EQUIPA DA ADF
Os líderes comunitários de Babanousa, no Estado sudanês do Cordofão Ocidental, esperavam que as tréguas com as Forças Armadas do Sudão (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares impedissem que a violência que tem devastado o país consumisse a sua comunidade.
Estavam enganados.
A trégua ocorreu após um ataque dos combatentes das RSF à 22.ª Divisão de Infantaria das SAF, na semana anterior, que fez com que os residentes de Babanousa fugissem para salvar as suas vidas. No dia 30 de Novembro, um dia após a assinatura da trégua, dois obuses caíram sobre a base, ferindo um soldado das SAF.
Este é um dos muitos sinais de que os combates estão a expandir-se e a ameaçar áreas anteriormente seguras.
“O que estamos a testemunhar é que a guerra está a ganhar vida própria e a transformar-se num conflito complexo e multifacetado que envolve múltiplos factores, alastrando-se aos países vizinhos e ameaçando a estabilidade regional,” o Dr. Suliman Baldo, director-executivo do Sudan Transparency & Policy Tracker, afirmou durante um evento organizado pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
As RSF têm algum controlo sobre os cinco Estados federais que constituem o Darfur e está a avançar para zonas mais a leste, como o Cordofão.
“As hostilidades alastraram-se para novas zonas, como os Estados de Gezira, Nilo Branco e Cordofão Ocidental, colocando ainda mais civis em risco, bem como as operações humanitárias,” afirmou a Secretária-Geral Adjunta das Nações Unidas para África, a diplomata ganesa, Martha Ama Akyaa Pobee. “As partes beligerantes terão efectuado ataques indiscriminados, bem como ataques dirigidos contra civis, em aparente violação do direito humanitário internacional.”
No dia 5 de Dezembro, combatentes das RSF, liderados pelo General Hemedti, queimaram a aldeia de al-Tukma, no Estado do Cordofão do Sul, e lutaram com forças do Exército Popular de Libertação do Sudão-Norte (SPLA-N), um aliado das SAF, segundo o Sudan War Monitor.
A incursão no Cordofão do Sul seguiu-se a outros ataques que as RSF lançaram nos Estados de Gezira e Nilo Branco, para além do Cordofão Ocidental.
“Nesta situação, a guerra parece estar a expandir-se, parece estar a alimentar-se a si própria,” disse Baldo.
A batalha com os combatentes do SPLA-N foi a primeira registada durante o actual conflito, que começou em Abril, de acordo com o Sudan War Monitor. Tal como outras milícias locais, o SPLA-N adoptou até há pouco tempo uma posição neutra em relação ao conflito entre as RSF e as SAF.
O facto de as RSF continuarem a espalhar-se pelo Sudão levou outras milícias, nomeadamente o Movimento de Libertação do Sudão e o Movimento de Justiça e Igualdade, sediados no Darfur, a renunciarem à sua neutralidade e a colocarem-se do lado das SAF. Nas semanas que se seguiram a esse anúncio, as milícias do Darfur do Norte e do Cordofão do Norte juntaram-se à luta contra as RSF, de acordo com os relatórios do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED).
Por seu lado, as SAF, dirigidas pelo líder de facto do país, o General Abdel Fattah al-Burhan, continuam a controlar o corredor do Rio Nilo, bem como as zonas leste e norte do país, incluindo os portos do Mar Vermelho. O governo de al-Burhan opera, em grande parte, a partir de Port Sudan, embora alguns comandantes militares permaneçam em Cartum e Omdurman, onde os seus quartéis-generais continuam a ser cercados pelas RSF.
As SAF estão a gerir campos de treino para voluntários civis no leste e parecem estar a preparar-se para os deslocar para áreas dos Estados do Nilo Branco e al-Jazirah, a sul da capital, possivelmente para quebrar o cerco aos territórios das SAF na capital, segundo o Sudan War Monitor.
Nos últimos meses, as RSF ganharam grande parte do território, incluindo bases militares e aeródromos, à medida que as SAF recuavam. As SAF, que dependem, em grande parte, de aviões e de artilharia pesada para combater as RSF, aumentaram recentemente os ataques aéreos às posições das RSF em Cartum e noutros locais, após uma pausa.
A nordeste de Babanousa, os habitantes de El Fula relataram a ocorrência de pilhagens e de desordem até que o exército enviou tropas para a zona, permitindo que a vida voltasse ao normal. No final de Novembro, a Força Aérea bombardeou os combatentes das RSF que se reuniam perto da central eléctrica de El Fula, antes do assalto à base militar de Babanousa.
À medida que a calma regressa a Babanousa, os líderes locais apelam aos residentes que fugiram para que regressem às suas casas, porque muitos estão a viver ao ar livre, sem protecção contra as intempéries.
“Estamos a emitir apelos contínuos ao regresso, através dos altifalantes das mesquitas,” o líder de Babanousa, Khareef, disse à Rádio Dabanga.