EQUIPA DA ADF
Menos de quatro meses após o início dos combates entre os dois generais dominantes do Sudão, o país parece estar prestes a entrar numa guerra civil em grande escala, de acordo com especialistas em segurança.
“Estão a tentar não só vencer, mas também erradicar o outro, de modo a controlarem totalmente o país e os seus recursos,” o analista Kholood Khair, director fundador da Confluence Advisory, um grupo de reflexão de Cartum, disse recentemente à Al-Jazeera.
A violência começou a 15 de Abril, quando as Forças de Apoio Rápido (RSF), lideradas por um general conhecido por Hemedti, atacaram instalações importantes da capital, incluindo o complexo militar onde o General Abdel Fattah al-Burhan vivia, em Cartum. Al-Burhan é o chefe das Forças Armadas do Sudão (SAF) e é o líder de facto do país desde o golpe conjunto SAF-RSF que derrubou o ditador de longa data, Omar al-Bashir, em 2019.
Desde Abril, os combates alastraram-se para outras partes do país, com os líderes locais a declararem a sua fidelidade a um ou outro lado. Registaram-se confrontos entre o exército e as RSF, nos Estados do Cordofão do Norte, Cordofão do Sul e Nilo Azul. A liderança do Darfur do Sul declarou recentemente a sua lealdade às RSF.
Em Cartum e na vizinha Omdurman, os combates deixaram os civis sem acesso à electricidade e à água. Os bancos e os mercados de alimentos estão fechados.
“Estamos sob um cerco total — sem comida, sem medicamentos, sem nutrição. Nada,” Soha Abdulrahman, residente de Cartum, disse à Al-Jazeera.
As SAF atacaram locais em Omdurman, a cidade-irmã de Cartum, do outro lado do Rio Nilo, com o objectivo de interromper as linhas de abastecimento das RSF provenientes de Darfur e do noroeste, perto da fronteira com a Líbia.
Na região de Darfur, as RSF voltaram a atacar as comunidades não árabes, fazendo eco do genocídio ali perpetrado há quase 20 anos pela sua antecessora, a Janjaweed.
Os ataques das RSF expulsaram centenas de milhares de pessoas das suas casas, mataram o governador do Darfur Ocidental e deixaram comunidades, como a capital do Darfur Ocidental, El Geneina, em ruínas. Uma vala comum descoberta no Darfur Ocidental continha cerca de 90 corpos, provavelmente vítimas das RSF.
“Há um desrespeito absoluto pelo direito humanitário e pelos direitos humanos, o que é perigoso e perturbador,” afirmou o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, num comunicado recente.
Os dois lados estão muito próximos em termos de efectivos. As SAF dispõem de artilharia pesada e de jactos de combate, mas as RSF têm-se revelado mais ágeis e têm reivindicado mais território na capital e nos seus arredores. As RSF também tomaram posições em bairros residenciais — nalguns casos obrigando as pessoas a abandonar as suas residências — o que torna difícil para as SAF expulsá-las.
Ambos os lados pediram — e depois violaram — cessar-fogos, aproveitando as pausas para se rearmarem e recrutarem novos combatentes.
“Nenhum dos lados está disposto a fazer concessões tácticas quando pensam que podem perder terreno no campo de batalha ou que podem perder uma oportunidade de ganhar,” Alex de Waal, director-executivo da World Peace Foundation, disse à Al-Jazeera.
Os especialistas dizem que al-Burhan e Hemedti estão preparados para uma longa luta pela supremacia, mesmo quando a sua rivalidade ameaça engolir toda a nação. Os esforços para negociar o fim dos combates fracassaram, porque cada um dos lados acusa os potenciais pacificadores de favorecerem o seu rival, segundo a analista Michelle Gavin, do Council on Foreign Relations.
“Neste momento, está muito claro que os antagonistas deste conflito não querem parar. Ainda estão a disputar uma vantagem militar,” disse recentemente Gavin ao War on the Rocks. “Não há bons rapazes quando falamos dos antagonistas deste conflito.”