EQUIPA DA ADF
A organização terrorista do Estado Islâmico foi dizimada no Iraque e na Síria nos últimos anos e agora procura expandir as suas operações em África para algumas das regiões mais frágeis do continente.
Os países africanos agora representam aproximadamente metade de todas as mortes nas mãos do Estado Islâmico (EI) e os seus afiliados no mundo inteiro, de acordo com Nasser Bourita, Ministro dos Negócios Estrangeiros do Marrocos.
O EI inicialmente chegou no Sahel em 2015. E, desde essa altura, os grupos terroristas sob a protecção do EI expandiram o seu alcance, do interior do deserto à costa atlântica. Os grupos mataram ou raptaram milhares de civis e atacaram bases militares em toda a região.
Se ganharem espaço na costa atlântica, eles representam um risco para a navegação, causando mais actos de pirataria no Golfo da Guiné, na África Ocidental, disse Bourita no recente encontro da Coligação Global para Derrotar o ISIS, quando se reuniu em Marrakesh.
“Continuamos lúcidos sobre o estado da ameaça do EI que ainda não diminuiu,” disse Bourita à conferência.
Os ataques extremistas no Sahel aumentaram em 43% entre 2018 e 2021, de acordo com o U.S. Bureau of Counterterrorism (Gabinete dos EUA para o Combate ao Terrorismo).
Os delegados à conferência alertaram que o aumento dos preços dos produtos alimentares e a fome, causados pela invasão russa à Ucrânia, podem fazer com que mais pessoas da região do Sahel adiram a grupos extremistas como o EI.
No início de Maio, o EI publicou um vídeo exibindo homens armados a assassinarem 20 cristãos no Estado de Borno, norte da Nigéria. Um dos extremistas, falando em Hausa, disse que os assassinatos tinham como objectivo vingar a morte dos seus líderes que ocorreram no Médio Oriente, no início deste ano.
O EI opera na região do Lago Chade sob as bandeiras do Boko Haram e da sua ramificação ISWAP, a Província do Estado Islâmico da África Ocidental. Ambos os grupos recentemente perderam combatentes em batalha contra forças multinacionais assim como nas guerras internas entre os seus membros. O líder do Boko Haram, Abubaker Shekau, foi alegadamente morto no ano passado durante um conflito entre o seu grupo e o ISWAP.
Em Março, 7.000 membros do Boko Haram e do ISWAP renderam-se, de acordo com as forças de segurança nigerianas.
No Mali, onde se encontra a Província do Estado Islâmico do Sahel, os extremistas entraram em conflito com mercenários do Grupo Wagner da Rússia – algo que deixa os especialistas em segurança preocupados de que possa aumentar na medida em que os combatentes do Grupo Wagner empregam tácticas brutais em nome da junta que agora governa o país.
“A participação das tropas do Grupo Wagner acrescenta uma nova dimensão à ameaça contra os civis: O próprio Grupo Wagner possui um longo histórico de violações de direitos humanos e é pouco provável que Moscovo responsabilize o novo governo maliano — com o seu próprio histórico de violência contra civis — pelas suas acções,” analistas Catrina Doxsee e Jared Thompson escreveram recentemente para o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
As mortes de civis aumentaram drasticamente desde a chegada do Grupo Wagner no Mali, em Dezembro de 2021, e está a trabalhar com as Forças Armadas Malianas (FAMa). Esta perda de vidas distancia cada vez mais a população civil da cooperação com as forças de segurança e potencialmente a aproxima de grupos extremistas armados, escreveram Doxsee e Thompson.
“Fazendo com que prejudicar os civis seja uma parte e uma parcela das suas operações, as FAMa e o Grupo Wagner irão fazer deteriorar o mais amplo ecossistema de conflitos do Mali,” escreveram os autores. “Os civis, diante destes actores predadores, serão cada vez mais obrigados a olhar para outros lugares — como as milícias comunitárias e os jihadistas — para a obtenção de segurança e serviços básicos.”