EQUIPA DA ADF
Semanas ou meses depois de recuperarem da COVID-19, cerca de um quarto daqueles que são infectados continuam a lutar contra uma grande variedade de sintomas. Esta doença persistente que ficou conhecida como COVID longa inclui sintomas como fadiga, dores corporais, problemas circulatórios e “névoa cerebral.”
A causa exacta da COVID longa continua a ser um mistério, assim como o tratamento adequado. Os cientistas concluíram que a COVID longa pode estar associada a coágulos de sangue microscópicos e que partilha as mesmas características dos transtornos auto-imunes como a lúpus.
Um novo estudo examinou o sangue de pacientes de COVID e encontrou duas potenciais causas: baixos níveis de cortisol e a reactivação de um vírus comum que persiste na corrente sanguínea dos pacientes.
O cortisol é conhecido como o hormônio do estresse no organismo. Ele regula o açúcar na corrente sanguínea e é activado quando um impulso para “lutar ou fugir” entra em acção. O cortisol também ajuda a regular a pressão sanguínea e reduz a inflamação.
Os baixos níveis de cortisol foram o indicador mais comum da COVID longa, de acordo com o estudo. Nos pacientes de COVID longa, os níveis de cortisol são cerca de metade dos níveis de pessoas não afectadas.
Os níveis de cortisol extremamente baixos sugerem que algo esteja a funcionar mal na interacção das glândulas pituitárias, hipotálamos e as glândulas supra-renais que controlam o cortisol, comunicaram os investigadores.
Os pacientes de COVID longa no estudo também apresentaram elevados níveis de células T exaustas, a vanguarda do sistema imunológico que responde primeiro a uma infecção. Muitos pacientes de COVID longa também possuem células B hiperactivas, que combatem qualquer coisa que escapa das células T.
“Os organismos de pessoas com COVID longa encontram-se activamente a combater algo,” David Putrino, um neuro-fisiologista da Escola de Medicina de Icahn, na cidade de Nova Iorque, disse à revista Science. Putrino esteve entre os investigadores que contribuíram para o novo estudo.
Uma luta contínua contra uma infecção desconhecida seria responsável por inflamação e outros sintomas ligados à COVID longa, disse Putrino.
Os investigadores pensam que eles podem ter identificado aquilo que alguns organismos de pacientes de COVID longa combatem: a reactivação do vírus Epstein-Barr que persiste nos seus organismos. O Epstein-Barr encontra-se entre os vírus mais comuns do mundo. Aproximadamente 90% dos adultos transportam anticorpos para este vírus, maior parte deles tendo contraído o vírus na infância. O Epstein-Barr causa a mononucleose contagiosa, também conhecida como “mono” ou “a doença do beijo,” porque se propaga através da saliva.
Em estágios mais avançados da vida, o Epstein-Barr é associado a transtornos auto-imunes como a esclerose múltipla e a lúpus, assim como várias formas de cancro, incluindo o linfoma de Burkitt, que é comum na África Equatorial.
Por causa destas ligações, Putrino e o seu parceiro de pesquisa, Akiko Iwasaki, recomendam que se procure por terapias para a COVID longa que se centram em ajudar a suplementar a produção de cortisol no organismo, utilizando tratamentos auto-imunes para acalmar o sistema imunológico e tratar as infecções do Epstein-Barr nos pacientes. Um potencial tratamento é o medicamento antiviral Paxlovid, que está a ser utilizado para tratar COVID-19 grave ou casos de pacientes de alto risco.
“Devíamos estar a experimentar estes medicamentos neste momento,” disse Iwasaki à Science. “Como um cientista básico, claro, eu gostaria de ter todas as peças do quebra-cabeças. Mas os pacientes não podem esperar.”