EQUIPA DA ADF
Quando a pandemia da COVID-19 atingiu o Malawi pela primeira vez, o país tinha apenas um laboratório e quatro funcionários de laboratório que colhiam amostras do vírus SARS-CoV-2.
“Num dia normal, eu já estava no serviço às 06:00 horas da manhã e tentava sair às 20:00 horas,” o técnico Lucious Chabuka, disse à Fundação Rockefeller. “Depois de algumas semanas, começámos a ir para outros laboratórios e a treiná-los em como testar o SARS-CoV-2.
“Quando as pessoas regressavam ao país, vindo da África do Sul, recolhíamos amostras na fronteira. Tínhamos cerca de 500 amostras clínicas entrando diariamente para serem analisadas por nós os quatro.”
De um começo humilde há dois anos, o continente viu uma expansão rápida da vigilância genómica, através de uma rede de colaboração científica de longo alcance. Isso levou a um grande aumento no número de sequências geradas, de acordo com um novo estudo.
“O enorme salto que África deu na vigilância genómica durante os últimos dois anos é o aspecto positivo da pandemia da COVID-19,” directora regional da OMS para África, Dra. Matshidiso Moeti, referiu num comunicado.
“O continente agora está mais bem preparado para enfrentar agentes patogénicos antigos e emergentes. Este é um modelo de como, quando os africanos estão no comando das operações, podemos ter uma mudança duradoura e combater doenças perigosas.”
A rede de vigilância da COVID-19 de África forneceu um alerta antecipado da variante Ómicron para o mundo, e isso permitiu que os cientistas e as autoridades de saúde pública ilustrassem a entrada e a propagação de variantes pelo continente em tempo real.
O estudo, intitulado “A evolução da epidemia do SARS-CoV-2 em África: Conhecimentos obtidos a partir da vigilância genómica em rápida expansão,” foi publicado no dia 15 de Setembro, na revista Science.
Com mais de 300 autores, foi o maior grupo de cientistas e de instituições de saúde pública africanos a trabalharem em conjunto para apoiar a resposta à COVID-19 orientada por dados, em África.
Eles colaboraram para analisar mais de 100.000 genomas.
O estudo foi dirigido por dois laboratórios que criaram a rede de vigilância genómica na África do Sul: o Centro Para Resposta Epidémica e Inovação (CERI), na Universidade de Stellenbosch, e a Plataforma de Pesquisa e Inovação de Sequenciamento de KwaZulu Natal (KRISP), na Universidade de KwaZulu-Natal, ambos na África do Sul.
A rede coordenou com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa ACDC), a OMS e 300 instituições de todo o continente.
A autora principal, Houriiyah Tegally, uma especialista em bioinformática na KRISP e no CERI, acredita que a rede pode ser um modelo de como os cientistas e as autoridades de saúde pública podem colaborar a partir de grandes distâncias para lutar contra doenças contagiosas no futuro.
“Foi uma experiência inspiradora poder partilhar conhecimento, apoiar e aprender de colegas de todas as partes do continente, de forma contínua, durante a pandemia,” disse ela.
“Vimos países pequenos, sem experiência anterior em matéria de genómica a serem capacitados em termos de métodos de sequenciamento e bioinformática e a começarem a participar activamente na vigilância genómica de patogénicos regulares do SARS-CoV-2.”
No dia 12 de Outubro de 2020, um grupo de organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos dirigidas pelo Africa CDC lançaram uma parceria, com duração de quatro anos, avaliada em 100 milhões de dólares, chamada Iniciativa Africana de Genómica de Patogénicos.
A mesma visa expandir o acesso às mais recentes ferramentas de sequenciamento de genomas e experiência para fortalecer a vigilância de saúde pública e as redes de laboratórios pelo continente.
O sequenciamento de mais de 100.000 genomas virais é uma realização substancial, tendo em conta o período.
Até finais de 2020, a rede já tinha feito o sequenciamento de 4.000 genomas. O antigo director do Africa CDC, Dr. John Nkengasong, disse que a meta de África é contribuir com 50.000 sequências genómicas para a base de dados global, até finais de 2021.
Dr. Yanew Kebede, do Africa CDC, disse que é necessário que haja um investimento contínuo nesta arena para que África lidere a luta contra “ameaças de doenças contagiosas endémicas emergentes e re-emergentes, como Ébola, HIV/SIDA, TB e Malária.”
“Estes investimentos são de crucial importância para a preparação e resposta à pandemia e irão servir à saúde do continente por um bom período no século XXI,” disse.