EQUIPA DA ADF
Num esforço contínuo para compreender a condição conhecida como COVID longa, um novo estudo coloca uma parte da culpa nos efeitos de partículas fundamentais do vírus que podem permanecer no organismo muito tempo depois de a infecção primária ter passado.
O estudo, publicado na revista Clinical Infectious Diseases, encontrou provas de que alguns sistemas imunológicos de pessoas que padecem de COVID longa ainda estavam a lutar contra as proteínas spike que o vírus utiliza para invadir as células até cerca de um ano depois da infecção original.
De acordo com os dados existentes, cerca de um quarto de pessoas que se recuperam de COVID-19 desenvolvem sintomas ligados à COVID longa. A COVID longa ainda não foi definida em termos médicos, mas aparentemente envolve um conjunto de 200 sintomas diferentes em vários órgãos do corpo.
A COVID longa está ligada a problemas cardíacos e dificuldades de respiração. Ela está associada a coágulos de sangue microscópicos que circulam no organismo. Algumas pesquisas observaram sintomas semelhantes a doenças auto-imunes. Mas os sintomas mais comuns da COVID longa são fadiga e dificuldade de pensar com clareza — uma condição conhecida como “nevoeiro cerebral.”
“Não existem sintomas que são realmente específicos da COVID longa, mas ela possui certas características que variam,” Olivier Robineau, coordenador da COVID longa, na agência de pesquisa de Doenças Contagiosas Emergentes da França, disse à AFP. “A fadiga continua no fundo.”
Os investigadores de Boston compararam as amostras de sangue de um grupo de pacientes que se tinha recuperado da COVID-19, maior parte dos quais estavam com sintomas da COVID longa. Destes, aproximadamente 81% eram do sexo feminino, uma indicação, afirmam os investigadores, do grau em que a COVID longa difere em termos de género.
Os investigadores analisaram três conjuntos de anticorpos que o organismo produz em resposta a uma infecção pela COVID-19: anticorpos contra a totalidade da proteína spike, anticorpos contra parte de uma proteína spike e anticorpos contra nucleótidos — o material genético que se encontra dentro do vírus.
Os níveis de anticorpos nucleótidos geralmente são utilizados para determinar se alguém se recuperou de uma infecção. Contudo, a nova pesquisa sugere que esta abordagem pode ter uma orientação errónea.
Em 60% de casos de COVID longa, os investigadores encontraram anticorpos nas proteínas spike do vírus. Nenhum desses anticorpos foi encontrado em amostras de sangue de pessoas com sintomas de COVID longa.
Vários estudos demonstram que quanto mais grave é a infecção inicial, maior é a probabilidade de os pacientes desenvolverem a COVID longa e de apresentarem sintomas rapidamente após a recuperação da infecção primária.
Para muitos pacientes de COVID longa, os níveis de anticorpos spike continuam elevados durante vários meses depois da sua infecção.
Mais de 70% dos pacientes com elevados níveis de proteína spike após a recuperação também se queixaram de sintomas persistentes de COVID longa, como problemas cardíacos, problemas do tracto respiratório superior e dores musculares. Quanto maior o número de sistemas do organismo envolvidos na COVID longa, maior é a possibilidade de que o paciente teste positivo para a proteína spike que persiste no seu sangue.
Os órgãos que experimentam sintomas de COVID longa podem indicar onde as proteínas spike estão a esconder-se no organismo e a causar inflamação, de acordo com o estudo.
A equipa de pesquisa sugere que testar os pacientes para determinar as proteínas spike da COVID-19 que circulam no sangue será uma forma de saber se alguém está a padecer de COVID longa.
“Embora o tamanho da nossa amostra seja pequeno, a detecção da [proteína] spike em vários pontos 2 a 12 meses depois da infecção é convincente,” afirmam os investigadores. Eles acrescentaram que “A presença da [proteína] spike existente apoia a hipótese de que um reservatório de vírus activo persiste no organismo.”