No final de Dezembro, os rebeldes mataram pelo menos 21 pessoas, incluindo crianças e um soldado, no norte da República Centro-Africana (RCA). Os residentes da aldeia de Nzakoundou atribuíram o ataque a um grupo rebelde que afirmam proteger os pastores muçulmanos Puehl, mas que tem sido acusado de assassinatos em massa e pilhagens.“Os rebeldes atacaram primeiro os postos de controlo do exército, matando uma pessoa e ferindo várias outras, antes de atacarem a população civil, matando cerca de 20 pessoas,” Ernest Bonang, um deputado federal que representa Nzakoundou, disse à The Associated Press.
A notícia do ataque não surpreendeu muitos observadores, uma vez que a RCA tem sido palco de lutas intercomunitárias desde 2013, quando os rebeldes Seleka, predominantemente muçulmanos, derrubaram o antigo Presidente François Bozizé. Mais tarde, as milícias de maioria cristã ripostaram.
No meio deste caos, os líderes da al-Qaeda viram uma oportunidade para se mobilizarem.
Campanha Fracassada
A organização terrorista lançou uma campanha mediática global que tentava persuadir os muçulmanos a pegar em armas com a Seleka devido aos assassinatos em massa de muçulmanos em todo o país, segundo Caleb Weiss, analista sénior da Bridgeway Foundation, que trabalha na prevenção do genocídio.
A campanha foi liderada pela al-Qaeda no Magrebe Islâmico, que acusou a França de limpeza étnica, e foi seguida por outros grupos afiliados à organização. Mukhtar Abu Zubayr, o falecido líder do al-Shabaab, equiparou a violência contra os muçulmanos na RCA “àquilo por que os muçulmanos passaram na Bósnia,” como Weiss relatou no Long War Journal, da Fundação para a Defesa das Democracias.
“Dizemos aos muçulmanos da República Centro-Africana: procurem refúgio na arma e lutem contra os vossos inimigos para defender a vossa religião, a vossa honra e a vossa riqueza,” disse Zubayr. Também se juntou aos apelos que encorajam os muçulmanos de fora da RCA a apoiar a jihad “com todos os meios possíveis.”
O Ansar al-Shari’a Tunisia, outro grupo afiliado à al-Qaeda, argumentou que a presença da França na RCA tinha como objectivo enfraquecer a influência muçulmana e pilhar minerais e recursos. O al-Shabaab, o ramo da al-Qaeda na África Oriental, com sede na Somália, também participou activamente nos esforços de mobilização da RCA.
Apesar da campanha, as tentativas da al-Qaeda de “angariar apoio e mobilizar pessoas para a jihad armada foram um fracasso notório,” escreveu Weiss no Long War Journal. “Nunca foi registada qualquer presença jihadista na RCA, quer através de um grupo local centro-africano, quer de um grupo estrangeiro que se deslocasse para a RCA.”
Desafios Persistentes
A RCA continua a enfrentar desafios críticos em matéria de segurança, apesar do fracasso dos esforços de mobilização da al-Qaeda e da presença de forças estatais, de manutenção da paz das Nações Unidas e de forças mercenárias russas.
Em 2023, a Coligação de Patriotas pela Mudança lançou notavelmente uma série de ataques contra as forças no norte da RCA. O antigo Presidente Bozizé formou a coligação em 2020.
“Na sua nova ofensiva, os rebeldes utilizaram armas e estratégias de combate novas na RCA — tais como drones caseiros, dispositivos explosivos improvisados (DEI) e raptos — apanhando as forças governamentais de surpresa,” Enrica Picco, directora do projecto para a África Central, do Grupo Internacional de Crise, disse na página da internet do grupo.
No meio dos contínuos confrontos intercomunitários, a RCA anunciou em Fevereiro que cerca de 10.000 crianças ainda estão envolvidas com grupos armados como combatentes, espiões, mensageiros e cozinheiros. Embora 15.000 crianças tenham escapado às forças rebeldes, muitas estão traumatizadas e enfrentam dificuldades de reintegrar-se na sociedade.
A ONU criou programas de formação para que as crianças ex-combatentes se tornem mecânicos, pedreiros, carpinteiros ou exerçam outras profissões. Algumas estão a tornar-se embaixadores da paz.
“Peguei em armas porque a Seleka matou a minha mãe e o meu pai,” um antigo combatente infantil chamado Arsene disse à The Associated Press. Disse que um grupo rebelde cristão o recrutou quando tinha 14 anos, mas que o abandonou ao fim de três anos.
Ousmane, outro antigo combatente infantil, disse que o facto de se juntar aos rebeldes arruinou a sua vida. “O que fizemos é indescritível,” disse.