EQUIPA DA ADF
No Parque Nacional W, do Benin, os terroristas mataram pelo menos sete elementos das forças de segurança beninenses e cinco guardas-florestais que trabalhavam para uma organização sem fins lucrativos.
Nenhum grupo terrorista reivindicou a responsabilidade pelo ataque de 28 de Julho, perto das fronteiras do Benin com o Burquina Faso e o Níger, mas organizações ligadas à al-Qaeda e ao grupo Estado Islâmico operam no parque e na região.
No dia 20 de Julho, a organização Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), afiliada à al-Qaeda, atacou um quartel do exército no norte do Togo, perto da fronteira com o Burquina Faso, matando seis pessoas e apoderando-se de armas. Na altura, a JNIM também reivindicou a responsabilidade por ataques a oito operações militares no Burquina Faso, Mali e Níger, afirmando ter matado mais de 22 soldados em quatro dias.
Estes ataques confirmam os receios dos analistas que há anos alertam para a propagação do extremismo violento da região do Sahel para a África Ocidental.
De acordo com um relatório de Julho, do Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), o número anual de acontecimentos violentos ligados a grupos militantes do Sahel dentro e num raio de 50 quilómetros dos países costeiros da África Ocidental aumentou mais de 250% nos últimos dois anos, com mais de 450 incidentes.
O Benin foi a nação da África Ocidental mais afectada pela violência. O número de vítimas mortais relacionadas com a violência islamista no Benin duplicou para 173 no ano passado, informou o ACSS. A percentagem de aumento de vítimas mortais foi semelhante no Togo, que registou 69 mortes.
Igor Kassah, um padre do norte do Benin, disse à The Associated Press (AP) que respondeu a telefonemas ameaçadores e que foram afixados cartazes de extremistas islâmicos nas portas da sua igreja, exigindo que as pessoas saíssem.
“Já não temos uma vida normal,” disse Kassah no final de 2022, ano em que os ataques no Benin se estenderam a zonas mais povoadas, empurrando os militares beninenses da fronteira norte. “É difícil falar e agir com confiança, porque já não sabemos quem está à nossa frente.”
A insegurança na África Ocidental costeira tem sido particularmente acentuada nas regiões fronteiriças e nas zonas de protecção conjunta, como o complexo de parques W-Arly-Pendjari, ou WAP, segundo o ACSS.
O complexo inclui territórios de Benin, Burquina Faso e Níger, e fica perto do Gana, Nigéria e Togo. A sua localização transfronteiriça coloca um complexo desafio de segurança regional que também afecta a Costa do Marfim, o Gana, a Guiné, a Mauritânia e o Senegal.
Especialistas regionais afirmam que os Estados costeiros da África Ocidental e a comunidade internacional não aprenderam o suficiente com a crise do Sahel sobre como lidar com a insegurança.
“Há uma oportunidade para os países do litoral escolherem um caminho diferente para enfrentar a crise, concentrando-se nos factores de violência e no que empurra as pessoas para estes grupos armados, tais como queixas não resolvidas, marginalização social e má governação dos recursos naturais,” Laura Sanders, fundadora da Cetus Global, uma empresa de consultoria sediada no Benin, que se concentra na prevenção de conflitos na África Ocidental, disse à AP.
Daniel Eizenga, insvestigador do ACSS, e Amandine Gnanguênon, investigadora sénior e chefe do programa de geopolítica do Africa Policy Research Institute, apelaram aos países da costa ocidental africana para formularem uma estratégia a vários níveis e uma abordagem institucionalizada para melhorar as respostas locais, nacionais e regionais ao extremismo violento.
No relatório de Julho do ACSS, argumentaram que os líderes das comunidades locais e as agências governamentais das zonas fronteiriças devem dar prioridade ao reforço da capacidade de resistência das comunidades e ao desenvolvimento de acções específicas para limitar as oportunidades de crescimento do extremismo violento. Isso pode reduzir a possibilidade de os governos exacerbarem inadvertidamente as queixas.
Os governos nacionais podem apoiar esses esforços com iniciativas para proteger e apoiar os interesses regionais.
Eizenga e Gnanguênon destacaram a Iniciativa de Acra como mais um nível de apoio aos esforços nacionais. A iniciativa, criada em 2017 por Benin, Burquina Faso, Costa do Marfim, Gana e Togo, centra-se na formação militar, nas operações militares transfronteiriças e na partilha de dados e informações.
No final de 2022, a iniciativa concordou em reunir uma força militar multinacional para ajudar a travar a propagação do extremismo violento na África Ocidental.
No final de Maio, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em parceria com o Centro Internacional de Formação para a Manutenção da Paz Kofi Annan (KAIPTC) no Gana e com o financiamento do governo japonês, lançou um projecto destinado a reforçar as capacidades da iniciativa e a promover a sua implementação.
“Perante a ameaça do extremismo violento, a colaboração com todas as partes interessadas é a melhor forma de prevenir o extremismo violento e de promover a paz na nossa sub-região,” Patience Agyare-Kwabi, directora do Instituto da Mulher, Juventude, Paz e Segurança do KAIPTC, disse num relatório do PNUD.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) acrescenta um outro nível de apoio internacional, facilitando a partilha de políticas e de informações em toda a região e pode também prestar assistência financeira e de outro tipo aos países da linha da frente. Pode enviar uma força de reserva, se necessário, e facilitar a coordenação política com a União Africana.
“Esta arquitectura estratificada proporciona a destreza institucional para aumentar a escala e explorar uma maior amplitude de recursos e competências do que seria possível a um só nível,” escreveram
Eizenga e Gnanguênon.