EQUIPA DA ADF
Um novo curso de pós-graduação na África do Sul foi concebido para dar aos profissionais da segurança os conhecimentos especializados necessários para responder a algumas das ameaças mais urgentes do continente.
O Instituto de Estudos de Segurança (ISS), sediado em Pretória, estabeleceu uma parceria com a North-West University (NWU), a segunda maior universidade da África do Sul, para criar o currículo do curso de um ano em geopolítica, com ênfase no combate ao terrorismo e no crime organizado transnacional. Prevê-se que o curso seja oferecido em 2025 e, sendo um curso totalmente online, estará aberto a profissionais de segurança de todo o continente africano.
O Professor Barend Prinsloo, líder do programa da NWU em matéria de segurança internacional e nacional, disse que a ideia do projecto remonta a 2017. Ele considerou que existe um problema de abordagens “em silos” para lidar com o terrorismo na África do Sul e uma incapacidade de chegar a acordo sobre a forma de definir a ameaça. Espera que o novo curso reúna profissionais da polícia, das forças armadas, dos serviços de informação, da justiça e de outras áreas para colmatar essa lacuna.
“Vemos o caos e a falta de integração e queremos resolver isso,” disse Prinsloo à ADF. “E também queremos ver algumas abordagens e entendimentos comuns de certos conceitos como ‘O que é terrorismo?’ e ‘Como é que o definem?’… Precisamos de ter um entendimento comum e penso que isto irá contribuir muito para isso.”
Willem Els é um antigo comandante de uma unidade de explosivos no Serviço de Polícia da África do Sul. Entrou para o ISS em 2013 e é agora o coordenador sénior de formação no programa ENACT sobre crime organizado no instituto. Na sua função actual, ajuda a formar polícias, procuradores e outras pessoas em todo o continente.
Els disse que é vital que estes profissionais de segurança aprendam a identificar os sinais de terrorismo e saibam como reagir quando os vêem.
“O terrorismo não é um fenómeno como um assalto à mão armada ou um homicídio que acontece todos os dias ou de dois em dois dias, em que eles adquirem essa capacidade e a desenvolvem através da repetição,” disse Els à ADF. “É algo que, talvez uma ou duas vezes por ano, algumas pessoas irão investigar e, por isso, este projecto visa prepará-las para isso.”
Els afirmou que a necessidade de uma compreensão mais profunda do terrorismo é evidenciada pela actual insurgência em Moçambique, que exigiu uma intervenção dos países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral. Uma compreensão mais clara por parte dos profissionais de segurança dos sinais de alerta precoce e do alcance global da insurgência podia ter ajudado.
“Inicialmente, as pessoas argumentavam que se tratava de uma insurgência muito localizada, baseada em queixas e dinâmicas locais,” disse Els. “Mas, de repente, começaram a prender pessoas do Sudão, do Ruanda, do Quénia e da Somália, da África do Sul e do Uganda e a traficar desses países para a Tanzânia. Continuam a prender pessoas de toda a África que vêm juntar-se à insurgência.”
Els disse que é evidente que os terroristas beneficiam de abordagens divergentes do problema e da falta de cooperação entre agências e para além das fronteiras.
“A vossa fronteira internacional, para o insurgente ou para o terrorista, é apenas um rio a atravessar,” disse. “Mas para nós, das forças da ordem, das forças armadas ou dos serviços secretos, vocês têm os vossos limites e nós temos as nossas restrições a trabalhar dentro das regiões e é nisso que nos queremos concentrar.”
À medida que o curso for evoluindo, Els gostaria de ver uma ênfase nas investigações de terrorismo “conduzidas pelo Ministério Público” para aumentar a probabilidade de condenações. Muitas vezes, coisas como a recolha de provas do campo de batalha para ajudar a acusação são negligenciadas no rescaldo de um ataque terrorista. Ele salientou ainda a necessidade de uma compreensão mais profunda do financiamento do terrorismo e da melhor forma de combater os fluxos ilícitos de dinheiro.
O ISS conta com uma vasta lista de especialistas em combate ao terrorismo e a NWU planeia trazer profissionais da área para partilhar conhecimentos no terreno. O ISS também ajudou a criar um manual antiterrorismo que é utilizado pela polícia em todo o continente.
Para além do curso de um ano, a NWU espera oferecer programas mais curtos sobre temas como o sistema judicial sul-africano, o crime cibernético, a corrupção na função pública e o branqueamento de capitais.
Prinsloo afirmou que o projecto surgiu de uma paixão de longa data partilhada por ele e por Els. Ambos acreditam que uma melhor compreensão do contexto mais alargado que permite o desenvolvimento do terrorismo ajudará os profissionais da segurança a impedir os ataques e a desmantelar os grupos extremistas.
“É uma verdadeira lacuna que estamos a tentar preencher,” afirmou Prinsloo. “Willem e eu percorremos um longo caminho nesta matéria e podíamos ter parado com isto há muito tempo, mas sentimos realmente que podemos fazer a diferença.”