EQUIPA DA ADF
O Gana tornou-se o primeiro país da África Ocidental a juntar-se a um apelo internacional para o banimento do comércio de pau-rosa. A acção de Julho de 2022 foi a mais recente tentativa para acabar com o fluxo, impulsionado pelos chineses, da madeira rara para fora daquela região.
A exploração desenfreada de pau-rosa das florestas do Gana promove a corrupção, prejudica as relações entre os agricultores e os pastores de gado e cria erosão e inundações nas comunidades da floresta.
Os madeireiros de pequena escala afirmam que o ritmo da exploração pelas empresas chinesas irá deixar o Gana com pouco ou nenhum pau-rosa dentro de poucos anos. Se isso acontecer, o Gana irá seguir os passos da Gâmbia, onde o pau-rosa efectivamente desapareceu pouco depois que as empresas de abate de madeira chinesas chegaram, em 2011.
“Os chineses estão a cortar árvores pequenas, não estamos felizes, mas não somos capazes de impedi-los. Até receamos que as futuras gerações fiquem a perder como resultado disso,” Illiasu Tafa, um agricultor e parlamentar de um círculo eleitoral próximo de Tumu, disse ao Gana Business News, em 2019.
Desde que as empresas de exploração de madeira chinesas chegaram ao Gana, em 2009, o país vacilou nos seus esforços de protecção das árvores de crescimento lento. O país impôs proibições de abate, depois retirou-as apenas para voltar a impô-las. A mais recente proibição de abate entrou em vigor em 2019.
Durante todo este processo, o pau-rosa continuou a fluir para fora do país. Em Novembro de 2021, quantidades de pau-rosa avaliadas em mais de 2 milhões de dólares foram movimentadas de Gana para China, numa altura em que o abate era proibido. Com a ajuda de subornos e documentos falsificados, mais de metade das exportações de pau-rosa de Gana para China aconteceram enquanto as proibições estavam em vigor, de acordo com a Agência de Informação Ambiental.
Em 2019, o Gana iniciou uma investigação sobre a corrupção relacionada com o abate ilegal de pau-rosa. O relatório final não encontrou qualquer acto ilícito perpetrado por oficiais de alta-patente. Contudo, os investigadores disseram à revista Foreign Policy que foram impedidos de visitar certas comunidades.
A demanda desenfreada dos produtores de mobílias chinesas transformou o pau-rosa no material natural mais altamente traficado do mundo. A Interpol estima que o pau-rosa seja avaliado em 50.000 dólares por metro cúbico. O pau-rosa é 700 vezes mais valioso nas stands de venda de mobília do que no solo da floresta.
A China virou as suas atenções para a África Ocidental depois de esgotar os seus próprios stocks de pau-rosa.
A busca da China por pau-rosa em Gana prejudicou as comunidades agrícolas daquele país, onde muitos pastores que antes alimentavam o seu gado com folhas de pau-rosa agora devem procurar outros tipos de forragem.
“Caminhamos quilómetros para encontrar forragem para o nosso gado,” o pastor Yusif Kodimah disse ao Ghana Business News.
Nalguns casos, essa forragem acaba por ser culturas de milho de agricultores de regiões próximas, causando tensão e conflito.
A exploração ilegal de pau-rosa também está a devastar a indústria de manteiga de carité do Gana, uma vez que os madeireiros abatem árvores de carité e utilizam-nas para disfarçar os carregamentos de pau-rosa. A exploração de carité é uma fonte importante de rendimento para as mulheres da região.
Para além disso, muitos agricultores que possuem tractores agora oferecem os seus serviços para as empresas madeireiras, que pagam mais de 20 vezes a taxa que os agricultores pagam para cultivar os campos.
A perda de pau-rosa nas comunidades do norte do Gana, como Tokali, coincidiu com o aumento da desertificação e da erosão. Os residentes comunicam que as chuvas tornaram-se mais esporádicas e, quando elas vêm, causam inundações destrutivas onde antes nutria a paisagem.
“As chuvas tornaram-se erráticas, o solo superficial e os nutrientes do solo estão a ser arrastados e os sulcos estão a desenvolver nas nossas machambas como resultado das actividades dos madeireiros. Agora ninguém precisa de aplicar tanto fertilizante nas culturas,” disse Kodimah.
Como parte da luta para preservar o desaparecimento do pau-rosa de Gana, a Ghana Wildlife Society criou o Timby, um aplicativo de smartphone que permite que os utilizadores denunciem o abate ilegal de forma anónima, com fotografias e dados de localização.
Mesmo numa altura em que o Gana procura fechar o cerco contra o comércio de pau-rosa, os defensores do ambiente afirmam que as redes chinesas que estão por detrás do abate ilegal ainda irão encontrar formas de conseguir o que querem.
“Todo este comércio de pau-rosa está a ser motivado pela demanda na China por este tipo particular de madeira,” ambientalista Kidan Araya disse à Câmara dos Deputados dos EUA, em 2021. “Já vimos várias e repetidas vezes o quanto os traficantes estão implacáveis no que se refere a manter o comércio ilícito activo.”