EQUIPA DA ADF
Dentro da sua loja no norte da Costa do Marfim, o alfaiate de 25 anos de idade, Bassina Konate, demonstra a sua experiência com as ferramentas da sua actividade — uma máquina de costurar, tesoura, tecido e fita métrica.
O seu local de comércio, na cidade de Kong, está aberto todos os dias apesar da falta de clientes.
Apresentando um comportamento calmo e estóico, Konate expressa a sua frustração em relação aos problemas ligados ao aumento do desemprego e à resposta do seu país em relação a ameaça de terrorismo que se aproxima ao sul, a partir do Sahel.
Kong situa-se a menos de 100 quilómetros da fronteira com o Burquina Faso.
“Não há trabalho suficiente aqui,” disse ele à Voz da América. “Existem muitas pessoas que estudaram, mas logo que conseguem o seu bacharelato, saem à procura de emprego em outros lugares.
“Se o governo tivesse criado empresas e fábricas na localidade, os jovens teriam tido algo com que trabalhar e fazer dinheiro.”
Os grupos armados ligados ao Estado Islâmico e à al-Qaeda cada vez mais atravessam a fronteira para lançar ataques na Costa do Marfim, numa altura em que o extremismo islâmico procura expandir-se em direcção ao Golfo da Guiné a partir das suas fortalezas no Mali e no Burquina Faso.
As autoridades costa-marfinenses registaram 13 ataques transfronteiriços em 2021, que motivaram o aumento da militarização no norte e aumentaram as preocupações do governo quanto aos militantes que recrutam jovens desempregados.
Em Janeiro de 2022, a Costa do Marfim anunciou um programa de criação de empregos avaliado em 55 milhões de dólares no norte.
Como um conselheiro técnico no Ministério da Juventude e Emprego, Frederick Kabran, faz a supervisão da Agência de Emprego da Juventude, que tem a responsabilidade de criar competências, desenvolver iniciativas de emprego e apoiar o auto-emprego.
“O governo analisou a situação e compreendeu que era necessário fornecer uma resposta económica, uma resposta social a este fenómeno,” disse à Voz da América. “Não se pode apenas vir com tanques blindados. Não se pode apenas vir com força militar apenas para lutar contra o terrorismo.”
O Primeiro-Ministro, Patrick Achi, disse que o programa de empregos é fundamental para garantir a segurança do norte.
“Existem investimentos em curso no norte para construir mais escolas, hospitais e indústrias e para ocupar os nossos jovens e mantê-los distantes dos apelos de terroristas,” disse ele à imprensa, em finais de 2021.
Ao mesmo tempo, o governo continua a priorizar a sua resposta militar. Em 2021, o presidente Alassane Ouattara prometeu despender 1% do PIB daquele país em equipamento para prevenir que os terroristas entrem no país.
As unidades de comando do norte foram restruturadas, passando a ser uma única entidade, as forças policiais e de segurança tiveram o apoio de novas aeronaves para vigilância de fronteiras e foi anunciado o recrutamento de 3.000 soldados adicionais para a missão do norte no final de Abril de 2022.
O exército costa-marfinense identificou o Parque Nacional de Comoé, ao longo da fronteira com o Burquina Faso, como uma área de risco de surgimento de militantes, levando a Costa do Marfim a lançar uma nova estratégia de gestão e de garantia de segurança do parque no dia 24 de Março de 2022, com vista a criar e a expandir as áreas protegidas.
Achi também falou sobre um investimento de mais de 430 milhões de dólares para a criação de um porto seco e um centro integrado agro-industrial na cidade de Ferkessedougo, próximo da fronteira norte.
Os projectos fazem parte de uma série de investimentos feitos em 2022 para expandir a produção de algodão e da castanha-de-caju, disse.
Ouattara clarificou a sua dupla intenção para a segurança e medidas económicas no norte na sua comunicação sobre o Estado da Nação, no dia 19 de Abril de 2022.
“O governo não irá poupar esforços para garantir a segurança da população e dos bens e irá continuar a disponibilizar meios para as agências da lei, particularmente em termos de inteligência, equipamentos e formação,” disse.