou que a organização dividiu o mundo em “zonas,” atribuindo “chefes” locais. Os chefes de zona recolhem as quotas dos habitantes das suas regiões antes de enviarem o dinheiro para os líderes na cidade de Benin.
Um Esforço Policial de Anos
As operações Chacal da Interpol começaram na Irlanda. Depois de uma série de rusgas policiais levadas a cabo pelo Garda National Economic Crime Bureau em 2020, as autoridades prenderam um punhado de membros da Black Axe, abrindo caminho para a exposição de uma rede muito mais vasta, noticiou a BBC. Mais tarde, as autoridades identificaram 1.000 pessoas com ligações à Black Axe na Irlanda e efectuaram centenas de detenções por fraude e crime cibernético. As operações da polícia irlandesa em Novembro de 2023 revelaram que a criptomoeda, que pode ser enviada rapidamente entre carteiras digitais de todo o mundo, está a tornar-se um elemento-chave nas operações de branqueamento de capitais da Black Axe.
A Interpol lançou agora o sistema de Intervenção Rápida Global de Pagamentos, que permite às autoridades dos seus países-membros congelar contas bancárias em todo o mundo com uma rapidez sem precedentes.
“O volume de fraudes financeiras provenientes da África Ocidental é alarmante e está a aumentar,” afirmou Isaac Oginni, director do centro de crimes financeiros da Interpol. Referindo-se às detenções de Julho, disse: “Os resultados desta operação sublinham a necessidade crítica de colaboração internacional entre as forças policiais para combater estas redes criminosas de grande dimensão. Ao identificarmos suspeitos, recuperarmos fundos ilícitos e colocarmos atrás das grades alguns dos mais perigosos líderes do crime organizado da África Ocidental, conseguimos enfraquecer a sua influência e reduzir a sua capacidade de prejudicar comunidades em todo o mundo.”