EQUIPA DA ADF
A decisão do Mali de retirar-se da Força-Tarefa Conjunta G5 do Sahel em Maio enviou ondas de insegurança para toda a região.
Num discurso perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas, na altura, a Secretária-Geral Assistente da ONU para África, Martha Ama Akyaa Pobee, considerou a retirada do Mali de “infeliz” e “lamentável.”
“É certamente um passo em retrocesso para o Sahel,” disse no dia 18 de Maio.
Pobee, que também questionou o futuro dos esforços de combate ao terrorismo na região, faz parte do Departamento de Assuntos Políticos e de Manutenção da Paz e Operações de Paz da ONU.
“Talvez seja o tempo de repensarmos as nossas abordagens e mudarmos a forma como fazemos o nosso trabalho,” frisou. “Precisamos de abordagens inovadoras em face a tácticas em constante evolução dos grupos terroristas, cuja influência continua a aumentar.”
Conhecido como o epicentro do terrorismo no Sahel, Mali sofreu anos de instabilidade na forma de múltiplas organizações extremistas militantes, dois golpes de Estado em nove meses e a caótica presença de mercenários russos.
O Sahel já registou uma expansão devastadora do terrorismo nos últimos anos, e os movimentos de insurgentes tornaram-se um grande problema para a maior parte da África Ocidental.
Enquanto os actores do Sahel e arredores ponderam novas abordagens para combater o terrorismo, o ressurgimento do G5 é apenas uma das opções. Muitas forças conjuntas militares bilaterais e multilaterais dirigidas por africanos estão a ganhar corpo.
- A maior parte dos países do G5, mesmo aqueles com líderes de junta militar, assinaram acordos e comprometeram-se em combater o terrorismo com cooperação bilateral militar. O Níger e o Burquina Faso realizaram a sua terceira operação conjunta em Abril chamada Taanli 3.
- Cada vez mais sob ataque nas suas províncias do norte, que fazem fronteira com o Burquina Faso, o Benin reforçou a sua resposta, que alegadamente inclui a esperada assinatura de um acordo de segurança com o Ruanda.
- Os Líderes da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental concordaram, no dia 4 de Dezembro, em criar uma força regional para intervir em situações de emergência.
Contudo, o futuro da força G5 do Sahel e da missão de manutenção da paz da ONU no Mali (MINUSMA) continua a ser o foco central.
Os Ministros e os Chefes de Estado-Maior da Defesa dos restantes países do G5 do Sahel — Burquina Faso, Chade, Mauritânia e Níger — reuniram-se em Setembro para considerarem uma “nova estratégia.”
O Ministro da Defesa do Níger, Alkassoum Indatou, disse à imprensa que o G5 do Sahel enfrenta um “problema de coesão e unidade de acção … tendo ficado prejudicado desde a retirada do Mali.”
Apelos para rever o mandato da MINUSMA aumentaram depois de a França ter retirado as suas forças e colocado um fim na sua Operação Barkhane de combate ao terrorismo.
Os especialistas, como o PCA do Grupo da Crise, Comfort Ero, dizem que a ONU precisa de desempenhar um papel de mais apoio.
“Os conflitos que envolvem grupos armados não estatais — incluindo grupos [extremistas] — serão uma fonte de instabilidade em África ainda por algum tempo,” disse. “Missões robustas e dirigidas por africanos estão melhor posicionadas para combater essas ameaças, mas elas apenas podem ser eficazes se forem equipadas de forma adequada e fiável.
“Quer gostemos ou não, a melhor forma de equipar essas missões é através e algum tipo de mecanismo da ONU.”
Desde a sua formação, em 2017, a força G5 do Sahel enfrenta dificuldades com capacidade e problemas de financiamento.
Hassane Koné, investigador sénior do Sahel, no Instituto de Estudos de Segurança, sediado na África do Sul, disse que a zona de fronteira tríplice, onde se cruzam Mali, Níger e Burquina Faso, também conhecida como Liptako-Gourma, tornou-se uma colmeia de actividades insurgentes que exigem uma resposta coordenada.
“Uma reconfiguração militar está a decorrer naquela região,” escreveu no dia 14 de Novembro. “Se o Mali tivesse de voltar a juntar-se ao G5 do Sahel, o conceito operacional revisto da força poderia dirigir o grosso do seu pessoal para a zona de Liptako-Gourma.”
O aumentando do número de mortes e deslocados em massa destaca o nível de sofrimento e emergência.
Num outro comunicado do Conselho de Segurança, do dia 16 de Novembro, Pobee enfatizou a necessidade urgente de “um avanço coordenado na nossa resposta ao extremismo violento.”
“Se fracassarmos neste esforço, os efeitos do terrorismo, extremismo violento e crime organizado serão sentidos em regiões que vão muito além do Sahel e, de facto, no continente africano.”