ADF STAFF
Uma nova investigação conjunta descobriu que uma campanha de desinformação prolífica russa está a semear divisão e a difundir propagandas em todo o continente. Um cidadão de nacionalidade belga, com ligações com ditadores e com o famoso grupo de mercenários russos, Grupo Wagner, está a espalhar propaganda contra a França e desinformação, utilizando bots, trolls e outras ferramentas das redes sociais.
“Descobrimos esta grande rede de grupos de redes sociais em várias plataformas, que está a promover mensagens do Kremlin todos os dias, a toda a hora,” disse o investigador da BBC, Grigor Atanesian.
Luc Michel, o homem por detrás da obscura rede de sites das redes sociais chamada Russosphère, é um extremista belga, de 65 anos de idade, que chama a si próprio de Estalinista.
A operar em África por vários anos, Michel já esteve ligado ao “Merci Wagner,” um grupo que apoia os combatentes russos no continente.
Como parte das suas investigações com a Logically, uma empresa de tecnologia que analisa e combate a desinformação, a equipa de desinformação da BBC entrevistou Michel para um artigo publicado no dia 1 de Fevereiro.
“Eu faço a gestão da guerra cibernética, guerra de media… e o [fundador do Grupo Wagner Yevgeny] Prigozhin realiza actividades militares”, disse ele.
Michel disse à BBC que a sua rede de propaganda foi financiada com “capitais privados.” Ele recusou ter ligações com o Grupo Wagner ou com Prigozhin, o oligarca russo que é conselheiro próximo do Kremlin.
Mas a Logically e a página da internet do The Daily Beast possuem muitas reportagens que falam das ligações de Michel com o Grupo Wagner.
“Ele faz parte de uma rede solta de indivíduos que possuem ligações com o Kremlin,” o investigador da Logically, Kyle Walter, disse à televisão France 24. Michel “opera especificamente centrado em África, procurando propagar esta mensagem de narrativas pro-Rússia.”
A Logically disse que Michel envolveu-se em operações de desinformação e de influência no Burundi, Chade, na República Centro-Africana, Guiné Equatorial e na Líbia.
“A maioria das operações de Michel, em África, promove o africanismo e o sentimento anticolonialista como um ponto de ajuntamento para apoiar a tese central de Michel: que os países africanos iriam beneficiar-se ao distanciarem-se dos seus colonizadores europeus e ao desenvolverem ligações próximas com a Rússia,” afirmou o relatório da Logically, também publicado no dia 1 de Fevereiro.
Agindo como um conselheiro, Michel também alegadamente teve relações próximas com líderes autoritários de África, incluindo o antigo ditador líbio, Muammar Kadhafi.
O The Daily Beast comunicou que Michel é responsável por “dezenas” de canais de imprensa africanos, como o La Voix de la Guinée Equatoriale, PanAfricom-TV, WebTV-Tchad e Centrafrica News.
A Russosphère, em língua francesa, o mais recente esforço de Michel, lançado em Fevereiro de 2022, criou uma audiência no continente de mais de 80.000 seguidores nas plataformas das redes sociais, incluindo Facebook, Telegram, Twitter, WhatsApp e YouTube.
“O que estamos a testemunhar com esta rede específica é que ela utiliza uma marca unificada em várias plataformas,” disse Walter. “Eles não têm mais como alvo os países africanos em específico, têm de forma mais ampla a ver com a África francófona como um todo.”
Propagar a desinformação e a propaganda em várias redes sociais é uma parte de um pacote de serviços oferecidos pelo Grupo Wagner de Prigozhin, que geralmente faz parcerias com líderes de países instáveis que procuram permanecer no poder.
Os operativos do Grupo Wagner aconselharam o antigo ditador do Sudão, Omar al-Bashir, a operar uma campanha das redes sociais para desacreditar os protestantes civis. Actualmente, os mercenários russos ajudam as famosas Forças de Apoio Rápido do Sudão a fazer a gestão de forma paramilitar da sua conta de propagandas das redes sociais.
Uma antiga reportagem da BBC desvendou uma “operação coordenada e sistemática” de nacionais russos para influenciarem e manipularem as eleições presidenciais de Madagáscar, em 2018. Quase todos os candidatos obtiveram financiamento ou receberam pagamentos de operativos russos, que também pagaram manifestantes para participarem em manifestações e içarem bandeiras.
Outras actividades apoiadas pelo Kremlin, em África, de forma semelhante, incluem influenciadores pagos das redes sociais que apoiam campanhas de base falsas e eventos em que os manifestantes recebem dinheiro, bandeiras e instruções.
Especialistas como Ulf Laessing, director de programas da Fundação Konrad Adenauer, da Alemanha, dizem que embora seja difícil determinar o impacto específico das campanhas de desinformação em África, a mensagem pro-Rússia está a ser ouvida.
“A desinformação da Rússia foi um factor que ajudou a impulsionar as forças da França a saírem dos países do Sahel, especialmente do Burquina Faso,” disse à BBC.