EQUIPA DA ADF
Dr. John Nkengasong, director cessante do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC), fala sobre as lições aprendidas da pandemia da COVID-19 durante o seu tempo como líder da agência.
Nkengasong, o primeiro director do Africa CDC, lidou com várias crises de saúde no continente, incluindo surtos de Ébola e da febre Lassa, mas ele disse ao jornal The Guardian que quando a COVID-19 eclodiu, ele tinha previsto que a pandemia seria “a maior dificuldade geopolítica que o continente enfrentaria.”
Criado em 2017, o Africa CDC foi elogiado por fortalecer os sistemas de saúde e responder a surtos de doença, incluindo a malária, tuberculose e cólera. Nkengasong descreveu os seus cinco anos como director do Africa CDC como estando a “sair de um fogo para o outro.”
No mandato de Nkengasong, o Africa CDC criou a Força-Tarefa Africana para o Coronavírus, que se reúne com o Gabinete dos Chefes de Estado e de Governo da Assembleia da União Africana para analisar a resposta do continente à pandemia.
Através desta coordenação, África estabeleceu várias iniciativas para combater a COVID-19, incluindo a Parceria para Aceleração dos Testes da COVID-19 em África, que ajudou a garantir diagnósticos, e a Plataforma de Fornecimento de Materiais Médicos de África, que ajudou a adquirir materiais médicos importados.
Embora as infecções e as mortes pela COVID-19 tenham reduzido em África, Nkengasong alertou que o continente ainda está numa “fase perigosa” da pandemia, uma vez que as atitudes negligentes em relação à prevenção e o surgimento de novas variantes podem rapidamente mudar a sua trajectória.
Nkengasong reconheceu que o Africa CDC trabalha com recursos relativamente modestos e irá operar de forma mais eficaz com maior autonomia. Em Fevereiro, a Assembleia da UA elevou o estatuto do Africa CDC para uma agência de saúde independente do continente. Anteriormente operava como um braço técnico da UA.
“O CDC nunca teve o luxo de estar sentado de forma quieta e construir,” disse Nkengasong ao The Guardian. “Por vezes, é possível ter períodos para capacitação, estabelecimento de sistemas, depois outras vezes deve-se capacitar através de uma crise.”
Nkengasong disse que está ansioso por um tempo em que os países africanos não terão de depender de outros países para a obtenção de medicamentos, materiais e equipamentos médicos.
“Nunca mais devemos ter de continuar a contar com externalidades para cuidar das nossas necessidades de segurança,” disse Nkengasong ao The Guardian. “Um caminho fundamental para a segurança global colectiva é uma África que seja auto-suficiente.”
Para alcançar esse objectivo, os especialistas afirmam que devem ser feitos mais investimentos nas infra-estruturas de prestação de cuidados de saúde em África. A Internacional Finance Corporation (IFC) estimou que 25 a 30 biliões de dólares em novos investimentos serão necessários nas próximas décadas para abordar as exigências de prestação de cuidados de saúde do continente.
“Esta é uma oportunidade para aumentar o acesso à prestação de cuidados de saúde para milhares de africanos,” Lars Thunell, vice-presidente executivo e PCA do IFC, disse num artigo da página da internet do IFC. “Se pudermos envolver todos os actores fundamentais — governos, doadores, investidores e fornecedores — para alavancar o sector de saúde privada e integrá-lo de forma eficaz com os sistemas públicos, podemos também melhorar grandemente a qualidade da prestação de cuidados.”
Nkengasong expressou um ponto de vista semelhante durante uma entrevista, em 2021, com a plataforma de comunicação social Devex. Descrevendo o continente como um “ambiente com recursos limitados,” ele disse que África deve “encontrar formas inovadoras de gerar financiamento doméstico” para melhorar os seus sistemas de saúde.
“Como continente, não podemos continuar a depender de financiamentos externos para apoiar os nossos sistemas de saúde resilientes,” disse Nkengasong à Devex.