EQUIPA DA ADF
Na mina de ouro de Mitondo, no leste da República Democrática do Congo (RDC), é fácil saber quem está no comando: eles vestem-se de vermelho.
A mina de Mitondo, no Kivu do Sul, é oficialmente operada pelas autoridades locais e pelo governo da RDC. Mas os residentes e os trabalhadores sabem quem fica com o lucro — os Mai Mai Yakutumba, um dos muitos grupos rebeldes violentos que operam na região há décadas.
As actividades rebeldes têm sido financiadas pelo comércio ilegal de ouro retirado da terra por homens, mulheres e crianças. O ouro de Mitondo e de outras minas geralmente é contrabandeado através do Uganda e do Ruanda para os Emirados Árabes Unidos (EAU), de onde eventualmente é levado para o mercado global.
Os grupos rebeldes, como os Mai Mai Yakutumba, beneficiam-se das minas de ouro da RDC de várias formas. Obrigam os mineiros a pagarem um “imposto” em cada mês, para trabalharem debaixo do calor escaldante e em túneis de um metro de largura nas minas. Fazem incursões nas minas e comercializam o ouro directamente em troca de armas. Trabalham com contrabandistas para transportar o ouro ilícito para fora do país, onde pode ser alvo de branqueamento através do mercado internacional.
O sistema de extorsão e criminalidade dos rebeldes apoia ataques que, muitas vezes, são dirigidos contra o grupo étnico Banyamulenge. Os rebeldes dizem que o grupo Tutsi não pertence à RDC. Eles atacam e incendeiam aldeias, muitas vezes, violando e matando pessoas inocentes.
Esther Nanduhura, uma mulher Banyamulenge, sabe por experiência própria o quanto o comércio de ouro ilícito, no leste da RDC, alimenta a violência. Os rebeldes Mai Mai Yakutumba mataram o seu sogro de 80 anos de idade e feriram a sua esposa antes de tirarem Nanduhura, seu marido e seus oito filhos do esconderijo e lhes obrigado a marchar durante dias sem comida.
Nanduhura disse à dw.com que os rebeldes levaram o seu marido. Ela eventualmente ficou a saber que o seu marido tinha sido espancado até à morte com recurso a catanas.
Para Nanduhura, o mercado ilícito de ouro da RDC traduz-se numa simples equação:
“Os Mai Mai vendem ouro para os brancos para adquirirem armas — é por isso que eles vendem o ouro,” disse. “Eu quero dizer a esses brancos para pararem de comprar deles. Para que possam parar de matar-nos com essas armas.”
As empresas que comercializam o ouro proveniente da RDC devem certificar que o mesmo é livre de conflito — não é proveniente de regiões com conflitos, onde a venda financia grupos rebeldes. Contudo, os certificados são facilmente forjados e as empresas que comercializam o ouro têm poucos mecanismos para rastrear ouro de volta à sua fonte.
A lei da RDC, na verdade, proíbe a exportação do ouro proveniente de minas artesanais que não possuem certificação como sendo livre de conflito. Contudo, de acordo com a ONU, apenas 60 das aproximadamente 1.500 minas de ouro possuem a certificação de livres de conflito. Isso significa que a grande maioria dos mineradores de ouro está a trabalhar em minas que financiam o conflito e aproximadamente todo o ouro da RDC sai de forma ilegal.
As Nações Unidas estimam que 300 a 600 milhões de dólares em ouro são contrabandeados para fora da RDC anualmente. Embora algumas empresas belgas estejam envolvidas na indústria do ouro da RDC, a maior parte do ouro contrabandeado acaba sendo levado para os EAU, que importou 37 bilhões de dólares em ouro, em 2020, fazendo com que seja um dos principais actores no mercado.
Entretanto, mineiros, como Patrice Michael, têm dificuldades de sustentar as suas famílias, sabendo que o seu trabalho está a alimentar grupos rebeldes que impulsionam a violência ao seu redor.
“Eles levam o que é mais lucrativo,” disse Michael à dw.com. “Eles sabem exactamente qual mina está a produzir mais ouro, sabem até qual túnel.”