EQUIPA DA ADF
No ano passado, Margaret Ilomuanya foi incapaz de encontrar os medicamentos para a hipertensão da sua tia, em Lagos, a maior cidade da Nigéria, por aproximadamente três meses.
A sua experiência era comum em África, onde todos os países sofreram algum grau de interrupção na cadeia de fornecimento de suprimentos médicos devido à pandemia da COVID-19.
Os confinamentos obrigatórios, os encerramentos de fronteiras e as restrições de viagens pelo mundo inteiro colocaram uma pressão significativa sobre o fornecimento de medicamentos essenciais em África. A pandemia também levou ao aumento dos preços de medicamentos, máscaras, desinfectante para as mãos, equipamento de protecção individual, entre outros.
Ilomuanya, professora sénior do Departamento de Farmacêuticos e Tecnologia de Farmacêuticos, da Universidade de Lagos, quer ver uma solução para a raiz do problema — uma falta de fabrico de medicamentos no continente.
“África deve começar a produzir medicamentos para África, com matéria-prima produzida em África,” disse ela num artigo da página da internet da International Finance Corp. “Existe um grande risco em confiar na elaborada cadeia de fornecimento global em que o fornecimento de muitos medicamentos essenciais e críticos depende de fornecimentos do estrangeiro.
“Temos os meios para construir a indústria farmacêutica local e temos as mãos. Podemos levá-la desde o laboratório até à cama dos doentes.”
Uma das muitas vulnerabilidades sistemáticas que a pandemia da COVID-19 expôs em África foi a confiança exagerada em medicamentos e suprimentos médicos importados.
Em 2020, havia aproximadamente 600 produtores africanos de medicamentos em África, de acordo com a empresa de prestação de serviços financeiros, Fitch Solutions. Destes produtores, 80% estavam sediados em oito países — África do Sul, Argélia, Egipto, Gana, Marrocos, Nigéria, Quénia e Tunísia.
Quatro países tinham mais de 50 produtores, enquanto 22 países não tinham qualquer produção local.
É uma lição aprendida dolorosa que os líderes internacionais, como Li Yong, director-geral da Organização das Nações Unidas Para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI), dizem que irá incitar mudanças de grande importância.
“A experiência de 2020 destacou a vulnerabilidade de África para o fornecimento de vacinas,” disse durante uma reunião virtual da ONU. “Destacou a necessidade de maior auto-suficiência na produção de medicamentos, diagnósticos e outros produtos de saúde essenciais.
“Fortalecer as indústrias de saúde em África foi um objectivo há muito estabelecido e já foram feitos progressos substanciais.”
Cerca de 94% das necessidades medicinais e de farmacêuticos de África enfrentam importações a custos de 16 bilhões de dólares por ano, de acordo com estimativas da Comissão Económica da ONU para África.
No passado, o continente não tinha o poder de negociação das outras regiões. Isso está a mudar.
Em resposta à pandemia, a União Africana criou, em Junho de 2020, a Plataforma Africana de Fornecimento de Material Médico, um sistema digital central que ajuda a consolidar a aquisição de suprimentos médicos.
Este ano, a Zona de Comércio Livre Continental Africana foi lançada com o objectivo de unir o continente como um único mercado económico — o maior do mundo — e que serve mais de 1,3 bilhões de pessoas.
Dr. Janet Byaruhanga, oficial sénior de programas para a área de saúde pública, na Agência de Desenvolvimento da União Africana, espera que a zona de comércio livre reforce o retardado sector de fabrico de medicamentos.
“Um mecanismo de compras em grupo irá encorajar produtores de fármacos genéricos da liderança a nível global a construírem as suas instalações em África ou a entrarem em parceria com empresas africanas de produção de medicamentos para fabricarem produtos genéricos,” escreveu ela na página da internet da ONU.
O Banco Africano de Desenvolvimento está a desenvolver a visão 2030 para a indústria de fármacos de África, de acordo com a Secretária-Geral Adjunta da ONU, Amina J. Mohammed.
“A Zona de Comércio Livre Continental Africana abre novas oportunidades e cria um mercado de fármacos de 250 bilhões de dólares com um potencial para crescer ainda mais,” disse durante o encontro de Setembro. “Vamos utilizar o ritmo destas iniciativas para impulsionar a produção de medicamentos acessíveis e de alta qualidade para África.
“Respondendo à pandemia, África também possui o ímpeto de preparar-se para a próxima pandemia através das lições e oportunidades de hoje.”