EQUIPA DA ADF
As novas estirpes da COVID-19 continuam a ser particularmente perigosas para pessoas que vivem com o HIV, comunicou a Organização Mundial de Saúde.
Quando a variante Ómicron se tornava a estirpe predominante a nível global, as pessoas com HIV positivo não experimentavam o mesmo declínio no número de mortes relacionadas com a COVID, como ocorreu com pessoas que não têm HIV. Estas conclusões, comunicadas pela OMS, baseiam-se na informação partilhada na Conferência Internacional da AIDS Society sobre Ciências do HIV, deste ano. Cerca de 25,7 milhões de pessoas em África estão infectadas pelo HIV.
O estudo analisou dados de 50 países. Ele centrou-se em aproximadamente 363.000 pessoas desde o início da pandemia até Maio de 2022. Cerca de 96% dos dados são provenientes de África. As pessoas com HIV apresentaram um aumento de 51% do risco de morrerem depois de terem ficado internadas num hospital com coronavírus, uma taxa ligeiramente superior à de 2021, de acordo com NAM AIDS, uma instituição de caridade que analisou o estudo.
Alguns sintomas, como febre, dificuldade de respirar, fadiga, dores de cabeça, dores no peito, perda de olfacto e dores musculares, eram mais comuns em pessoas com HIV. A tosse era menos prevalente naqueles que tinham o HIV, demonstraram os dados.
As pessoas com HIV positivo que contraíram a COVID-19 também tiveram mais condições de saúde subjacentes do que os pacientes com HIV negativo: 59% de doentes com HIV positivo tinham pelo menos uma condição de saúde subjacente, em comparação com 45% de pacientes com HIV negativo. As condições de saúde subjacentes mais comuns foram hipertensão, obesidade, tuberculose e diabete, de acordo com a NAM.
A pandemia sobrecarregou muitos sistemas de saúde do continente, causando uma interrupção significativa dos programas de tratamento e prevenção do HIV.
Os principais serviços de testagem e prevenção registaram um declínio em 13 países apoiados pelo Fundo Global de Combate ao SIDA, Tuberculose e Malária, entre 2019 e 2020; 12 desses países encontram-se em África, noticiou a revista Nature, no ano passado.
“A COVID-19 fez com que a luta contra o HIV fosse um desafio ainda maior, mas um vírus não deve vencer o outro,” Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da OMS para África, disse num comunicado de imprensa. “Devemos lidar com a COVID-19 e o HIV de forma paralela.”
Os financiamentos para o HIV também registaram um declínio durante a pandemia, visto que as instituições de caridade internacionais e nacionais e os sistemas nacionais de saúde desviaram recursos para a COVID-19.
Em resposta, alguns países africanos recorreram a esforços de monitoria dirigidos pela comunidade. Na África do Sul, por exemplo, as autoridades sanitárias entraram em parceria com a Ritshidze, um programa voltado para a melhoria da qualidade dos serviços de saúde pública para pessoas com HIV e tuberculose. A ideia por detrás da monitoria da comunidade é fornecer esforços de advocacia baseados em evidências.
Entre Agosto e Outubro de 2021, o programa recolheu aproximadamente 6.000 inquéritos de pessoas que utilizam os serviços de saúde em 18 distritos e sete províncias daquele país. Os resultados demonstraram que 20% das pessoas com HIV e tuberculose eram incapazes de aceder ao tratamento.
Os dados ajudaram África do Sul a quintuplicar os financiamentos da sua mais recente solicitação da Global Fund, comunicou a NAM.
África fez ganhos significativos na sua luta contra o HIV, de 2011 a 2021, comunicou a OMS. Naquela altura, o continente reduziu as novas infecções em até 43%, enquanto as mortes relacionadas com a SIDA baixaram em cerca de 50%.
Contudo, apenas nove países (Botswana, Cabo Verde, Quénia, Lesotho, Malawi, Nigéria, Ruanda, Uganda e Zimbabwe) encontram-se no bom caminho para o alcance da metade de eliminação de SIDA até 2025, comunicou a OMS, em Dezembro de 2021.