EQUIPA DA ADF
Com o aumento da procura de electricidade, os países africanos estão a explorar o potencial da energia nuclear — uma perspectiva que levou a apelos para uma melhor formação destinada a salvaguardar os materiais nucleares contra potenciais ameaças terroristas.
A África do Sul é o único país do continente com uma central nuclear em funcionamento, que planeia expandir em 2024. Argélia, Gana e Marrocos operam reactores de investigação capazes de gerar pequenas quantidades de material radioactivo. Egipto, Marrocos e Uganda estão a trabalhar activamente em acordos para desenvolver os seus próprios programas de energia nuclear e poderão ter reactores em funcionamento em menos de uma década, de acordo com o grupo de defesa Energy for Growth.
“Os Estados africanos encontram-se em fases diferentes no que diz respeito às utilizações pacíficas da energia nuclear e muitos deles necessitam de desenvolver capacidades para manter sistemas estatais de contabilidade e controlo de materiais nucleares e para implementar eficazmente as salvaguardas da AIEA [Agência Internacional de Energia Atómica],” Enobot Agboraw, secretário-executivo da Comissão Africana de Energia Nuclear (AFCONE), disse num comunicado divulgado pela STUK, a autoridade finlandesa para a segurança nuclear e radiológica.
A STUK está a trabalhar com a AFCONE para lançar um projecto de cinco anos para reforçar a capacidade das nações africanas de protegerem o material nuclear. A Autoridade Reguladora Nuclear do Quénia (KNRA) acolheu recentemente uma conferência com 29 membros, concebida de forma semelhante para ajudar os países a criar programas sólidos de segurança nuclear. Uma conferência anterior, realizada em Julho de 2023, contou com participantes de 22 países africanos.
Os países africanos estão a avançar com a segurança nuclear numa altura em que a tendência mundial vai na direcção oposta, de acordo com um relatório da Iniciativa contra a Ameaça Nuclear (NTI).
“Muitos destes países e regiões negligenciaram a sua obrigação de melhorar a segurança de alguns dos materiais e instalações mais sensíveis do mundo, numa altura em que os ambientes de risco estão a tornar-se cada vez mais perigosos e imprevisíveis,” escreveram os analistas da NTI no seu relatório, que analisou a dedicação das nações à protecção dos materiais e instalações nucleares contra o roubo e a sabotagem.
A África do Sul ficou em 16.º lugar entre 22 países avaliados quanto à sua capacidade de assegurar material nuclear para armas. O país melhorou na classificação desde 2012, segundo a NTI.
A instabilidade política e económica, o terrorismo e os ataques cibernéticos tornam vital que os países que possuem capacidades nucleares e materiais nucleares envidem mais esforços para os proteger, escreveram os analistas da NTI.
Isso é especialmente importante, porque a quantidade de plutónio está a aumentar em resultado do reprocessamento de combustível nuclear usado pelos países. Uma bolinha de plutónio do tamanho de uma lata de refrigerante é suficiente para construir uma arma nuclear altamente destrutiva, segundo a NTI.
“Os grupos terroristas demonstraram um claro interesse em adquirir materiais nucleares e sabotar instalações nucleares, e as tecnologias perturbadoras, como os veículos aéreos não tripulados e as capacidades de ameaça híbrida, colocam novos desafios,” escreveram os analistas.
O relatório encontrou alguns sinais encorajadores: A quantidade de urânio altamente enriquecido em todo o mundo diminuiu nos últimos anos, o que significa que há menos urânio disponível para utilizações potencialmente perigosas. Além disso, o número de países que protegem os seus materiais nucleares em conformidade com os protocolos internacionais duplicou para 73, deixando 58 países sem conformidade.
Segundo os peritos, isso deixa ainda demasiado material nuclear desprotegido.
“O resultado final é que os países e as áreas com maior responsabilidade na protecção do mundo contra um acto catastrófico de terrorismo nuclear não cumprem o seu dever,” escreveram os analistas.